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O Brasil na imprensa alemã (23/09)

23 de setembro de 2020

As queimadas no Pantanal e os desencontros entre um Bolsonaro "pais dos pobres" e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, em torno da política de assistência social foram destaques nos jornais da Alemanha.

Ministro da Economia, Paulo Guedes
Guedes quer reduzir o Estado ao mínimo, mas o vírus arruinou seus planos, segundo jornal alemãoFoto: AFP/Getty Images

Handelsblatt – Brasil em frenesi de consumo: auxílio emergencial alavanca economia (19/09)

Por causa do auxílio emergencial durante a pandemia, as perspectivas de crescimento para o Brasil melhoraram significativamente. O banco de investimento Morgan Stanley acaba de melhorar para o Brasil, como único país da América Latina, sua previsão para 2020: o PIB irá cair "apenas" 5,1% este ano – principalmente devido ao consumo estável.

A desaceleração no Brasil será, portanto, muito menor do que em toda a América Latina, que encolherá 8,5%. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) também acaba de constatar que, em agosto, entre as maiores economias do mundo, é no Brasil que os sinais apontam mais fortemente para uma expansão – depois da China.

Não é de admirar que as questões de política de distribuição agora dominem a agenda econômica do governo Bolsonaro. O governo bem que havia começado a reformar a economia liberalmente, cortes estavam na ordem do dia. Mas a pandemia provocou uma reviravolta: agora, a prioridade é gastar.

O motivo da mudança de Bolsonaro de "reformador liberal" para "salvador dos pobres" pode ser explicado politicamente: as medidas de emergência popularizaram o populista de direita. Trinta e sete por cento dos brasileiros o apoiam atualmente. Mais do que nunca em seu mandato.

(…)

No entanto, um orçamento profundamente no vermelho estabelece limites para a continuação da política de distribuição: no Brasil, país com déficit crônico, o déficit orçamentário provavelmente chegará a 16% do PIB no final do ano, e a dívida crescerá para mais de 100% do PIB.

Por isso, o Bolsonaro acabou com os planos de iniciar um novo programa de renda básica quando o auxílio estatal acabar, no final do ano. Ele reluta em cortar o orçamento. Com a reforma administrativa recentemente apresentada, ele poupou Judiciário, parlamentares e militares desde o início. Bolsonaro não quer pagar o preço político que as reformas custariam.

Isso levanta a questão de quão sustentáveis serão as políticas sociais para a redução da pobreza. Porque as despesas têm que ser financiadas por impostos mais altos e dívidas crescentes. Elas serão pagas sobretudo pelos pobres: porque a maior parte dos impostos incide sobre o consumo. E isso sobrecarrega mais os pobres do que os ricos.

Augsburger Allgemeine – Incêndios florestais no Brasil: povo sofre, agropecuária lucra (23/09)

Os incêndios florestais no Brasil sempre vinham ocorrendo nos últimos anos; mas desta vez eles são tão grandes e estão tão fora de controle que até os brasileiros ficam chocados com sua extensão. Pelo menos 10% do Pantanal já foi destruído, isso corresponde a quase o tamanho de Israel. As consequências de longo prazo para o ecossistema são incalculáveis. Além disso, o governo brasileiro tenta esconder a extensão da catástrofe ecológica através da repressão das autoridades ambientais.

Ambientalistas acusam o governo Bolsonaro de não apenas assistir ao pérfido jogo de incêndio criminoso e posterior uso da área pela agroindústria, mas também de apoiar ativamente esse tipo de "ganho de terras" por omissão. "O Brasil vive um aumento constante da violência contra os povos indígenas, que vem do agronegócio, da mineração e da indústria madeireira. As tensões aumentaram durante a pandemia", diz Juliana Miyazaki, especialista em povos indígenas da ONG alemã Sociedade pelos Povos Ameaçados.

De fato, o governo de Brasília cortou maciçamente recursos das autoridades ambientais. Os madeireiros ilegais e garimpeiros se sentem autorizados a agir por conta própria, devido à falta de interesse dos políticos na proteção ambiental. Não é incomum que incêndios florestais em uma região sejam seguidos pelo uso subsequente da área por grandes empresas agrícolas.

Der Spiegel – Bolsonaro e seu homem do posto de gasolina (20/09)

O presidente Jair Bolsonaro gosta de chamar seu ministro da Economia, Paulo Guedes, de "posto Ipiranga". É como o frentista de um conhecido anúncio de TV, que dá informações sobre todas as questões – ao contrário de Bolsonaro, que admitiu publicamente não saber nada de economia. O professor de economia ultraliberal era considerado um dos pilares do gabinete de Bolsonaro – até que o coronavírus mergulhou o Brasil em uma recessão profunda.

Na terça-feira, Bolsonaro ameaçou sua equipe econômica com um "cartão vermelho" via YouTube. Um assessor do ministro havia dito à imprensa que o governo estava preparando um realinhamento da política social que levaria ao congelamento das aposentadorias – que são, para muitas famílias, a única fonte estável de renda.

Bolsonaro espera que os pobres o ajudem a ser reeleito dentro de dois anos. Ele distribuiu subsídios do governo para mitigar as consequências da crise do coronavírus – como resultado, sua popularidade aumentou, especialmente entre os pobres. Por isso, falar sobre cortes nos benefícios sociais é, agora, algo bastante contraproducente.

O presidente aparentemente quer se reinventar como uma espécie de Lula da direita. O presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva lançou o programa social Bolsa Família durante seu mandato de 2002 a 2010, um sofisticado programa de transferência de renda para os muito pobres. O Estado paga aos chefes de família das famílias necessitadas – principalmente mães – uma verba que sujeita a condições. Entre outras coisas, os pais têm que provar que seus filhos vão à escola para receber o dinheiro.

(…)

Guedes nunca escondeu que considera programas sociais como o Bolsa Família inadequados e supérfluos. Ele quer reduzir o Estado ao mínimo; de preferência, gostaria de privatizar todas as empresas estatais. Mas o vírus arruinou seus planos.

MD/ots

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