Passagem subterrânea em Berlim ficou famosa no mundo cinema e apareceu em seis filmes de ação nos últimos anos. Sua realidade, porém, não tem nenhum glamour: local, evitado por moradores, deve ser fechado em breve.
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Esse lugar daria um cenário ideal para cena de um bom filme de suspense ou terror, foi o que pensei na primeira vez que passei pela passagem subterrânea que atravessa a avenida Messedamm, entre a rodoviária e a estação de trem Messe Nord/ICC. Os azulejos laranja nas paredes e colunas da passagem, além de suas luminárias redondas, dão um ar futurista ao espaço.
A solidão do corredor e seus cantos escuros estimulam ainda a sensação de medo... aquela que prediz cenas de perseguição. Tempos depois da minha travessia na passagem, ela se tornou pela segunda vez, desde 2004, cenário de um filme de Hollywood, em Hanna. A primeira foi em A supremacia Bourne, que transformou o espaço berlinense no aeroporto de Moscou.
Depois disso, em três anos seguidos ela foi locação de filmes de ação. Em 2015, a passagem apareceu em cenas da última parte da saga Jogos vorazes. Em 2016, foi a vez de estrear na franquia Capitão América, surgindo no terceiro filme, Guerra civil. Já em 2017, em Atômica, a passagem foi escolhida para a primeira cena de ação, na chegada da personagem de Charlize Theron a Berlim.
Apesar do glamour cinematográfico, a realidade da passagem é oposta à da ficção. Construída na década de 1970, planejada para ser futuramente uma estação de metrô (algo que nunca aconteceu), ela é um lugar evitado por quem precisa cruzar a avenida na região.
Até mesmo antes da instalação do semáforo, muito preferiam se arriscar atravessando nos meios dos carros do que passar pelo túnel. Além de escadas rolantes constantemente quebradas, o lugar é usado como banheiro, tela para pichadores e também acumula lixo, exalando odores que transformam a travessia numa jornada pouco agradável.
E nem mesmo a atenção de Hollywood conseguiu afastar a má reputação do espaço. Devido a esta realidade sombria, que afasta pedestres do local, e aos custos anuais de manutenção (345 mil euros por anos), a prefeitura do bairro decidiu que fechará o acesso ao túnel. A data ainda não foi anunciada, por isso, para quem não conhece ainda dá tempo de conhecer esse cenário.
As autoridades analisam possibilidades para a utilização da passagem após seu fechamento. É certeza que ela continuará sendo oferecido como locação para filmes. E enquanto estiver fechada, e isso pode perdurar por anos, os berlinenses só terão acesso a esse cenário futurístico através do cinema.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
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Os dez melhores filmes em Berlim
Palco de guerra e conciliação, centro de política e diversão, cidade de agentes e criminosos, música e poesia: há mais de 100 anos o cinema enfoca Berlim. Quais são os seus filmes preferidos sobre a mágica metrópole?
Foto: picture-alliance/dpa
#10: Menschen am Sonntag
Um olhar cético: a modelo Annie (Annie Schreyer) bem gostaria de passar o domingo em casa. Seus amigos estão se divertindo no lago Wannsee. Berlim e cercanias são os verdadeiros protagonistas de "Gente no domingo", uma mistura de documentário e ficção lançada em 1930. A direção conjunta desse legendário pioneiro entre os filmes sobre Berlim coube a Robert Siodmak e Edgar G. Ulmer.
Foto: Imago/United Archives
#9: Cabaret
O diretor e coreógrafo americano Bob Fosse rodou o musical "Cabaret" em 1972, em duas cidades alemãs: a maioria das externas em Berlim Ocidental, as cenas internas em estúdios de Munique. A trama da intensa tragicomédia, premiada com oito Oscars, se desenrola em 1931, tendo a ascensão do nazismo como pano de fundo para os improváveis amores Liza Minnelli (na foto, com Joel Grey).
