Jornais destacam condenação de Lula, chamando atenção para qualidade das provas contra ex-presidente e levantando questionamentos sobre as intenções políticas no combate à corrupção no Brasil.
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Die Zeit - O grande show da corrupção, 14/07/2017
Para começar falando na parte mais clara de toda esta confusão política: na verdade, este processo contra Lula foi bastante construído. (…) Há declarações incriminatórias contra ele, mas também há muita coisa que o inocenta, e sequer um único documento que mostre o ex-presidente como proprietário do apartamento reformado.
(…)
O problema é que o combate à corrupção se mistura de forma demasiadamente óbvia com intenções políticas. Lula é, apesar de seus 71 anos, o candidato de seu Partido dos Trabalhadores para as eleições presidenciais de 2018. Nas atuais pesquisas, ele se encontra claramente à frente de todos os outros candidatos, e é considerado como um excepcional talento político – e demagógico.
Este é um cenário de horror para os partidos conservadores e liberais do país, os quais depuseram a presidente Dilma Rousseff em 2016, em um sensacional jogo de intrigas políticas.
(…)
E este é o problema para a democracia brasileira: a nova frente implacável contra a corrupção, que poderia significar um grande passo adiante para a democracia no Brasil, tem sido há muito vista como um mero show político. Os apoiadores de Lula querem que o "grupo criminoso" em torno do atual presidente Temer vá para a cadeia, os conservadores querem a mesma coisa para Lula, mas não conseguem chegar a um determinador comum.
Süddeutsche Zeitung – Caçador de corruptos brasileiro pega sua maior presa, 14/07/2017
Com seus ternos sempre escuros, gravata fina e olhar ameaçador, ele poderia passar por um James Bond brasileiro. Sua ascensão ao estrelato começou quando assumiu em 2015, no Tribunal Federal de Curitiba, a Operação Lava Jato, que agora é a maior campanha anticorrupção na história do Brasil. Moro se colocou, assim, à frente de uma jovem geração de juristas que organizaram algo até então algo impensável no país: eles lançaram investigações sérias contra os empresários mais ricos e os políticos mais poderosos, Moro os condenou em série a longas penas de prisão. Assim, balançou não só um sistema bem estabelecido, mas todo o aparelho do Estado. Também porque ele ofereceu repetidamente aos condenados perdão em troca de denúncias, mantendo ativa a onda de investigações. Agora ele chegou aonde sempre quis, segundo seus críticos. No prêmio principal: o ex-presidente Lula.
A controvérsia sobre esta decisão não envolve apenas a questão da validade das provas, mas o modo de trabalho de Moro. Uma vez, ele determinou que Lula fosse levado de casa por 200 policiais para um interrogatório. A televisão estava informada. Pouco tempo depois, divulgou para a imprensa uma conversa privada grampeada entre Lula e sua sucessora, Dilma Rousseff. Isso foi constrangedor para ambos, mas fortaleceu todos aqueles que sempre haviam acusado Moro de promover uma caça às bruxas. O juiz se sentiu obrigado a ressaltar em sua sentença que a condenação de Lula não lhe traz satisfação pessoal. No máximo, metade dos brasileiros acredita nele.
Der Tagesspiegel – Golpe de Estado disfarçado, 16/07/2017
Ele quer ser julgado pelo povo, não por um tribunal, afirmou Lula a seus seguidores. Foi quando o juiz Sérgio Moro condenou o ex-presidente brasileiro a nove anos e meio de prisão, apesar das provas ralas. Assim, Moro confirmou aquilo do qual muitos o acusam há muito tempo: que ele decide menos por critérios jurídicos do que por critérios políticos. Em caso de dúvida, contra a esquerda.
No processo para Lula, entretanto, muito mais está em jogo. Porque, se a sentença de Moro for confirmada em instância superior, Lula não poderá concorrer novamente à presidência em 2018. Dessa forma, o sutil golpe de Estado da direita no Brasil estaria completo. Para ela, a reeleição de Lula no próximo ano seria um cenário de pesadelo. E o fato de o político de 71 anos estar na liderança em todas as pesquisas, como candidato de seu Partido dos Trabalhadores, faz o alarme tocar.
