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O dilema demográfico da África

Martina Schwikowski fc
14 de julho de 2019

População africana cresce rapidamente, e elevada taxa de natalidade representa um enorme desafio para o continente. Número de crianças diminui à medida que educação, saúde e emprego aumentam, diz estudo.

Mulheres etíopes carregam seus filhos
Etiópia é uma das nações africanas onde avanço na questão demográfica surpreendeuFoto: Reuters/T. Negeri

A população africana não é apenas jovem, mas também cresce em ritmo acelerado. Contudo o grande número de crianças nas famílias não é considerado positivo para o continente, pois em muitos países o crescimento econômico não acompanha esse movimento, e a pobreza aumenta.

Ter crianças para que elas sejam como uma espécie de seguro de vida na velhice é uma crença tradicional disseminada, mas que agrava a situação demográfica. Até 2050, a população na África deverá duplicar, passando de 1,3 bilhão a 2,5 bilhões.

"Tal aumento do número de pessoas gera problemas para cada Estado, e sobrecarregaria totalmente até mesmo um país como a Alemanha", afirma Alisa Kaps, do Instituto Berlim para População e Desenvolvimento. Como exemplo extremo, ela cita o Níger, um país pobre da África Ocidental.

O Níger tem a maior taxa de natalidade, e deverá até triplicar sua população até 2050. "Para esse acréscimo populacional falta infraestrutura adequada, serviços de saúde, acesso a hospitais, educação e emprego", e esse será o dilema futuro de muitos países africanos.

O motivo é que, apesar da queda da mortalidade infantil, a taxa de natalidade de 4,7 crianças por mulher permanece elevada, na comparação mundial. A diminuição do número de crianças vai acelerar o desenvolvimento no sentido de uma maior prosperidade? Ou ele só vai cair quando o desenvolvimento econômico avançar?

"É um ciclo", frisa Kaps em entrevista à DW. "Ambos procedem: é preciso atingir um certo grau de desenvolvimento, depois o número de nascimentos declina e isso, por sua vez, cria incentivos para novos progressos."

Ela acompanhou essa questão num estudo realizado na Tunísia, Marrocos, Botsuana, Gana, Quênia, Etiópia e Senegal, cujos resultados foram apresentados recentemente pelo Instituto Berlim. A dinâmica que ela descreve pode ser observada nos países asiáticos, entre eles Coreia do Sul e Taiwan, que se transformaram nos chamados "Tigres Asiáticos" devido a sua força econômica.

Educação, sobretudo feminina, é fator decisivo para mudar a dinâmica demográficaFoto: DW/B. Chicotimba

Kaps cita um fator decisivo para o declínio dos nascimentos: "Uma melhor educação funciona indiretamente: quanto mais tempo as meninas estudam, mais tarde vão se casar e ter o primeiro filho. Além disso, mulheres de nível educacional mais alto têm outras perspectivas para o futuro e contribuem mais para a renda familiar."

A educação é precisamente o que desencadeia a mudança nos papéis sociais tradicionais, muitas vezes determinados pela religião. "Para uma família africana, ter filhos ainda é, muitas vezes, uma necessidade para garantir o sustento na velhice. E as crianças são necessárias como mão de obra nos campos", relata Kaps.

Mas a guinada demográfica é lenta na África, afirma Jakkie Cilliers, diretor do Instituto de Estudos de Segurança sul-africano. Ele também culpa o baixo nível educacional entre meninas e mulheres, assim como a falta de serviços de saúde. Falta também esclarecimento e métodos contraceptivos modernos.

"É um tema sensível", admite Cilliers, mas é importante que se inicie na África um debate sobre esse assunto que afeta toda a sociedade. Ele enfatiza o foco dessa mudança de mentalidade: qualificar mais cidadãos em idade profissionalmente ativa, para que a economia cresça.

"Muitos creem que o grande potencial da juventude na África leva ao crescimento econômico, mas isso procede apenas em parte", argumenta Cilliers. "A África ainda tem pelo menos três décadas pela frente, antes que a população se beneficie do bônus demográfico, ou seja, até experimentar mais renda e crescimento."

No passo atual, até 2050 África contará 2,5 bilhões de habitantesFoto: Imago/F. Stark

Entretanto já se registram os primeiros sinais de sucesso no norte africano: Argélia, Tunísia e Marrocos têm as taxas de natalidade mais baixas do continente, seguidos por alguns países do sul do continente, aponta Cilliers. As tunisianas, por exemplo, têm apenas dois filhos, em média.

Os países do Norte crescem mais do que os do resto no continente. Ao longo dos anos, houve também uma série de reformas na Tunísia visando a população feminina: elas ganharam mais direitos – por exemplo, ao voto –, não precisam mais usar o véu e usufruem de níveis de ensino mais altos.

A África do Sul e o Egito estão mais avançados, e já se beneficiam do bônus demográfico. Isso ocorre quando o número de crianças diminui: as últimas gerações do "baby boom" entram no mercado de trabalho e contribuem para a economia, porém mais tarde terão menos filhos para cuidar.

Isso requer, contudo, acesso a um número suficiente de empregos, "mas a África do Sul está ficando para trás, devido ao desemprego elevado", ressalva Cilliers. Além da África do Sul, o pequeno Botsuana, localizado no sul do continente, também apresenta um bom nível de desenvolvimento e conseguiu conter a explosão demográfica.

"Mas a Etiópia surpreendeu", sublinha Kaps: o país se desenvolveu enormemente nos últimos 25 anos, a taxa de mortalidade infantil foi reduzida pela metade, as matrículas escolares duplicaram e a expectativa de vida aumentou consideravelmente, enumera Kaps. "Em consequência, o número de filhos por família caiu para cerca de quatro." O desenvolvimento de Gana foi semelhante, com o país se beneficiando, desde cedo, com as reformas no setor da saúde, educação e agricultura.

De acordo com o estudo, as experiências mostram que o número de crianças diminui se os Estados conseguem desenvolver uma concepção global e eficaz que conduza a progressos nas áreas da educação, saúde e criação de emprego. Mas o objetivo continua sendo a autonomia reprodutiva. "As pessoas devem ser capazes de decidir por si mesmas quantas crianças querem ter", enfatiza Kap. "Famílias pequenas como norma, é um processo que primeiro deve completar seu ciclo."

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