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O Brasil na imprensa alemã (31/07)

31 de julho de 2019

Ciberataque a autoridades, conversas vazadas de Moro e os desdobramentos do escândalo foram destaque na mídia da Alemanha, bem como a guerra de facções nas prisões e as consequências jurídicas da tragédia de Brumadinho.

O ministro da Justiça, Sergio Moro
"Direita condena procedimento ilegal dos hackers, enquanto esquerda vê prova da parcialidade de Moro", diz jornalFoto: Marcelo Camargo/Agencia Brasil

Der Tagesspiegel – Ciberataque à liderança estatal brasileira, 31/07/2019

Hackers penetraram em cerca de mil telefones celulares, entre os quais o do presidente Jair Bolsonaro, trazendo à luz acertos ilegais antes das últimas eleições.

[...]

Num Brasil extremamente polarizado entre esquerda e direita trava-se uma luta encarniçada pela interpretação do escândalo. A direita condena o procedimento ilegal dos hackers e vê na divulgação das conversas uma espécie de tráfico de bens roubados, uma tentativa de impedir o combate à corrupção.

Sergio Moro foi o juiz no gigantesco escândalo de corrupção, conhecido internacionalmente a partir de 2014 pelo codinome Lava Jato. Ele colocou numerosos políticos e líderes econômicos atrás das grades. Desde então, Moro é para os direitistas brasileiros uma espécie de super-homem da Justiça.

A esquerda, por sua vez, vê mais uma prova da parcialidade de Moro. Pouco antes das eleições de 2018, ele teria tirado de circulação o líder esquerdista Lula da Silva através de acertos ilícitos com os promotores, para então se beneficiar da eleição de Bolsonaro. Moro seria ele próprio corrupto e, afirmam, precisa deixar o cargo.

Agora Sergio Moro se permitiu um passo em falso: pelo Twitter, anunciou que todas as conversas de Telegram apreendidas pela Polícia Federal seriam destruídas. No entanto essa decisão não lhe cabe em absoluto, enquanto ministro da Justiça.

Depois ele assinou uma portaria simplificando a deportação de "pessoas perigosas" que estejam sob suspeita de haver cometido atos criminosos. O presidente Jair Bolsonaro já ameaçou [o jornalista americano que divulgou as mensagens em questão, Glenn] Greenwald de "talvez pegar uma cana".

Frankfurter Allgemeine Zeitung – Guerra dos comandos, 31/07/2019

Por trás dos massacres em penitenciárias brasileiras está a luta por lucrativas rotas de cocaína.

[...]

Especialmente disputada é a Região Norte, cujo significado para o contrabando de cocaína aumentou desde que a vigilância das fronteiras se intensificou em outros locais. "A fronteira na Região Amazônica está aberta", afirma Aiala Colares Couto, da Universidade do Pará. "Até por suas dimensões geográficas, é impossível vigiá-la." Atualmente a rota ao longo do rio Amazonas é a mais importante, tanto para o mercado brasileiro quanto para a cocaína destinada à venda na Europa.

Para lucrar com os negócios milionários com a cocaína, quadrilhas criminosas locais da Amazônia também se uniram em facções. A mais poderosa é a Família do Norte, de Manaus, que coopera com o Comando Vermelho (CV). Em Altamira, uma cidade com mais de 110 mil habitantes e uma área quatro vezes maior do que a da Suíça, criou-se o Comando Classe A. O fato de seus membros terem agora massacrado integrantes do CV, diz Colares Couto, pode indicar uma associação com o Primeiro Comando da Capital (PCC).

A partir de seu reduto, São Paulo, nos últimos anos o PCC se expandiu enormemente, em parte também para além das fronteiras nacionais, até o Paraguai e a Bolívia. Ele tornou-se um dos cartéis do narcotráfico mais poderosos da América do Sul, e vem também se envolvendo de maneira crescente no tráfico internacional de cocaína.

Apenas no início do mês, foi preso em São Paulo o italiano Nicola Assisi, um dos narcotraficantes mais procurados do mundo. A serviço da 'Ndrangheta, a máfia calabresa, e em colaboração com o PCC, ele teria transportado toneladas de cocaína dos portos brasileiros para a Europa.

Die Zeit – O mito da eficiência alemã, 25/07/2019

A Vale é uma das maiores multinacionais da mineração em todo o mundo. Ela extrai minério de ferro, níquel, ouro, prata, carvão e bauxita. Em 2018, o conglomerado teve um faturamento aproximado de 36,6 bilhões de dólares. Sua influência política é proporcionalmente grande.

Como prestadora de serviços, a [alemã] TÜV Süd classifica instalações industriais, usinas e teleféricos do mundo inteiro, expedindo certificados de segurança por encomenda de seus clientes. No Brasil, a empresa avaliou a represa de Brumadinho para a Vale. Enquanto sociedade anônima, ela vive de sua reputação ilibada, portanto as ocorrências no Brasil são correspondentemente delicadas.

[...]

A Vale e a TÜV Süd tiveram que responder também diante do Senado brasileiro. No contexto de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, ao longo de 120 sessões os senadores arguiram testemunhas, estudaram os relatórios policiais e as análises do Ministério Público, totalizando mais de 15 mil páginas.

Em junho, os parlamentares exigiram o indiciamento de 14 pessoas, entre os quais Makoto N. e André Y., da TÜV Süd, por "homicídio com dolo eventual". Além disso, foi pedida abertura de processo contra responsáveis de ambas as empresas, por crimes contra o meio ambiente.

O caso também poderá ter consequências na Alemanha para a TÜV Süd. O escritório de advocacia britânico SPG Law, que já atuou em catástrofes anteriores no Brasil, pretende acompanhar o caso junto com juristas associados brasileiros e alemães.

Como divulgou o escritório, a meta é um acordo extrajudicial. No entanto, caso não se alcance consenso até o fim de julho, ele pretende apelar para os tribunais alemães, representando mais de 130 famílias atingidas.

Já em 2015, ocorreu um desastre ambiental semelhante, 120 quilômetros a sudeste de Brumadinho. [...] O conglomerado de mineração Vale também esteve envolvido nessa catástrofe, juntamente com a australo-britânica BHP Billiton. Até hoje, nenhum dos responsáveis teve que arcar com as consequências.

[...]

Por isso as famílias atingidas de Brumadinho temem que possa acontecer o mesmo com elas. A procuradora [Andressa de Oliveira] Lanchotti quer evitar isso com todas as suas forças. "Desta vez a coisa deve ir mais rápido", diz. Para ela, isso implica que o caso seja devidamente concluído, e que se esclareça qual é a responsabilidade da poderosa mineradora Vale – e que culpa cabe à TÜV Süd.

AV/ots

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