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O Brasil na imprensa alemã (27/07)

27 de julho de 2022

Jornais da Alemanha destacam "duelo perigoso" entre Lula e Bolsonaro e comparam presidente a Trump, após brasileiro dar sinais de que não aceitaria derrota. Legado da escravidão e garimpo na Amazônia também são tema.

Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro
Lula ou Bolsonaro: "Quem vencer a eleição provavelmente enfrentará muita resistência, pois não há fim à vista para a polarização", diz jornal

Frankfurter Allgemeine Zeitung – Duelo perigoso (25/07)

Há alguns dias, um membro do PT organizou uma festa de aniversário na cidade de Foz do Iguaçu, no sul do Brasil. Amigos e familiares foram convidados, e fotos do candidato a presidente Luiz Inácio Lula da Silva, conhecido como Lula, serviram de decoração. Com a festa já em andamento, apareceu um homem, agente penitenciário de profissão, incomodado com as fotos de Lula. Ele discutiu com o anfitrião, saiu, voltou, desceu do carro com uma arma na mão – e matou o petista a tiros. "Aqui é Bolsonaro", ele teria gritado, segundo testemunhas.

A eleição presidencial no Brasil é precedida por uma das campanhas eleitorais mais carregadas em muitos anos. O candidato de esquerda Lula, cuja condenação por corrupção foi anulada pelo Supremo Tribunal Federal em 2021 por motivos formais, tem cerca de 45% nas pesquisas de intenção de voto. O presidente de direita Jair Bolsonaro tem apenas cerca de 30% e está para trás há muito tempo. Então Lula se torna perigoso para o presidente.

A campanha eleitoral também está se tornando perigosa, como mostra o assassinato em Foz do Iguaçu. Lula culpou Bolsonaro por semear o ódio entre a população. Também houve ameaças contra Lula, que gosta de estar perto de seus apoiadores em eventos, mas se recusa a usar colete à prova de balas.

Nesta campanha eleitoral, tudo se resume a um duelo, outros candidatos têm poucas chances nas pesquisas. [...] Observadores há muito temem que Bolsonaro possa usar os militares para permanecer no cargo caso perca a eleição de outubro. Diz-se que o populista de direita pode vir a se espelhar mais uma vez no ex-presidente americano Donald Trump, com a invasão do Capitólio.

Recentemente, em meio à baixa taxa de popularidade, Bolsonaro lançou ideias sobre um possível uso dos militares se a eleição for fraudada, durante uma reunião com embaixadores de outros países. Suas críticas são direcionadas ao sistema de votação eletrônica, que ele acredita ser manipulável, mas especialistas garantem que é seguro e confiável.

[...] Há menos de um ano, Bolsonaro desfilou tanques na Praça dos Três Poderes, em Brasília. A parada militar foi vista por muitos como uma provocação, pois, no Congresso ao lado, os deputados debatiam sobre o sitema de votação eletrônico naquele momento.

Quem vencer a eleição provavelmente enfrentará muita resistência, pois não há fim à vista para a polarização. Steven Levitsky, cientista político de Harvard, recentemente resumiu a situação em poucas palavras: "Até Deus teria problemas para governar o Brasil no próximo mandato."

Handelsblatt – Corrida eleitoral no Brasil: Jair Bolsonaro faz o Donald Trump (25/07)

Foi uma grande fanfarra política que o presidente brasileiro Jair Bolsonaro fez no domingo. Na arena menor ao lado do estádio do Maracanã no Rio de Janeiro, estrelas pop cantaram o hino nacional. Pastores evangélicos rezaram com cerca de 10 mil apoiadores. A esposa de Bolsonaro alertou, no discurso de abertura, sobre o perigo comunista no Brasil se seu marido não for reeleito.

No evento transmitido pelas redes sociais, o populista de direita foi oficializado como candidato do Partido Liberal nas eleições presidenciais de outubro. É o nono partido pelo qual Bolsonaro concorre em sua carreira política.

No evento, parecia que ele já estava se preparando para a derrota – e para formas de se manter no poder. Ele convocou seus apoiadores a saírem às ruas "uma última vez" em 7 de setembro – o 200º Dia da Independência do Brasil.

Em setembro passado, o presidente brasileiro já havia incitado seus apoiadores a invadirem o Supremo Tribunal Federal – de maneira semelhante à invasão do Capitólio nos Estados Unidos no início de 2021 por apoiadores do presidente Donald Trump, derrotado na eleição no país. Ao contrário dos Estados Unidos, no entanto, tal ataque não ocorreu no Brasil.

Além disso, o presidente em exercício parece querer duvidar antecipadamente da vitória de seu adversário de esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva. Há apenas uma semana, Bolsonaro criticou novamente o sistema de votação eletrônica diante de embaixadores estrangeiros, argumentando com insinuações, meias-verdades e "fatos" obviamente incorretos. Ele não forneceu nenhuma prova.

[...] A campanha eleitoral está se tornando mais agressiva: uma bomba explodiu em um evento de Lula no Rio. Com frequência, apoiadores dos dois adversários se enfrentam violentamente em manifestações.

Bolsonaro encontra apoio não apenas nas ruas, mas também entre os militares. Eles ocupam numerosas posições-chave no governo. Frequentemente eles analisam o sistema de votação eletrônica, embora sua opinião ou expertise não esteja prevista na Constituição.

Enquanto isso, muitos brasileiros temem que os militares possam preencher um possível vazio político após uma eleição contestada – para garantir o poder para Bolsonaro e também para si mesmos.

