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O controverso prêmio da paz para Kim Jong-un

Esther Felden (av)6 de agosto de 2015

Notório pelas violações dos direitos humanos, evidenciadas em relatório recente da ONU, ditador da Coreia do Norte é laureado pela Fundação Sukarno, da Indonésia, com mesma distinção dada a nomes como Gandhi e Suu Kyi.

Kim Jong Un, líder comunista aos 32 anos
Foto: Reuters/KCNA

O ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, receberá em setembro uma distinção da fundação indonésia Sukarno – que leva o nome do primeiro presidente do Estado insular sul-asiático. O anúncio da premiação tem despertado crítica e perplexidade internacional: trata-se de um prêmio da paz, em reconhecimento pela "luta contra o imperialismo neocolonialista" supostamente travada por Kim.

Entre os que se escandalizaram com a premiação certamente está o juiz australiano Michael Kirby. Ele foi o presidente da comissão das Nações Unidas que em 2014 publicou um relatório de centenas de páginas sobre as violações dos direitos humanos na Coreia do Norte, trazendo dados chocantes.

"Eu não contava com a infâmia da liderança norte-coreana e com a extensão do sofrimento, sobretudo em conexão com as colônias penais e de trabalhos forçados", confessou Kirby na época à DW."Em um dos casos, uma mulher nos descreveu como foi forçada a segurar seu bebê de cabeça para baixo num balde com água, até que ele morresse afogado."

"Propaganda ocidental"

Sofrimento, infâmia, crimes contra os direitos humanos em grande estilo, em nome da liderança? Eliminação de adversários políticos ou de pessoas que possam ser perigosas para o jovem Kim – como seu tio e antigo homem de confiança político Jang Song-thaek, executado no fim de 2013? Rachmawati Sukarnoputri, diretora da Fundação Sukarno e filha do primeiro presidente da Indonésia, não quer saber de nada disso.

Segundo declarou à agência de notícias AFP, para ela as acusações são "inverdades" e "nada além de propaganda ocidental". Sukarnoputri vê paralelos com o próprio pai, que liderou a luta pela independência nacional antes de assumir a presidência do país. E lembra que Sukarno também foi acusado na época de ser um "ditador demoníaco", que desrespeitava os direitos humanos.

Michael Kirby, ao apresentar relatório sobre violações de direitos humanos na Coreia do NorteFoto: Reuters

"Mas essas imputações se revelaram falsas com o passar do tempo", afirma, convencida. De acordo com Sukarnoputri, o Ocidente teria por hábito estigmatizar aqueles que defendem os próprios princípios, como Kim Jong-un e o pai dela.

Ao lado de Ghandi

Tradicionalmente, Jacarta e Pyongyang cultivam certa proximidade. As duas nações já mantêm relações bilaterais desde a década de 1950, sobre as bases lançadas por Sukarno e pelo fundador do Estado norte-coreano, Kim Il-sung.

Ainda em abril de 2014, o presidente indonésio, Joko Widodo, recebeu uma delegação da Coreia do Norte. E também não é a primeira vez que o prêmio da paz da Fundação Sukarno vai para a família Kim: em 2001 o agraciado de forma póstuma foi Kim Il-sung, que morrera sete anos antes.

Contudo, na lista dos premiados estão nomes como Mahatma Gandhi e Aung San Suu Kyi. Um comentarista do jornal Jakarta Globe também diz estranhar que dois dos mais renomados e internacionalmente reconhecidos paladinos da liberdade e da democracia sejam citados lado a lado com Kim Il-sung e Kim Jong-il.

"Não está claro de que jeito Kim Jong-un possa ter contribuído para a paz mundial, ou ser comparado com esses dois ícones da maneira mais distante que seja", diz o Jakarta Globe. Na realidade, prossegue o jornal, foi sob sua "liderança beligerante e agressiva" que as já tensas relações com a Coreia do Sul, o Japão e os Estados Unidos congelaram de vez.

Pyongyang provoca regularmente países vizinhos e EUA com testes de mísseisFoto: Reuters

"Em nome da justiça e humanidade"

Kim Jong-un será laureado em nome da "paz, justiça e humanidade", explica Rachmawati Sukarnoputri. Mas esses são os três últimos termos que Michael Kirby associaria ao ditador de 32 anos. Ele conta ter sentido "nojo e repulsa" pela liderança de Pyongyang ao conversar com as centenas de testemunhas na Coreia do Norte.

As histórias que escutou ao longo de meses de inquéritos falam de sofrimento e crueldade simplesmente inimagináveis. Como a de um sobrevivente de um campo de presos políticos.

"Seu trabalho consistia em eliminar os corpos consumidos pela fome dos detentos mortos. Mas lhe faltava o equipamento necessário. Então ele queimava os cadáveres num grande tonel", conta Kirby. As cinzas e demais restos mortais eram usados nas plantações vizinhas como fertilizantes. "Ele disse que dava um bom adubo."

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