Só isso pode explicar o fato de o juiz Moro ter ficado tão obcecado pela condenação de Lula. O processo em questão apurou se uma empresa de construção reformou um apartamento de Lula em troca de favorecimento para obtenção de contratos para o grupo. Lula negou que fosse o dono do apartamento, e embora a questão da propriedade não tenha sido esclarecida totalmente, Moro o condenou.
Assim, Moro se tornou o super-herói da classe alta de direita no Brasil. Entretanto, super-heróis talvez sirvam para bons vingadores, mas não para bons juízes.
MD/ots
O estrago de uma delação
Somente na delação do ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht Claudio Mello Filho 39 políticos foram citados. Há ainda revelações de 78 executivos, e é por isso que são chamadas de "delações do fim do mundo".
Foto: Imago/Fotoarena
No topo do poder: Michel Temer
O nome de Michel Temer aparece 43 vezes na delação, de 82 páginas. O delator diz que o conheceu em 2005, por intermédio de Geddel Vieira Lima. Relata encontros com Temer, um deles jantar no Palácio do Jaburu com Marcelo Odebrecht, em que foi solicitada ajuda financeira de 4 milhões. Revela que Temer atuava indiretamente. Temer alega que pediu auxílio formal à construtora, quando comandava o PMDB.
Foto: Reuters/A. Machado
Eliseu Padilha, o "Primo"
O ministro da Casa Civil é apontado como coordenador "de contribuições de campanha que o PMDB recebeu da Odebrecht" em 2014. O delator o classifica como o "preposto" de Temer. "Nas vezes que me foi solicitada qualquer agenda com Michel Temer, procurava Eliseu Padilha, que viabilizava os encontros para as demandas da empresa. Sempre soube que Padilha representava a figura política de Temer", diz.
Foto: Getty Images/AFP/E.Sa
Moreira Franco, agora ministro: o "Angorá"
Moreira Franco, que Temer alçou a ministro para ter foro privilegiado, tem codinome que se refere aos cabelos grisalhos. O delator fala de encontro entre ele, Moreira e Temer, quando disse a ambos que Graça Foster, então presidente da Petrobras, queria saber quem do PMDB recebia dinheiro da Odebrecht. O ministro diz que nunca conversou com Melo Filho sobre doações.
Foto: picture alliance/AP Images/H. Ammar
Geddel Vieira Lima, o ex-ministro "Babel"
O delator diz ter sido próximo do ex-ministro e que ele "recebia
pagamentos qualificados em períodos eleitorais e não
eleitorais; e fazia isso oferecendo contrapartidas claras". Um exemplo foi a liberação de recursos do Ministério da Integração Nacional a obra de interesse da Odebrecht. Geddel foi ministro de Dilma e de Temer, mas durou pouco no cargo por conta de denúncias de corrupção. Ele nega.
Foto: Valter Campanato/Agencia Brasil
"Núcleo dominante": Jucá, Renan e Eunício
O diretor da Odebrecht disse na delação que o PMDB tinha dois núcleos de arrecadação, um no Senado e outro na Câmara. No Senado, Eunício Oliveira (na cabeceira), hoje presidente da Casa, Renan Calheiros (à esq) e Romero Jucá (à dir.) eram o trio poderoso. "Esse grupo é bastante coeso e possui enorme poder de influência sobre outros parlamentares, tanto do
partido como de outras legendas."
Foto: Marcos Brandao
Romero Jucá ou "Caju", o "homem de frente"
O delator diz que o senador , codinome Caju, era o mais procurador por "agentes privados interessados na sua atuação estratégia". Por conta desta ponte com o setor privado, diz, o gabinete de Jucá é concorrido. O delator diz ter pago 22 milhões só a Jucá, que coordenava a distribuição do dinheiro no PMDB. O senador teria articulado a aprovação de propostas de interesse da Odebrecht no Congresso.
