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O Brasil na imprensa alemã (22/07)

22 de julho de 2020

Jornais alemães destacam que Bolsonaro está perdendo apoio do empresariado e sofrendo pressão da Europa para conter desmatamento. Mas se perguntam se a pausa na destruição da floresta será realmente duradoura.

Jair Bolsonaro
"A economia está se voltando contra o presidente Jair Bolsonaro", escreveu jornalFoto: Getty Images/A. Anholete

 Frankfurter Rundschau – Pausa no desmatamento: Bolsonaro cede à pressão – mas até quando? (18/07) 

Para a imagem do setor mais importante da economia brasileira, é um desastre: segundo um texto na revista científica Science, 20% das exportações de soja e carne para a União Europeia estão "contaminadas" pelo desmatamento.

A notícia chega em um momento inoportuno para o governo brasileiro. Os investidores europeus estão começando a se fazer ouvir em Brasília. A mensagem é clara: as coisas não podem continuar assim. Desde que o presidente populista de direita Jair Bolsonaro tomou posse no Brasil, os números do desmatamento na Amazônia vêm subindo novamente. Teme-se que, até o final de 2020, uma gigantesca área de 15 mil quilômetros quadrados de floresta tropical seja irremediavelmente destruída.

Alguns anos atrás, isso não seria um problema, mas agora o mundo ocidental é diferente. A geração "Fridays for Future" está exercendo pressão sobre a Europa para romper com essa política anticlimática. Sua demanda: o governo brasileiro e sua política não podem ser um parceiro para a Europa.

A mensagem chegou a Brasília. Se será compreendida, é outra questão. Bolsonaro reagiu à pressão, tendo primeiramente proibido, por quatro meses, o corte e as queimadas na Floresta Amazônica. Isso foi precedido por uma iniciativa diplomática de embaixadores europeus junto ao vice-presidente Hamilton Mourão.

A Europa, no entanto, enfrenta a difícil questão: renunciar ao acordo com o Mercosul e, portanto, também à sua influência política, ou deixar o mercado inteiramente para a China, que atualmente compra em quantidades recordes no Brasil e não faz perguntas incômodas? Teoricamente, se o acordo fosse implementado, o Brasil seria obrigado a se curvar ao pacto de proteção climática de Paris e a proteger as florestas, em vez de cortá-las.

Die Zeit – Bolsonaro está perdendo os amigos ricos (15/07)

Algo inesperado está acontecendo no Brasil neste momento: a economia está se voltando contra o presidente Jair Bolsonaro. Há semanas, ele é alvo de críticas crescentes, tanto no Brasil como no exterior.

Após um ano e meio sob Bolsonaro, o Brasil perdeu sua imagem de potência econômica em ascensão. Hoje o país não representa mais recordes de produção na agricultura, indústria e mineração, como fazia há quase dez anos. Do Brasil, chega uma notícia catastrófica atrás da outra: a escandalosa destruição ambiental na Amazônia, um dos piores surtos de coronavírus do mundo, assassinatos brutais de líderes indígenas, guerras sangrentas de gangues e graves abusos policiais nas favelas, corrupção. Acrescenta-se a isso a proximidade do clã Bolsonaro com grupos criminosos no Rio de Janeiro.

Os investidores estão agora impacientes. Em meados de junho, sete grandes empresas de investimento europeias ameaçaram retirar seu capital da produção brasileira de carne, comerciantes de grãos e títulos estatais se o governo não conseguisse controlar o desmatamento na Amazônia.

De acordo com a agência de notícias Reuters, esta ameaça foi feita por grupos financeiros que administram um total de 2 trilhões de dólares de capital no mundo inteiro, incluindo a empresa finlandesa Nordea e a britânica LGIM. Em setembro do ano passado, 230 investidores já haviam assinado uma carta pedindo ao governo brasileiro que tomasse medidas urgentes contra os incêndios na Floresta Amazônica.

Mas até agora, Bolsonaro e sua equipe haviam ignorado tais ameaças, assim como os protestos dos governos europeus. Afinal, os principais consumidores de produtos agrícolas brasileiros não estão na Europa, mas na China e no resto do leste asiático.

A importância dos investidores chineses também vem crescendo no Brasil há anos, especialmente em grandes projetos de infraestrutura nos quais o governo Bolsonaro tem um interesse particular. A dependência dos doadores europeus está diminuindo.

A frente econômica, antes quase fechada em apoio a Bolsonaro, está lentamente se desfazendo. A enorme piora da imagem do país está tendo consequências concretas há muito tempo para muitas indústrias, muito além do agronegócio. Por exemplo: o tão esperado acordo comercial entre a UE e o Mercosul não está saindo do papel. O presidente francês, Emmanuel Macron, vem fazendo campanha apaixonada contra este acordo há semanas. Recentemente, o Parlamento de um país-membro atrás do outro votou contra. O governo alemão ainda quer fazer o acordo avançar, mas as chances de sucesso estão diminuindo.

Handelsblatt – Brasil vira laboratório para o futuro do Whatsapp (15/07)

A epidemia de coronavírus mudou radicalmente o comércio no Brasil. As restrições de contato forçaram os empresários a mudar de rumo. Em particular, o Whatsapp se tornou uma extensão do balcão de vendas. A plataforma não publica dados exatos do usuário. O número de usuários ativos mensais do serviço está estimado em 120 milhões. Isso faz do Brasil o segundo maior mercado para o aplicativo, atrás apenas da Índia.

O programa não é popular apenas entre as pessoas comuns –  ele também se tornou uma ferramenta importante para os varejistas. De acordo com um estudo da GS1 Brasil, um terço das pequenas e médias empresas na pandemia utiliza o Whatsapp para estratégias de vendas alternativas, enquanto outras mídias sociais são utilizadas por apenas 8% das empresas.

Segundo um estudo da pesquisadora de mercado Nielsen, um terço de todos os compradores online no Brasil fez suas primeiras compras digitais durante a pandemia. A popularidade do Whatsapp mostra como a mídia social em um mercado emergente pode mudar rápida e facilmente o modelo de negócios de todo um setor. Afinal, os funcionários têm pouca escolha a não ser procurar oportunidades no Whatsapp se não quiserem perder seus empregos.

A empresa-mãe do Whatsapp, Facebook, tentou usar o sucesso de sua plataforma no Brasil para expandir seu modelo de negócios. Em junho, o grupo de tecnologia lançou uma função de pagamento dentro do Whatsapp. No entanto, uma semana depois, ela saiu do ar.

O Banco Central bloqueou a função de pagamento. E pediu aos fornecedores de cartões de crédito Visa e Mastercard que processassem os pagamentos para o Whatsapp. O Banco Central argumentou que não havia sido suficientemente envolvido no lançamento do serviço de pagamento pelo Facebook. A função, argumentou a autoridade monetária brasileira, também representava o risco de perturbar o mercado brasileiro a longo prazo.

Em outra frente, a autoridade antitruste do país também interveio e proibiu a parceria da Whatsapp com o processador de pagamentos brasileiro Cielo. As autoridades justificaram este passo com preocupações sobre uma concentração excessiva do poder de mercado.

Outros serviços online também estão tentando ganhar espaço no Brasil. O mercado ainda está relativamente subdesenvolvido. De acordo com as estimativas, os brasileiros, tidos como bons consumidores, só compram entre 5% e 6% de seus produtos digitalmente, contra 13% nos EUA. Diversos fornecedores já estão cortejando clientes.

O crescimento do comércio online e das soluções de pagamento digital está provavelmente apenas começando. Que papel o Facebook e o Whatsapp desempenharão nisso, ainda está completamente em aberto.

RPR/ots

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