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O chá beneficente do G-8

(sv)9 de junho de 2004

Ironicamente, o encontro do G-8 toma a forma de chá das cinco beneficente. No lugar da pauta econômica, fala-se de Oriente Médio e África. Bush e Schröder trocam amabilidades pela primeira vez após a guerra do Iraque.

Schröder e Bush: amabilidades após longa pausaFoto: AP

Não fosse o fato de serem os chefes de governo dos sete países mais ricos do mundo, ao lado da Rússia, o encontro de cúpula do G-8, que acontece na pequena Sea Island, na costa norte-americana, poderia ser confundido com uma reunião de organizações de ajuda humanitária. Afinal, a fachada trata de reformas em prol da democracia no Oriente Médio, propõe medidas de combate à Aids na África, planeja um "monitoramento da fome" no continente e medidas para a criação de missões de paz.

O problema maior do clã dos mais ricos é talvez não perceber que os países pobres – árabes, africanos ou onde quer que seja – devem tomar, eles próprios, as rédeas de seus destinos. Sem a tutela de qualquer grande potência. "Os americanos se atêm ao costume colonial de estabelecer o que é bom para o outro", comenta o diário alemão Süddeutsche Zeitung.

Em entrevista após sua conversa com George W. Bush na última terça-feira (09), o premiê alemão Gerhard Schröder tateou a questão, reafirmando que "não se pode dar a um lado a impressão de que o outro está querendo forçá-lo a qualquer direção política".

De vendedores de armas a mediadores da democracia

Cúpula do G-8 em Sea Island: rígido esquema de segurançaFoto: AP

Isso, diga-se de passagem, é certamente o que pensaram os chefes de governo do Egito, Arábia Saudita e Marrocos, ao recusar o convite para dividir o banquete em Sea Island ao lado dos poderosos do planeta. Segundo Schröder, não se trata de obrigar os países do Oriente Médio a aceitar qualquer proposta política, mas simplesmente de fomentar o diálogo entre as nações envolvidas em conflitos.

"Numa região na qual os EUA e a Europa se apresentam na maioria das vezes apenas como compradores de petróleo ou vendedores de armas, o debate iniciado em torno da democracia é um progresso", observa um comentarista saudita citado pelo Süddeutsche Zeitung.

O esboço proposto por Bush até agora sugere que o Iraque venha a servir de modelo para tais reformas. A questão é saber quando e como o país completamente destruído física e socialmente vai poder servir de exemplo para qualquer coisa. A pseudo-abertura dos EUA para dialogar com o mundo árabe aconteceu inclusive poucas horas depois que o Conselho de Segurança da ONU conseguira aprovar a nova resolução para o Iraque.

Resolução agridoce

Novo presidente iraquiano Ghasi Yauar em Sea IslandFoto: AP

Esta pretende servir como ponto de partida para uma nova ordem no país. O esboço apresentado pelos governos dos EUA e Reino Unido foi modificado quatro vezes nas últimas três semanas, até conseguir ser aprovado pelo Conselho da ONU, após algumas oscilações por parte dos governos francês e russo.

A resolução regulamenta a passagem do poder das mãos dos governo norte-americano à população local. Mais um atentado ocorrido no Iraque exatamente no dia em que a resolução era aprovada (08) deixa claro o que está ali à espera da comunidade internacional.

A aprovação da resolução deixa explícito que Washington deu a mão à palmatória, assumindo, de uma forma ou de outra, a própria fragilidade. Para a Casa Branca e seus aliados, trata-se de uma resolução agridoce.

A porção amarga é atribuída à necessidade da superpotência mundial de ter que passar a bola à comunidade internacional, por não conseguir ir até o fim sozinha. O lado doce é o fato de que Bush só fez isso quando bem entendeu. E principalmente quando a presença da ONU no país pareceu mais adequada aos interesses geopolíticos e econômicos norte-americanos.

Empresas alemãs na reconstrução do Iraque

Protestos anti-G-8 nas praias de Sea IslandFoto: AP

Na conversa entre Bush e Schröder em Sea Island – ambos sem os ternos e gravata de praxe, emanando um clima de amiguinhos, trocando amabilidades e até rindo juntos do cachorro do presidente norte-americano – a participação das empresas alemãs na reconstrução do Iraque talvez tenha sido o ponto de mais importância, discretamente tocado entre uma e outra conjetura acerca dos destinos do Oriente Médio.

Seja pela razão que for, fato é que o gelo entre Berlim e Washington parece dessa forma praticamente derretido. Os dois chefes de governo ultrapassaram a meia-hora de conversa programada, enquanto Bush elogiava a atuação da Alemanha no Afeganistão, a disponibilidade de Berlim em se engajar pela paz no mundo e a participação do país em prol da nova resolução para o Iraque. Tudo para exalar uma atmosfera extremamente amena, bastante diferente daquela do último encontro do G-8, na francesa Evian, há um ano.

Simbolicamente, Schröder, contrariando o protocolo, seguiu pelas ruas de Sea Island não na limusine negra de praxe dos chefes de governo, mas dirigindo ele próprio um colorido e pequeno carro elétrico nas cores da bandeira alemã. Guiando seu próprio destino, o premiê alemão foi ao encontro de Bush para a "reunião mais calorosa desde 2003", segundo estampou a mídia nos dois países.

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