Foto: Jose Cruz/Agencia Brasil
Renan Calheiros, o "Justiça"
Ex-presidente do Senado e ex-ministro da Justiça, é citado como peça crucial do esquema do PMDB. Em 2010, teria recebido 500 mil da Odebrecht. Logo que assumiu o Senado, Marcelo Odebrecht pediu que fosse agendada "visita de cortesia". Na ocasião, Renan disse estar afinado com pleitos da construtora. Teria pedido ajuda à campanha do filho em Alagoas (2014). O senador nega irregularidades.
Foto: Getty Images/AFP/E. Sa
Eduardo Cunha, o "Caranguejo" preso
Delator diz que se aproximou dele em 2007. O deputado teria recebido 7 milhões da Odebrecht para campanha de 2010. Seu nome constava em planilhas de executivos da empresa. Reuniões para tratar de votações e interesses da Odebrecht eram frequentes. "Ele sabia que receberia pagamentos a pretexto de contribuição de campanha." Cassado em setembro, está preso em Curitiba desde outubro de 2016.
Foto: Reuters/U. Marcelino
Rodrigo Maia, o "Botafogo"
Delator disse que Maia, hoje presidente da Câmara, era "ponto de interlocução na defesa dos interesses da Odebrecht". Diz que pediu ajuda na votação de medida provisória que interessava à empreiteira e Maia aproveitou para solicitar recursos e liquidar pendências da campanha de 2012. "Decidi contribuir com o valor aproximado de 100 mil". Em 2010, teria recebido outros 500 mil. Maia nega.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Marco Maia, em outro time: o "Gremista"
Ex-presidente da Câmara, o petista Marco Maia é identificado pelo time. Delator diz que se aproximou dele em viagem a NYC, promovida pela Braskem. Na presidência, ofereceu jantar de cortesia a Marcelo Odebrecht. Pediu contribuições quando se lançou para a presidência da Casa. "A referida solicitação foi autorizada por Marcelo Odebrecht e transmitida por mim ao referido parlamentar."
Foto: Agencia Brasil/José Cruz
Delcídio Amaral, a "Ferrari" detida
O senador, ex-líder do PT, teria se empenhado para aprovar norma de tributos que ajudaria a Odebrecht. Após a votação, reclamou da "pouca atenção" recebida. O delator relata encontro com Delcídio no Hotel Fasano, em SP, quando lhe informou que receberia 500 mil reais. Naquele mesmo dia, colegas lhe contaram que o petista "tinha ficado absolutamente satisfeito e tinha pressa no recebimento".
Foto: Reuters/U. Marcelino
Agripino, o "Gripado": comandante do DEM
Relator disse que presidente do DEM tem relação pessoal com Emílio
Odebrecht e sempre foi muito cordial com empresa. Afirmou que em 2014 Marcelo Odebrecht fez pagamento de 1 milhão de reais a ele. O valor, disse, "teria sido solicitado pelo Senador Aécio Neves como uma forma de apoio
ao DEM, que era presidido à época pelo Senador José Agripino". Agripino era cotado para ser vice de Aécio na chapa.
Sob esse codinome, o então senador teria pedido "apoio diferenciado" da Odebrecht em 2010 e 2014. Presidia o PTB no Distrito Federal. O delator relata autorização de Marcelo Odebrecht para repassar a ele 1,5 milhão em 2010 e 1,3 milhão em 2014. "Não tenho como dizer se os pagamentos em dinheiro foram utilizados por Gim Argello para fins eleitorais." Argello deixou o PTB e a política em 2016.
Foto: CC-by-NC-flicker/Senado Federal
Jaques Wagner, o "Polo"
Relator diz que fez a ponte da Odebrecht com o político de 2006 a 2010. Conta que Marcelo Odebrecht tinha dúvidas sobre êxito da carreira política do petista. O primeiro pedido de recursos foi para campanha ao governo da BA (2006). "Acredito que tenha ocorrido pagamentos de até 3 milhões de forma oficial e caixa 2." Ajudou a Odebrecht a resolver "pendências" do pólo petroquímico de Camaçari.