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O Carnaval do Rio segundo a mídia internacional

3 de março de 2019

Jornais, redes de televisão e agências de notícias destacam como a nova onda de conservadorismo influencia a primeira folia de Momo da era Bolsonaro. Festa é marcada por críticas ao governo.

Visão de uma multidão colorida comemorando o Carnaval numa rua do Rio de Janeiro
Bloco das Carmelitas: "ato de resistência contra novo governo"Foto: picture-alliance/Agencia Globo/M. Theobald

O Carnaval do Rio de Janeiro costuma ser noticiado no exterior como uma festa de cores, humor e liberdade. Neste ano, reportagens da imprensa internacional também mostram como os foliões cariocas lidam com a nova onda de conservadorismo no primeiro Carnaval da era Bolsonaro.

Matéria da agência Associated Press, reproduzida pelo jornal The New York Times, afirma que o mundialmente famoso Carnaval do Rio começou sob expectativa de críticas contra Jair Bolsonaro, "o presidente de extrema direita conhecido por ofender a comunidade LGBT e minorias".

Um destaque é o Bloco das Carmelitas, cujo enredo Azul ou rosa é tudo igual fez referência à ministra da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves. Uma das participantes do bloco entrevistadas pela reportagem diz que o desfile do grupo "é um ato de resistência contra o novo governo opressor".

O artigo destaca que muitas fantasias do bloco fazem referências aos escândalos de candidaturas laranjas do partido de Bolsonaro, o PSL. "Vinicius Alves, um estudante universitário, usava uma fantasia laranja, com uma faixa na cabeça adornada com dinheiro falso e fatias de laranja", descreve a matéria.

Foliões do Bloco das CarmelitasFoto: Reuters/P. Olivares

Corte de verbas

Também é mencionado o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, que não compareceu para entregar a chave da cidade ao Rei Momo e que tem cortado as verbas para a realização do Carnaval na capital fluminense. "O evangélico Crivella fez comentários negativos sobre as religiões de raízes africanas, praticadas por muitos brasileiros e que têm uma grande influência cultural nas celebrações do Carnaval", diz o texto.

"Desde que o ex-pastor evangélico Marcelo Crivella se tornou o prefeito do Rio em 2016, as verbas municipais para as escolas de samba foram cortadas pela metade", informa a matéria da agência de notícias francesa AFP.

O texto afirma que, "em meio a uma onda conservadora que levou o extremista de direita Jair Bolsonaro ao poder, o Carnaval deste ano no Rio vai mostrar desfiles irreverentes, destacando o papel das mulheres, negros e indígenas no Brasil".

A agência dá como exemplos os enredos de algumas grandes escolas de samba, como a Portela, que homenageia a cantora Clara Nunes, tematizando a força da mulher e a tolerância religiosa e enaltecendo as religiões afro-brasileiras.

A Mangueira é outra escola mencionada. Com seu samba sobre a história das minorias no Brasil, a agremiação lembra Marielle Franco, vereadora do Psol assassinada no ano passado.

Entrega da chave da cidade ao Rei Momo não teve presença do prefeito CrivellaFoto: picture-alliance/AP/S. Izquierdo

Gays e lésbicas com medo

Em artigo veiculado no site da ARD, a principal televisão estatal alemã, o correspondente da emissora na América Latina afirma que neste Carnaval gays e lésbicas têm medo de festejar abertamente nas ruas, por causa do novo presidente.

"Em vez de uma maior aceitação, os homossexuais enfrentam ventos contrários, especialmente desde a eleição do atual presidente Jair Bolsonaro no ano passado", afirma o texto. "Ele discursava obcecadamente contra gays e lésbicas. Dizia que eles queriam destruir a família tradicional e até que tentavam reeducar crianças pequenas, torná-las homossexuais – tais acusações foram os principais pilares de sua campanha eleitoral."

A consequência pode ser sentida na atmosfera deste Carnaval, segundo a reportagem. "O clima mudou, dizem muitos aqui. Como resultado, a homofobia e o preconceito tornaram-se socialmente aceitáveis novamente."

MD/ots

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