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O dilema das dívidas de Berlim

Marcel Fürstenau (sv)30 de abril de 2006

A capital alemã está no vermelho. E isso há anos. O Tribunal Constitucional analisa se a federação poderá perdoar parte das altas dívidas da cidade. As opiniões no país a respeito não são nada unânimes.

'Berlim está falida', diz camiseta de manifestante nas ruas da capitalFoto: picture-alliance/ ZB

"Se Berlim fosse uma empresa privada, certamente já estaria falida". A frase foi dita pelo próprio secretário das Finanças da cidade, Thilo Sarrazin. O político social-democrata administra nada menos que 60 bilhões de euros de dívidas da capital alemã. E a tendência deste valor é aumentar ainda mais.

Ao lado de seu correligionário, o prefeito Klaus Wowereit, Sarrazin espera que o Tribunal Constitucional Federal compreenda os apertos financeiros por que passa a cidade no momento e concorde com parte do perdão das dívidas berlinenses. "Não estamos em condições de quitar sozinhos as dívidas e pagar os juros acumulados. Já nos esforçamos ao máximo, fazendo todo o possível. Implantamos uma política de recessão há anos, mas precisamos ainda assim da solidariedade da federação", afirma Wowereit.

Perdão de dívidas? Nein, danke!

Prefeito Klaus Wowereit, em congresso sobre o futuro da metrópoleFoto: AP

A federação, porém, não parece muito apta a querer aceitar os pedidos de Berlim. Mesmo porque muitos dos outros Estados que a compõem são contra qualquer espécie de privilégio da capital.

Segundo o discurso dos opositores, "a culpa é da cidade", que vive esbajando o que não pode: com três universidades, três casas de ópera e muita coisa esperando para ser privatizada.

Sarrazin se defende, afirmando que a cidade já reduziu seus gastos em torno de 11% desde meados da década de 90. Enquanto a média no país de redução foi de meros 3,3%. Além disso, observa o secretário das Finanças, a cidade encolheu drasticamente o número de servidores públicos, que passaram de mais de 200 mil para cerca de 130 mil. E a economia não pára por aí: até 2012, deverá haver uma redução contínua de recursos humanos. Mais do que isso, diz Sarrazin, impossível.

Razões históricas

Construção do Muro, em 1961Foto: DHM

A esperança do secretário das Finanças é de que os juízes do Tribunal Constitucional reconheçam os esforços da cidade e principalmente levem em conta as raízes de tal miséria financeira, ou seja, a divisão política e econômica da cidade de 1945 até a queda do Muro, em 1989.

Por ocasião do fim da Segunda Guerra, quase todas as empresas alemãs deram as costas a Berlim. E depois da queda do Muro, muitos dos estabelecimentos estatais da ex-Alemanha Oriental, de regime comunista, simplesmente faliram. Por essas e por outras, o principal empregador na cidade continua sendo o Estado. Sem ele, a taxa de desemprego, que gira em torno de 20%, seria ainda maior.

Ida sem volta

Das empresas que um dia haviam deixado a cidade, poucas retornaram depois da queda do Muro. Até mesmo a multinacional Siemens, fundada em Berlim, continuou mantendo depois da reunificação do país sua sede na próspera Munique. Outro caso de prosperidade "às custas da capital" é o de Frankfurt, que só se desenvolveu como centro financeiro depois da Segunda Guerra, quando os bancos do país procuraram uma sede que não a Berlim dividida de então.

Culturalmente única

Universidade Humboldt, uma das três da cidadeFoto: dpa zb

Um futuro promissor Berlim tem apenas no que diz respeito à cultura e à ciência. Setores em que a cidade é quase hors concours, mesmo em nível internacional. E que, diga-se de passagem, também propiciam a circulação de dinheiro, não podendo ser desprezados do ponto de vista financeiro, defende o advogado e promotor cultural Peter Raue.

"Berlim não tem carvão ou indústria, mas tem cultura. A cidade é o centro da vida intelectual na Alemanha. E, para isso, três universidades não são demais. A prova disso é que essas três universidades estão lotadas de estudantes", justifica Raue.

Ressentimentos antigos

Em outros confins do país, nem todos pensam assim. O jornalista Claudius Seidl, um dos adversários mais veementes da capital, acredita que a cidade vem há anos desperdiçando recursos acumulados a duras penas no resto do país. "Representação, simbolismo político, encenações em grande estilo. O resto da Alemanha iria ficar satisfeito se Berlim se tornasse simplesmente a sede de um bom governo. O resto é secundário", dispara Seidl.

Em tais depoimentos esconde-se uma boa dose de ressentimentos, cultivados durante os anos em que a cidade dividida servia de vitrine do sistema capitalista e recebia a tarefa de provar que este era melhor que o outro lado do Muro. Em todos esses anos, fluíram milhões e mais milhões para os cofres berlinenses. Sem que alguém abrisse a boca. Tempos que, pelo jeito, já se foram.

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