Foto: picture-alliance/AP Photo/Warner Bros. Home Video
#8: Die Mörder sind unter uns
Wolfgang Staudte realizou "Os assassinos estão entre nós" em 1946, como primeira produção cinematográfica alemã após a Segunda Guerra Mundial, pela companhia Defa. As filmagens se dividiram entre estúdios berlinenses e locações autênticas na metrópole devastada – dando origem ao gênero "Trümmerfilm" ("filme das ruínas"). A estreia foi no setor de Berlim sob ocupação soviética.
Foto: DEFA
#7: One, two, three
Billy Wilder enfrentou circunstâncias espetaculares ao realizar "Cupido não tem bandeira" em 1961. O veterano hollywoodiano nascido na Áustria pretendia usar como cenário a Berlim dividida, mas ainda basicamente transitável. Durante as filmagens, porém, o Muro foi erguido. Por ser impossível filmar no Portão de Brandemburgo, o monumento precisou ser trabalhosamente replicado em Munique.
Foto: picture-alliance/dpa
#6: Bridge of Spies
A trama da coprodução teuto-americana "Pontes dos espiões" (2015) igualmente se desenrola no auge da Guerra Fria. O aclamado Steven Spielberg realizou as filmagens em locações originais da capital alemã. Além do icônico Muro de Berlim, recebe destaque a Glienicker Brücke, ponte historicamente famosa como local de troca de espiões na Alemanha dividida.
Foto: 2014 Twentieth Century Fox
#5: Berlin is in Germany
Em 2001 Hannes Stöhr salpicou com imagens eloquentes da nova-velha capital sua história de um outsider da história. Em "Berlim fica na Alemanha", Jörg Schüttauf (na foto, à esquerda) interpreta Martin, cidadão da extinta RDA que começou a cumprir sua pena de prisão nos tempos do regime comunista. Ao ser libertado, a queda do Muro e o país reunificado são coisas que ele só conhece da televisão.
Foto: Imago/EntertainmentPictures
#4: Sommer vorm Balkon
Andreas Dresen concentrou a ação de "Verão em Berlim" (2004) no bairro Prenzlauer Berg. As protagonistas Katrin (Inka Friedrich) e Nike (Nadja Uhl) têm sua amizade posta à prova ao conhecerem um caminhoneiro boa-vida. A combinação de comédia social e colorido local berlinense agradou ao público nacional.
Foto: Imago/United Archives
#3: Oh Boy
O diretor Jan-Ole Gerster evocou atmosferas anticonvencionais em seu primeiro longa. Com grande sensibilidade para nuances poéticas, encenou a trajetória do melancólico Niko Fischer (Tom Schilling), que largou a universidade e vaga pelas ruas berlinenses. Trabalho de conclusão do curso de cinema para Gerster, "Oh Boy" (2012) conquistou seis Prêmios do Cinema Alemão, entre outros.
Foto: picture-alliance/dpa/X-Verleih
#2: Victoria
Em 2015, Sebastian Schipper conseguiu materializar nas telas o mundo noturno da juventude de Berlim. Tudo começa com uma noitada num clube, onde vários amigos se reúnem – mas acabam por se envolver num redemoinho de situações imprevistas e potencialmente fatais. Rodado em uma única tomada, o thriller "Victoria" oferece 140 minutos de autêntica vivência jovem berlinense.
Foto: Panorama Entertainment
#1: Der Himmel über Berlin
Mais berlinense de todos os filmes berlinenses, "As asas do desejo" (1987) deve ao fotógrafo francês Henri Alekan inesquecíveis imagens em preto-e-branco da metrópole a poucos anos da queda do Muro. Wim Wenders enfoca Damiel (Bruno Ganz) e Cassiel (Otto Sander), dois anjos que observam e guardam à distância a vida na cidade. Até que um deles sucumbe ao fascínio de ser humano. Ou de Berlim?