Deutschlandfunk Kultur – O legado do Rio de Janeiro (26/07)

"Quando digo Rio de Janeiro, não importa a quem no mundo, o que vem à mente das pessoas primeiro?", pergunta a historiadora Sadakne Baroudi, que tem a resposta pronta. "A estátua do Cristo, as praias de Copacabana e Ipanema, o Pão de Açúcar, o Carnaval. Mas a primeira coisa que deveríamos pensar sobre a cidade do Rio de Janeiro é num homem africano morto amarrado em correntes. Porque o Rio de Janeiro é a capital mundial da escravidão", critica ela.

Sadakne Baroudi faz parte de um pequeno grupo de especialistas que estão tentando se reconciliar com a história negra do Rio. Enquanto a própria cidade fez de tudo para enterrá-la. E no mais verdadeiro sentido da palavra, como Merced Guimarães teve que experienciar.

Quando encontrou os primeiros ossos em seu quintal, ela primeiramente pensou que alguém havia enterrado seu cão ali. Mas a escavação seguinte revelou um maxilar com dentes humanos – e depois mais e mais restos mortais.

O que Merced Guimarães e seu marido encontraram embaixo da camada de concreto de seu quintal foram vestígios não de apenas um crime, mas de dezenas de milhares. A casa deles ficava em cima de uma vala comum. Sobre os ossos de cerca de 40 mil corpos – todos de origem africana. Hoje sabemos que foi o maior cemitério de escravos dos séculos 18 e 19. Embora a palavra cemitério seja um eufemismo. As pessoas eram simplesmente descartadas, diz Merced.

"Era um cemitério do caos, onde toda a dignidade era pisoteada como se fosse um depósito de lixo. Isso se prolongou por 60 anos. Até 1830. Apenas 36 anos mais tarde, nossa casa foi construída sobre ele. A história foi enterrada porque é uma história que a sociedade brasileira quer esquecer", diz.

Cerca da metade de todas as pessoas que foram traficadas da África para as Américas entre os séculos 16 e 19 acabaram no império colonial português do Brasil. Mais de 5,5 milhões de escravos. Mais de 2 milhões deles foram enviados somente para o Rio de Janeiro, segundo pesquisas atuais.

[...]

Die Tageszeitung – Corrida do ouro no Tapajós (26/07)

O ouro atinge preços recordes. Como resultado, centenas de novas minas ilegais estão surgindo na floresta tropical brasileira. O meio ambiente é contaminado, ativistas indígenas são ameaçados. O presidente Bolsonaro protege o negócio.

O sol do meio-dia se põe no calçadão da cidade amazônica de Itaituba, situada no rio Tapajós, de cor de hortelã. Na sombra de uma lanchonete deserta, alguns cães estão cochilando, quase ninguém está fora no calor abrasador. De repente, um carro freia, buzina duas vezes. Atrás da janela está o rosto pintado de uma mulher: Alessandra Korap Munduruku, uma destacada ativista indígena da região da floresta tropical brasileira, pede para que entremos rapidamente. "Não quero parar aqui", diz ela enquanto acelera o carro. "Todos me conhecem, pode ser perigoso."

Korap, nascida em 1985, pertence ao povo Munduruku. Ela luta contra a mineração, organiza protestos, viaja ao redor do mundo como ativista. É por isso que ela é ameaçada por garimpeiros. Itaituba, uma cidade com 100 mil habitantes, está no meio da floresta tropical. No calçadão, um homem está de pé em um pedestal, usando um chapéu e segurando um cocho em suas mãos. Ele está inclinado. Um garimpeiro de ouro. A cidade construiu um monumento de um metro de altura para seus habitantes mais importantes. Existem centenas de garimpos ilegais na região. Caçadores da sorte de todo o país vêm aqui em busca dos grãos brilhantes. A maioria desses homens são pobres infelizes, seu objetivo: uma vida melhor.

Alguns são empregados por empresas de mineração, outros tentam sua sorte por conta própria. Muitos se sentem diretamente encorajados pelas políticas do presidente radical de direita Jair Bolsonaro a deixar suas casas e se mudar para a floresta tropical. Com frequência há conflitos violentos com os povos indígenas.

[...] Muitos ativistas na Amazônia se sentem como Korap. Aqueles que lutam pela preservação da floresta tropical ou expõem outros abusos vivem perigosamente. Em junho de 2022, o jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira, que estavam em uma viagem de pesquisa no remoto Vale do Javari, foram assassinados, presumivelmente por homens envolvidos na pesca ilegal.

Korap é uma mulher animada, gosta de fazer piadas, ri muito. Mas quando fala sobre o que ocorre em sua terra natal, sua expressão se fecha. Barragens estão destruindo a natureza, madeireiros estão entrando à força em áreas indígenas, mas são sobretudo os garimpeiros que estão causando problemas para as comunidades ao redor de Itaituba. "Uma invasão", diz Korap.

Porque a indústria do ouro está em plena expansão. Em meados de julho, o valor de uma onça troy de ouro, ou 31,1 gramas, era de mais de 1.700 euros. Para especialistas, isso se deve ao dólar fraco e a conflitos internacionais. Em tempos de crise, os investidores estão se voltando cada vez mais para o ouro, que é considerado à prova de inflação. A crescente demanda no mercado mundial está levando a uma verdadeira corrida do ouro no Brasil.

ek/lf (ots)

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