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O Brasil na imprensa alemã (25/01)

25 de janeiro de 2023

Jornais destacam mortes de crianças em terras yanomamis, visita de Eduardo Suplicy a Frankfurt, trabalhos de limpeza após ataques em Brasília e estado de Brumadinho quatro anos depois de desastre.

Jovem observa área afetada por lama na comunidade de Casa Grande após o rompimento da barragem da mina de ferro da mineradora Vale, perto de Brumadinho, Minas Gerais, em 27 de janeiro de 2019.
"Quatro anos após desastre em Brumadinho, sensação é de abandono", diz reportagem da rádio Deutschlandfunk KulturFoto: Mauro Pimentel/AFP

Frankfurter Allgemeine Zeitung –  Eduardo Suplicy, um político carismático em Frankfurt (24/01)

Um debate sobre "democracia em turbulência" na histórica Villa Metzler [Frankfurt, Alemanha] se transformou num apelo sócio-político por uma renda básica incondicional universal. É isso, afinal, que o político de 80 anos [Eduardo Suplicy] defendera durante toda a sua vida, inclusive perante o papa no ano passado. Desde 2004, o Brasil é o primeiro país do mundo a ter uma renda básica consagrada na Constituição, mas ela foi implementada apenas parcialmente e no governo de Bolsonaro foi "apagada do mapa da fome”, disse Suplicy.

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Após a invasão do distrito governamental em Brasília em 8 de janeiro, ele devia falar sobre o estado da democracia no Brasil. Não só lá, mas também no Peru e na Bolívia, a democracia está em crise. [...] Para atestar isso, foi convidado o especialista em América Latina Jonas Wolff, da iniciativa de pesquisa "ConTrust: Trust in Conflict" da Universidade Goethe. Mas ele praticamente não disse uma palavra. A plateia, que havia lotado a mansão, queria ouvir Suplicy.

A esse pedido o convidado do estrangeiro atendeu de forma generosa. Em um pulôver vermelho, ele ofereceu uma apresentação performática plena de vitalidade revolucionária. "Apesar das diferentes linguagens, temos que chegar a um entendimento comum de justiça”, começou, enumerando os "instrumentos” para tal: "Com melhores condições de educação, melhores cuidados de saúde e melhores formas de economia solidária, aumentamos o grau de justiça." Quando a apresentadora perguntou pela terceira vez sobre o dia 8 de janeiro, o público começou a rir. No final, todos deram muita risada e até cantaram juntos. E até lá, Suplicy manifestou o seu maior desejo: "Dignidade e liberdade para todos. A democracia deve servir à população em geral."

Die Zeit - Investigações de genocídio após morte de 100 crianças yanomamis (25/01)

Após a morte de cerca de 100 crianças no território indígena Yanomami, tiveram início no Brasil investigações sobre suspeita de genocídio. […] As investigações foram dirigidas contra funcionários responsáveis ​​pela área, entre outros.

Anteriormente, uma investigação oficial já havia revelado que cerca de 100 crianças menores de cinco anos haviam morrido nas terras indígenas yanomamis vítimas de desnutrição, pneumonia, malária e outras doenças infecciosas no ano passado. Segundo o Ministério da Saúde, 67 dessas crianças tinham menos de um ano de idade.

Foram exonerados 54 funcionários da autoridade competente e do Ministério da Saúde. Segundo o recém-criado Ministério de Assuntos Indígenas, muitos dos demitidos eram militares nomeados durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Na declaração [do Ministério de Assuntos Indígenas], as autoridades foram acusadas de não ter cumprido sua tarefa mais importante de garantir os direitos da população indígena. Em vez disso, elas se tornaram uma "inimiga dos indígenas".

Süddeutsche Zeitung - Juntando os cacos em Brasília (22/01)

O novo presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, tinha, na verdade, grandes planos para suas primeiras semanas no cargo: combater a pobreza, promover a educação, proteger a floresta tropical. Agora, no entanto, o político de 77 anos e seu governo estão ocupados com uma coisa em particular: limpeza.

Cerca de duas semanas se passaram desde o dia 8 de janeiro, quando uma multidão de apoiadores do ex-presidente de direita Jair Bolsonaro invadiu o distrito do governo na capital Brasília. Os agressores entraram no prédio do Congresso, do Supremo Tribunal Federal e também no Palácio Presidencial. Eles quebraram janelas e móveis, arrancaram cabos do teto e urinaram nos murais.

Nesse ínterim, a maioria dos cacos foi varrida e os slogans de direita foram apagados das paredes. O tamanho do estrago, no entanto, só se torna claro lentamente. Afinal, os manifestantes não apenas devastaram escritórios e salas de reunião, mas também cortaram pinturas e quebraram estátuas. Especialistas estão tentando restaurar as obras de arte e antiguidades, mas algumas peças podem estar perdidas para sempre.

Deutschlandfunk Kultur - As consequências de Brumadinho (24/01)

Mesmo a uma distância de 300 quilômetros, já é perceptível o grau de contaminação da água e do solo. Desde as enchentes, aumentaram entre os moradores os casos de diarréia, febre, alergias e erupções cutâneas. Apenas 22 comunidades — menos da metade das afetadas — recebem água potável da Vale. Em outras, os moradores não têm outra escolha a não ser beber água potencialmente contaminada ou comprar água engarrafada a preços altos.

"Na água e na lama, foram encontrados níveis de ferro, manganês e alumínio em concentrações até seis vezes mais elevadas. Essa água não pode mais ser usada para irrigação. Estudos também mostraram que essas substâncias já foram encontradas em exames de sangue. Elas podem atacar os nervos, o sistema imunológico e o fígado", explica Cristiano Silva, responsável pela avaliação de riscos da Prefeitura de Brumadinho. Ele e sua equipe estão fazendo o que podem. Embora alguns trabalhadores adicionais tenham sido contratados para prestar assistência médica e social, dada a dimensão do problema, aqui na comunidade, como em toda a área afetada, a sensação é de abandono. Não há sequer uma análise abrangente dos danos.

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Agora, peritos alemães têm que se debruçar sobre um total de 35 processos diferentes perante o tribunal distrital de Munique. No maior deles, mais de mil vítimas e sobreviventes pedem reparações de até 440 milhões de euros.

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A maior preocupação é que tal catástrofe possa se repetir a qualquer momento. Após os acidentes de Mariana e Brumadinho, foram feitas algumas revisões: de acordo com ativistas ambientais e de direitos humanos, 39 bacias de detenção como a de Brumadinho são consideradas de risco no Brasil; três delas sendo apontadas como extremamente ameaçadas e que deveriam ter sido fechadas há muito tempo.