Contra a poluição nas metrópoles, como suvenires ou para o emprego em hospitais: empresas engarrafam oxigênio, transformando-o num lucrativo negócio internacional.
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A demanda por oxigênio nunca foi tão grande – principalmente na China. No país onde anualmente um milhão de pessoas morrem em consequência da poluição atmosférica, moradores estão cada vez mais importando ar: ao preço médio de 20 dólares por garrafa.
O ar vem das montanhas de diferentes países, como o Canadá. Moses Lam, cofundador da Vitality Air, baseada em Edmonton, se diz estar surpreso com o sucesso. Em entrevista à emissora CBC, ele admite que tudo começou com uma brincadeira. Mas, após vender a primeira leva de centenas de garrafas em quatro dias, ele resolveu profissionalizar o negócio
Atualmente, Vitality Air dispõe de escritórios não somente na China, mas também na Índia, Coreia do Sul e Vietnã. A cada duas semanas, 20 funcionários coletam centenas de milhares de litros de ar nas Montanhas Rochosas canadenses. "Ar do Parque Nacional de Banff, o mais antigo do Canadá, é um sucesso", conta Lam.
A fabricação, no entanto, é complicada, pois o ar atmosférico é composto por somente cerca de 20% de oxigênio puro. Ele precisa ser então comprimido e limpo. Além disso, a preciosa mercadoria não possui validade ilimitada. "Por esse motivo, as garrafas devem ser usadas dentro de um a dois anos", recomenda o vendedor de ar.
Desde novembro de 2015, a empresa Green & Clean engarrafa a partir de Sydney ar australiano – das Montanhas Blue ou da Grande Barreira de Corais. Encomendas mínimas de 4 mil garrafas asseguram à firma um faturamento em dólares na casa dos seis dígitos. Os principais clientes vêm de toda a região asiática.
Ar como suvenir
Para algumas pessoas, o ar ou, mais acertadamente, o oxigênio em cilindro é vital: o setor de saúde precisa dele tanto de forma ambulatorial quanto em hospitais ou nos cuidados em casa.
Entre os principais produtores e fornecedores mundiais de oxigênio estão duas empresas alemãs: o grupo Linde em Munique e a firma Air Products de Hattingen, no estado da Renânia do Norte-Vestfália.
A Air Products foi fundada nos EUA já nos anos 1940 e hoje está presente em 50 países. O grupo Linde é ainda maior. A companhia fundada em 1880 pelo inventor do refrigerador, Carl von Linde, está representada atualmente em cerca de cem países. No ano fiscal de 2016, seu faturamento com os negócios de gás chegou a 3,74 bilhões de euros (cerca de 13,7 bilhões de reais).
Há também o ar em garrafinhas, que enfeitam, possivelmente, as prateleiras de compradores e presenteados: elas são lembranças de férias. Até hoje, relógios cuco fazem o maior sucesso como recordação da Floresta Negra. Mas agora, Elke Ott quer oferecer um contraponto a essa tradição, vendendo ar dessa região alemã. Não em garrafas, mas em latas. Já o empresário Stefan Butz, da cidade de Bad Kreuznach, prefere garrafas cristalinas para engarrafar ar de salinas do estado do Sarre.
Uma tentativa semelhante já houve por ocasião da Copa do Mundo de 2006, na Alemanha. Na época, havia o "Ar de Berlim Original". A presunçosa piada ocupou até os burocratas da União Europeia (UE) em Bruxelas. A acusação da UE era que mais de 30% das latas apresentavam elevados níveis de partículas finas. Mesmo assim, a UE não proibiu a venda.
Além de artigo de brincadeira, o ar engarrafado também pode ser usado no ativismo político por mais proteção ambiental: em 2012, o milionário e filantropo Chen Guangbiao vendeu nas ruas garrafas com ar de regiões rurais.
Pesquisadores procuram alternativas para o caso de que o oxigênio no ar não seja mais suficiente para respirar. A proposta deles é restringir o consumo. Eles se baseiam nas conclusões do Centro de Medicina Molecular Max Delbrück de Berlim, membro da Associação Helmholtz.
Os cientistas descobriram que, em suas cavernas subterrâneas, os ratos-toupeira podem suportar por muito mais tempo o ar abafado. Nos experimentos, eles sobreviveram cinco horas ao ingerir frutose de raízes. Além disso, eles reduziram seu pulso de 200 a 50 batimentos por minuto. Se esses roedores podem servir de exemplo para os humanos está em investigação.
Os dez lugares mais poluídos do mundo
Segundo o relatório "Meio Ambiente Tóxico" publicado pela fundação suíça Green Cross, 200 milhões de pessoas em todo o mundo são confrontadas com a poluição ambiental. O relatório analisou onde é mais difícil viver.
