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O Brasil na imprensa alemã (24/03)

24 de março de 2021

Jornais da Alemanha afirmam que o Brasil se tornou uma "ameaça global na pandemia" e destacam iminente colapso do sistema de saúde do país. Enquanto isso, Bolsonaro "parece não se importar".

Coroas de flores em túmulos em cemitério em São Paulo
Nos últimos dias, uma em cada quatro vítimas do coronavírus no mundo veio do BrasilFoto: REUTERS

Die Welt: Brasil se torna uma ameaça global na pandemia (24/03)

A imagem de um paciente morto deitado nos ladrilhos frios de uma Unidade de Pronto Atendimento em Teresina emociona os brasileiros. Ao lado do homem desamparado de 86 anos, está a desesperada e exausta enfermeira Polyena Silveira. À frente dela, uma tigela com os últimos remédios e medicamentos que ainda estavam disponíveis. A foto que circulou na mídia simboliza a situação desesperadora em que se encontra o sistema de saúde do imenso país sul-americano.

Em quase todos os lugares, hospitais e enfermarias de admissão inicial relatam superlotação de leitos de terapia intensiva e falta de medicamentos e oxigênio medicinal. A enfermeira Polyena Silveira relatou à mídia brasileira suas observações cotidianas sobre a mutação. "Esse vírus é muito mais forte do que o que tínhamos um anos atrás."

O Brasil registrou sua semana mais mortal desde o início da pandemia. O consórcio da imprensa brasileira, que determina os próprios números diários por desconfiar há meses do Ministério da Saúde, contabilizou mais de 16 mil mortes em uma semana.

A má gestão do governo brasileiro já permitiu que a perigosa mutação P1 se espalhasse, inclusive até a Europa. E a variante P1 pode ter sido apenas o começo: onde quer que muitas pessoas estejam infectadas, novas mutações podem surgir.

Portanto, a comunidade internacional deve agora ajudar o Brasil a colocar a situação de infecções sob controle. O Itamaraty já pediu ajuda, medicamentos e doses de vacinas a outros países. É uma corrida contra o tempo. Semelhante à União Europeia, o Brasil também não encomendou as vacinas a tempo e agora tenta compensar a falta por meio de compras frenéticas.

Ainda mais preocupante do que o número de mortos são as crescentes taxas de ocupação nas unidades de terapia intensiva e o alto número de novas infecções. Com uma média móvel de 75.417 contágios em sete dias, mais de 500 mil novas infecções foram adicionadas apenas na semana passada.

A variante P1 mostrou como uma mutação do Brasil pode se espalhar rapidamente. No início de março, a variante P1 tinha sido detectada em 25 países, incluindo o Reino Unido. A Organização Mundial da Saúde (OMS) instou o Brasil a adotar uma abordagem mais coordenada à pandemia.

Der Tagesspiegel: O medo da mutação de Manaus (24/03)

Jair Bolsonaro comemorou seu 66º aniversário no domingo. Ele cortou um bolo na frente de centenas de seguidores em sua residência em Brasília. Em outras cidades, seus fãs organizaram desfiles de carros e passeatas. Nunca lhes ocorreu que, em meio à pandemia de coronavírus, talvez este fosse o momento errado para celebrar.

Pelo contrário: as reuniões repletas de slogans pseudorreligiosos ("Só Deus me tirará do cargo", gritou Bolsonaro) pareciam um dedo médio em riste na direção do número crescente de críticos de Bolsonaro. Estes vêm cada vez mais do exterior, onde se teme que o gerenciamento catastrófico de Bolsonaro na pandemia possa levar a uma propagação acelerada da variante P1 do vírus.

A mutação P1 é considerada uma das principais causas da nova onda de covid-19 que está se espalhando pelo Brasil. Nas últimas semanas, o número de mortes e novas infecções disparou, com uma média de cerca de 2 mil pessoas morrendo de covid-19 todos os dias. Nesta semana, o Brasil vai ultrapassar a marca simbólica de 300 mil vítimas do coronavírus.

O presidente parece não se importar. Até o momento, ele não pronunciou uma palavra de simpatia, pesar ou compreensão. Em vez disso, Bolsonaro continua a anunciar remédios ineficazes e zombar de usuários de máscaras. Em sua festa de aniversário, ele disse que as Forças Armadas cuidariam para que a liberdade fosse preservada.

Bolsonaro não parece ser capaz de compreender que seus constantes disparos cruzados estão arrastando a pandemia do coronavírus e aumentando ainda mais os danos econômicos. Aparentemente, para desviar a atenção de sua própria responsabilidade, ele acaba de nomear o quarto ministro da Saúde desde o início da pandemia, mas mesmo isso não indica uma mudança de curso.

Já foram aplicados 14 milhões de doses, que com 210 milhões de habitantes representam apenas 6,38% da população, mas em números absolutos é mais do que na Alemanha. O sistema gratuito e universal de saúde do Brasil (SUS) possui bons requisitos para vacinar rapidamente muitas pessoas. Se não fosse pelo presidente.

FAZ: Máscaras protetoras absorvem as lágrimas (23/03)

Homens em trajes de proteção brancos levantam um caixão da carroça e o carregam para uma cova recém-aberta. Poucos parentes estão presentes enquanto o caixão é enterrado rapidamente na terra avermelhada.

Os protocolos de segurança não permitem um tributo fúnebre ou uma pausa silenciosa para se despedir. O procedimento leva dez minutos, depois os parentes têm que ir embora. As máscaras protetoras absorvem suas lágrimas, mas não sua dor. Em seus olhos, vê-se tristeza, luto e resignação.

A cena se repete a cada dez minutos no bloco 68 do cemitério da Vila Formosa, em São Paulo, o maior cemitério da América Latina. O cemitério se estende por uma área de quase 80 hectares. Nos 70 anos de sua existência, mais de 1,5 milhão de cadáveres foram enterrados ali – pessoas que não podem pagar por um enterro caro em cemitérios particulares.

Segundo a prefeitura, a média de funerais em toda a cidade de São Paulo é de 240 por dia no verão e cerca de 300 no inverno. Conforme a pandemia progrediu, o número aumentou significativamente. Em janeiro e fevereiro, houve uma média de 45 funerais por dia somente no cemitério da Vila Formosa, quase o dobro de antes da pandemia.

Nos últimos dias, uma em cada quatro vítimas do coronavírus no mundo veio do Brasil. Mas Bolsonaro continua negando que o vírus seja perigoso. E muitos brasileiros estão seguindo seu exemplo. As medidas de isolamento impostas pelos governadores são apoiadas pela maioria, mas apenas seguidas de forma indiferente. E seriam agora mais necessárias do que nunca.

pv/ek (ots)

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