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O dia em que Bonn foi derrotada por Berlim

Jean-Philip Struck20 de junho de 2016

Há 25 anos, Bundestag decidiu transferir sede do governo alemão para Berlim, capital desde a Reunificação. Temores de que cidade renana fosse definhar nunca se confirmaram.

Bonn vista do alto: provinciana e tranquilaFoto: picture alliance/Hartwig Lohmeyer/JOKER

Bonn, 20 de junho de 1991. Foram mais de dez horas de debates acalorados no Bundestag (Parlamento alemão) até que os deputados votassem. No final, por uma diferença de apenas 18 votos, Berlim voltou a ser a sede do governo da Alemanha. Assim, governo e Parlamento deveriam deixar a cidade renana que lhes dava abrigo desde 1949.

O chanceler federal Helmut Kohl se mostrou satisfeito com o resultado. Junto com seu então ministro do Interior, Wolfgang Schäuble (que hoje ocupa a pasta das Finanças), ele argumentava que Berlim, a cidade símbolo da divisão alemã durante a Guerra Fria, era a escolha apropriada para uma Alemanha que havia completado o processo de reunificação alguns meses antes. Coube a Schäuble convencer na última hora uma série de deputados de que a mudança era necessária. Antes da votação, pesquisas apontavam que a maioria do Parlamento era favorável a deixar as coisas como estavam.

Bonn havia sido escolhida capital provisória da Alemanha Ocidental logo após a Segunda Guerra Mundial, quando Berlim perdeu seu antigo status após a divisão do país. A cidade era relativamente desconhecida e tinha uma população que, à época, contava pouco mais de 100 mil habitantes. Por influência pessoal do então chanceler Konrad Adenauer, um nativo de Colônia (próxima a Bonn), acabou sendo escolhida em detrimento de Frankfurt.

Em 20 de julho de 1991, Bundestag em Bonn decide sobre mudança de governoFoto: Deutscher Bundestag, Presse-Service Steponaitis

Nos 30 anos seguintes, o status de capital provisória foi mais ou menos se tornando permanente, conforme a Guerra Fria ia se arrastando, e Bonn floresceu graças à instalação de todo aparato governamental, passando a ser também sede de agências, estatais e outras empresas. A cidade, jocosamente apelidada de "aldeia federal" por alguns detratores, destoava de outras capitais europeias por sua falta de prédios públicos imponentes e seu ar provinciano.

Em 3 outubro de 1990, no entanto, com a Reunificação, Berlim voltou a ser a capital da Alemanha, e o debate sobre a mudança da sede de governo começou.

Os defensores da manutenção do aparato em Bonn afirmavam que a cidade era um símbolo do renascimento de uma Alemanha democrática no pós-Guerra, enquanto Berlim estava assombrada pelo passado militarista da antiga Prússia e pelo nazismo. Os defensores também temiam que a cidade renana perdesse pelo menos 100 mil empregos que gravitavam em torno do aparato estatal.

Já os apoiadores da mudança lembraram do status provisório de capital e argumentaram que a mudança seria vista como positiva nos antigos territórios da Alemanha Oriental, que haviam sido recentemente incorporados ao país, além de projetar uma Alemanha mais cosmopolita e aberta ao mundo – em contraste com o provincianismo de Bonn.

Prédio da ONU e, ao fundo, a sede mundial da DHL, em BonnFoto: Fotolia/Wolfgang Zwanzger

Prosperidade

Bonn perdeu a disputa, mas o temor de que a cidade fosse definhar após a mudança não se concretizou nos 25 anos seguintes. Como prêmio de consolação, recebeu subsídios generosos do governo e conseguiu conservar a sede de vários ministérios e, consequentemente, muitos postos de trabalho governamentais. A mudança também foi lenta e se arrastou por vários anos, permitindo que Bonn pudesse se adaptar. O Parlamento, por exemplo, só voltou a funcionar em Berlim no final da década de 90.

Além de permanecer como sede de vários órgãos governamentais, Bonn também conseguiu abrir novas vagas. O governo agiu para que organizações internacionais, como a ONU, se instalassem na cidade. Antigas estatais que foram privatizadas também permaneceram. Nesse período, a população de Bonn chegou a crescer.

O debate, no entanto, ainda não acabou. No momento, oito ministérios têm suas sedes em Berlim, enquanto seis ainda permanecem em Bonn. Tal divisão e duplicidade de funções provocam deslocamentos frequentes de funcionários e uma série de custos. Uma estimativa aponta que, em 2016, funcionários públicos deverão realizar pelo menos 22 mil viagens entre as duas cidades. O custo para manter essa estrutura dupla deve chegar a pelo menos 7,5 bilhões de euros no ano.

Como resultado, vários políticos alemães têm feito pedidos para que o restante do governo seja transferido para Berlim de uma vez por todas. "O governo não precisa de uma segunda casa", afirmou recentemente Michael Müller (SPD), o prefeito de Berlim.

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