Foto: Blacksmith Institute
Ameaça à vida
Cerca de 200 milhões de pessoas no mundo são diretamente confrontadas com a poluição do meio ambiente. Solo contaminado por metais pesados, lixo químico espalhado no ar, resíduos eletrônicos tóxicos nos rios. Estes são apenas exemplos citados pelo relatório da Fundação Green Cross.
Foto: picture alliance/JOKER
Depósito de lixo de Agbogbloshie, em Gana
Pilhas de discos de satélites e televisores quebrados compõem o cenário no segundo maior depósito de lixo da África Ocidental, que fica em Agbogbloshie, na cidade ganense de Acra. O relatório classificou o local como um dos mais poluídos do planeta. A queima de fios metálicos envoltos em plástico, a fim de recuperar o cobre, torna o lixo ainda mais perigoso, além de liberar chumbo na área.
Foto: Blacksmith Institute
Rio Citarum, na Indonésia
As águas do rio Citarum, na Indonésia, são mil vezes mais poluídas que água potável e contêm grandes quantidades de alumínio e ferro. Cerca de 2 mil fábricas usam o rio como fonte de água e despejam seus resíduos industriais nele. O Citarum ainda abastece milhões de pessoas nas regiões por onde passa.
Foto: Adek Berry/AFP/Getty Images
Centro industrial de Dzerzhinsk, na Rússia
Dzerzhinsk é um dos centros industriais químicos mais importantes do mundo. Entre 1930 e 1998, cerca de 300 mil toneladas de lixo químico não foram devidamente depositadas na área. Essas substâncias acabaram poluindo tanto o lençol freático quanto o ar. A expectativa de vida é de 47 anos entre as mulheres, enquanto entre os homens é de 42 anos.
Foto: Blacksmith Institute
Usina nuclear de Chernobil, na Ucrânia
Até hoje Chernobil é lembrada como o local do maior acidente nuclear da história. No dia 25 de abril de 1986, um incêndio e o derretimento nuclear produziram uma nuvem de radioatividade. Ninguém mais mora a menos de 30 quilômetros de distância da região do acidente. O solo na área da antiga usina ainda é contaminado e coloca em risco a produção de alimentos. Muitos moradores ficaram com leucemia.
Foto: Blacksmith Institute
Curtumes de Hazaribagh, em Bangladesh
Hazaribagh tem mais curtumes do que qualquer outro lugar de Bangladesh. A maioria dessas fábricas usa métodos antigos e ineficazes e acaba despejando cerca de 22 mil litros de resíduos tóxicos por dia no rio Buriganga, principal fonte de abastecimento de água de Dhaka. Muitos moradores sofrem de doenças de pele e das vias áreas causadas pelo material cancerígeno.
Foto: Blacksmith Institute
Minas de chumbo em Kabwe, na Zâmbia
Em Kabwe, a segunda maior cidade da Zâmbia, muitas crianças sofrem com elevados índices de chumbo no sangue. Durante um século, minas de chumbo liberaram metais pesados por meio de partículas de poeira que caíam no chão tanto na cidade quanto nos arredores.
Foto: Blacksmith Institute
Minas de ouro em Kalimantan, na Indonésia
Kalimantan pertence à parte indonésia da ilha do Bornéu e é particularmente conhecida por suas minas de ouro. Para obter o metal precioso, muitos mineiros usam mercúrio, liberando mais de mil toneladas de material tóxico no meio ambiente todo ano, poluindo os lençóis freáticos.
Cerca de 5 mil fábricas despejam esgoto nas águas do rio Matanza-Riachulo, na Argentina. Segundo o relatório da fundação Green Cross, produtores químicos são culpados por mais de um terço da poluição deste rio, que contém grandes quantidades de zinco, chumbo, cobre, níquel, além de outros metais pesados. A população da região sofre de problemas intestinais e nas vias aéreas.
Foto: Yanina Budkin/World Bank
Delta do rio Níger, na Nigéria
O Delta do rio Níger é uma área de alta densidade populacional, concentrando 8% de toda a população da Nigéria. O local sofre com poluição por petróleo e hidrocarbonetos, que contaminam o solo e os lençóis freáticos. Em média, o equivalente a 240 mil barris de petróleo atingem o delta por ano por conta de acidentes ambientais ou roubo da matéria-prima.
Foto: Terry Whalebone
Cidade industrial de Norilsk, na Rússia
Aproximadamente 500 toneladas de óxidos de cobre e de níquel, além de 2 milhões de toneladas de óxido de enxofre, são liberados na cidade industrial russa de Norilsk por ano. A poluição do ar é tão grande que a expectativa de vida dos trabalhadores das indústrias da cidade é dez vezes menor do que a média registrada na Rússia.