1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

O colecionador de títulos

Gerd Wenzel
Gerd Wenzel
10 de fevereiro de 2021

O Bayern de Munique levantou 25 troféus nos últimos dez anos e está perto de conquistar mais um. Só que desta vez, no Mundial de Clubes, todo cuidado é pouco. O Palmeiras que o diga.

A primeira vez que o Bayern disputou um Mundial de Clubes foi em 1976, contra o Cruzeiro de Belo HorizonteFoto: Sven Simon/imago images

Vinte e cinco títulos nos últimos dez anos e se aproximando da conquista de mais um. Esta é a trajetória recente do Bayern, sem paralelo no histórico dos grandes clubes das grandes ligas do futebol europeu. Desses 25 títulos obtidos, 20 foram no nível nacional e cinco, no internacional.

Se levarmos em conta que desde 1932 o Bayern levantou ao todo 72 troféus, percebemos claramente quão significativo foi e continua sendo esse período que o clube de Munique atravessa atualmente. Basta dizer que 35% dos títulos do Bayern foram conquistados nos últimos dez anos. 

A primeira vez que os bávaros disputaram um Mundial de Clubes (chamado na época de Copa Intercontinental) foi em 1976, contra o Cruzeiro de Belo Horizonte. A edição do ano anterior, que previa o confronto entre Bayern e Independiente, não se realizou porque não foi possível agendar uma data compatível com os compromissos das duas equipes.

Naquela época previa-se a realização de duas partidas. A primeira entre Bayern e Cruzeiro foi realizada no Estádio Olímpico de Munique em novembro, perante apenas 22 mil espectadores e debaixo de neve e de um frio de amargar. Raul Plassmann, goleiro do time mineiro, conta que seu colega do Bayern, Sepp Maier, lhe presenteou com luvas apropriadas para que pudesse atuar.

Mesmo com essas condições climáticas adversas e sem poder contar com Dirceu Lopes, ainda não totalmente recuperado de uma lesão, o Cruzeiro de Piazza, Zé Carlos e Jairzinho lutou bravamente e sucumbiu apenas nos últimos minutos da partida, quando dois gols em dois minutos – um de Müller e outro de Kappelmann – decretaram a vitória bávara.

Em 21 de dezembro, no Mineirão, foi realizada a partida de volta. O ambiente no Cruzeiro ficou um pouco conturbado porque na véspera do jogo houve acaloradas discussões sobre o valor da premiação em caso de vitória e conquista do título.

Enquanto isso, o Bayern também teve os seus problemas, especialmente de ordem logística. O avião saiu atrasado de Munique e ainda teve uma escala no Rio de Janeiro com troca de aeronave. Resumo da ópera: a viagem durou mais de 20 horas, e o time chegou à capital mineira em cima do laço. 

Tentando se aproveitar do eventual cansaço dos bávaros, os cruzeirenses foram para cima da equipe comandada por Franz Beckenbauer.  Incentivado pela imensa torcida que superlotava as dependências do Mineiro – público estimado de 113 mil espectadores – o Cruzeiro, dessa vez podendo contar com o reforço de Dirceu Lopes, dominou o jogo e fez uma partida de encher os olhos. Enquanto isso, o Bayern se segurou o quanto pôde. E conseguiu. O goleirão Sepp Maier fez uma das melhores partidas de sua brilhante carreira.

Para Dirceu Lopes, quem ganhou aquele jogo foi o camisa 1 do Bayern: "O Sepp Maier ganhou a partida. Eu nunca vi uma atuação de um goleiro como vi naquela partida. Foi espetacular."

Passados 25 anos, o Bayern novamente disputaria uma final, desta vez contra o Boca Juniors em partida única no Estádio Olímpico de Tóquio. Levou a melhor por 1x0, com gol do zagueiro Samuel Kouffur na prorrogação.

Em 2013, já no formato de Copa do Mundo de Clubes da Fifa, depois de passar pela semifinal frente ao chinês Guangzhou Evergrande por 3x0, ficou aguardando o seu adversário que sairia do confronto entre Raja Casablanca e Atlético Mineiro. Para surpresa geral, os atleticanos deram chabu (derrota por 3x1) e tiveram que se contentar com a medalha de bronze.

O Bayern de Pep Guardiola não se fez de rogado frente à equipe marroquina de Casablanca e levantou pela terceira vez o título de campeão mundial de clubes, com gols dos brasileiros Dante e Thiago. Com 2x0, o jogo chegou ao fim, e os bávaros foram para o abraço.

Antes de embarcar em Berlim rumo ao Catar, sede da atual edição do torneio, Thomas Müller, sorridente como sempre, ergueu a mão, fez o sinal com quatro dedos e explicou, como se necessário fosse, mas para não deixar qualquer dúvida: "Queremos o tetra."

Nos três mundiais que disputou até agora, o Bayern fez cinco jogos, empatou um, ganhou quatro, marcou oito gols e não sofreu nenhum. Os números teimam em falar a favor dos bávaros.

Só que desta vez, todo cuidado é pouco. O Palmeiras que o diga. O Tigres surpreendeu a equipe alviverde na semifinal e colocou o México pela primeira vez numa final de um Mundial de Clubes.

É bom que os jogadores do Bayern coloquem suas barbas de molho. Na equipe do Tigres joga um lateral direito chamado Carlos Salcedo. A última lembrança que ele tem de uma equipe alemã vem da Copa do Mundo de 2018, e é uma boa lembrança.

Na primeira partida pela fase de grupos, o México, com Salcedo escalado na lateral direita, entrou em campo para encarar a então campeã mundial Alemanha. O México venceu por 1x0 e provocou o início do fim dos alemães naquela Copa.

Neuer, Boateng, Kimmich e Müller, ao contrário de Salcedo, querem esquecer esse jogo, mesmo porque estiveram em campo amargando aquela derrota. Terão a chance agora, com a camisa do Bayern, de se redimir do vexame de então e, de quebra, conquistar mais um título para a coleção dos "Die Roten".

--  

Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Atuou nos canais ESPN como especialista em futebol alemão de 2002 a 2020, quando passou a comentar os jogos da Bundesliga para a OneFootball de Berlim. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. 

Pular a seção Mais sobre este assunto
Pular a seção Mais dessa coluna

Mais dessa coluna

Mostrar mais conteúdo
Pular a seção Sobre esta coluna

Sobre esta coluna

Halbzeit

Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Na coluna Halbzeit, ele comenta os desafios, conquistas e novidades do futebol alemão.