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O declínio da influência do Ocidente na América Latina

Alexander Busch | Kolumnist
Alexander Busch
15 de junho de 2022

A influência dos EUA na América Latina está diminuindo com uma rapidez impressionante. Isso não é ruim para a região, mas deve servir de alerta para a Europa, escreve Alexander Busch.

O presidente dos EUA, Joe Biden, durante a Cúpula das Américas, que ocorreu neste ano em Los Angeles. Esvaziamento do evento evidenciou declínio da influência dos EUA no continenteFoto: Kevin Lamarque/REUTERS

A velocidade com que mudanças geopolíticas fora do Ocidente estão ocorrendo é impressionante. Isso é verdade em todo o mundo, mas é particularmente gritante na América Latina: um presidente americano convoca uma cúpula e ninguém quer ir – algo que teria sido inimaginável há pouco tempo.

Para os EUA, a Cúpula das Américas foi um doloroso revés. Mas nós, na Europa, deveríamos ver isso como um sinal de alerta: já que logo poderemos estar em uma situação semelhante.

Pois, assim como os EUA, nós também oferecemos pouco para a América Latina. Não temos novas propostas ou projetos conjuntos sobre as questões mais urgentes para a região – migração, comércio, pobreza crescente e criminalidade. Além disso, os latino-americanos notaram que a Europa, assim como os EUA, pouco ajudou a região com o fornecimento de vacinas durante a pandemia, em contraste com Moscou e Pequim.

Governos da América Latina experimentam atualmente uma apreciação geopolítica devido à crise da Ucrânia. Matérias-primas estão se tornando mais importantes, os alimentos ficam mais escassos, o preço da energia está subindo. Além disso, a transição energética global favorece a América do Sul.

A região possui matérias-primas essenciais para a eletromobilidade, como cobre, lítio e nióbio. Esses países logo se tornarão importantes fornecedores de hidrogênio verde através de suas fontes de energia sustentável – como um substituto para o petróleo, carvão e gás natural.

O peso geopolítico da América Latina crescerá, portanto, num mundo cada vez mais polarizado. Isso é bom para a região. Ela se tornará menos dependente dos EUA, a grande potência dominante no norte do continente. A influência da China na região tenderá a aumentar, e a importância dos EUA continuará a diminuir.

E a Europa? A Europa também terá que se ajustar à crescente indiferença por parte da América Latina. Berlim, Paris e Bruxelas gostam de criticar as deficiências das democracias da região e a falta de padrões ambientais na América Latina, mas, ao mesmo tempo, demonstram menos incômodo em relação a outras nações com as quais cooperam economicamente de maneira mais estreita.

Será curioso ver o que acontecerá nas várias cúpulas entre a UE e América Latina no futuro. Há muitas delas: cúpulas ibero-americanas, reuniões UE-Mercosul, cúpulas UE-América Latina, etc.

Na verdade, ninguém na América Latina está interessado nelas há muito tempo. Mas as pessoas ainda resolvem aparecer por lá, como se fossem visitar tios e tias estranhos que os convidam para um almoço de domingo.

Será que esse ainda será o caso no futuro?

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Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.

O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.

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Tropiconomia

Há mais de 25 anos, Alexander Busch é correspondente de América do Sul para jornais de língua alemã. Ele estudou economia e política e escreve, de Salvador, sobre o papel no Brasil na economia mundial.

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