Quase dez anos depois da maior pandemia da doença registrada na África Ocidental, jovens e crianças que perderam pais continuam esperando apoio prometido pelo governo.
Estima-se que mais de 6 mil crianças e jovens perderam os pais no surto de ebola da GuinéFoto: picture-alliance/AP Photo/J. Delay
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Fatou Bangoura, de 17 anos, parece desolada enquanto senta silenciosamente na sua casa em Coyah, na Guiné. A jovem perdeu os pais no surto de ebola em 2013. Ela e três de seus irmãos mais novos foram então levados para uma família que os abrigou. "Devido ao ebola, ficamos órfãos", lembra Bangoura.
Depois de um tempo, a situação onde foram hospedados mudou. "Nossas famílias anfitriãs estão começando a se cansar de carregar nossos fardos. A obrigação de sustentar os irmãos sem apoio financeiro a sobrecarrega. "Até ter acesso à comida é difícil para nós. Devido ao ebola, perdemos a nossa educação. Atualmente nós não vamos para a escola", conta Bangoura.
Segundo a jovem, o governo teria prometido cuidar dos órfãos do surto de ebola, porém, nada foi feito até agora. "A vida é difícil para nós. Nós estamos pedindo ajuda".
Bangoura e seus irmãos não estão sozinhos nesta situação. Mais de 6 mil crianças perderam os pais no surto de ebola de 2013 na Guiné.
Sem educação, resta o trabalho doméstico
Mariama Sylla, que mora perto de Coyah, ficou órfã aos seis anos. Sem ter frequentado a escola, ela restou a ela arrumar bicos de serviço doméstico para poder sustentar a si mesma e aos irmãos.
"Perdi meus pais quando tinha seis anos e já estava na primeira série. Nem eu nem meus irmãos vamos à escola. Fazemos alguns bicos para nossa sobrevivência diária", contou Sylla. "Sou a mais velha de três agora. Sou a mãe e o pai deles. Fomos totalmente abandonados pelo Estado e pela comunidade internacional".
Última paciente de ebola na Guiné foi uma bebê de 34 dias, que se recuperou da doença em novembro de 2015Foto: Getty Images/AFP/C. Binani
Sylla acusa funcionários do governo de roubar fundos que foram destinados aos órfãos do ebola. Muitos dos jovens nesta situação no país compartilham desta opinião.
Libéria, Serra Leoa e Guiné foram o epicentro de um surto de ebola que atingiu a África ocidental entre 2013 e 2016. O primeiro caso foi registrado numa vila na Guiné em dezembro de 2013. A pandemia deixou 2 mil mortos no país. Outros mil pacientes se recuperaram, mas muitos morreram posteriormente por não ter acesso a um tratamento de acompanhamento.
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Promessas do governo para os órfãos
Durante o surto, o governo da Guiné prometeu apoio às crianças que perderam os pais para o ebola. "Esses órfãos, porém, foram abandonados apenas seis meses após o fim da pandemia", afirma presidente da Rede Nacional de Sobreviventes do Ebola na Guiné, Amadou Oury Diallo.
"No início, havia instituições e ONGs que disseram que cuidariam dos órfãos, mas, infelizmente, os esforços de atendimento duraram pouco", ressalta Diallo. Segundo ele, a maior parte dos fundos destinados às vítimas e órfãos do ebola foi desviada por funcionários do governo.
Autoridades, porém, culpam a ausência de apoio aos órfãos devido à suposta falta de financiadores para os fundos.
"As autoridades dizem que não há fundos, e as instituições não estão mais financiando. As famílias anfitriãs foram convidadas a continuar abrigando essas crianças por conta própria. Assim, os órfãos foram abandonados", lamenta Diallo.
Muitos dos órfãos são ainda vítimas de estigmatização e discriminação. Segundo Diallo, essa situação levou a alguns a cometerem suicídio, enquanto outros ainda têm esperança que as dificuldades vão acabar.
Os 10 vírus mais perigosos do mundo
Embora a covid-19 seja muito contagiosa, sua taxa de mortalidade é relativamente baixa em comparação com esses dez vírus.
Foto: picture-alliance/dpa
Vírus de Marburg
O vírus mais perigoso do mundo é o Marburg. Ele leva o nome de uma pequena cidade alemã às margens do rio Lahn, onde o vírus foi documentado pela primeira vez. O Marburg provoca febre hemorrágica e, assim como o ebola, causa convulsões e sangramentos das mucosas, da pele e dos órgãos. A taxa de mortalidade do vírus chega a 88%.
Foto: Bernhard-Nocht-Institut
Ebola
O vírus do ebola foi descoberto em 1976 na República Democrática do Congo por uma equipe de pesquisadores belgas. A doença foi batizada com o nome do rio que passa pelo vilarejo onde ela foi identificada pela primeira vez. Ele pode ocorrer em cinco cepas distintas, denominadas de acordo com países e regiões na África: Zaire, Sudão, Bundibugyo, Reston, Floresta de Tai. A cepa Zaire é a mais fatal.
Foto: Reuters
Hantavírus
O hantavírus descreve uma ampla variedade de vírus. Assim como o ebola, ele também leva o nome de um rio – neste caso, onde soldados americanos foram os primeiros a se infectarem com a doença durante a Guerra da Coreia, em 1950. Os sinais são doenças pulmonares, febre e insuficiência renal.
Foto: REUTERS
Gripe aviária
Com uma taxa de mortalidade de 70%, o agente causador da gripe aviária espalhou medo durante meses. Mas o risco real de alguém se infectar com o vírus H5NI é muito baixo. Os seres humanos podem ser contaminados somente através do contato muito próximo com as aves. Por esse motivo, a maioria dos casos ocorre na Ásia, onde pessoas e galinhas às vezes vivem juntas em espaço pequeno.
Foto: AP
Febre de Lassa
Uma enfermeira na Nigéria foi a primeira pessoa a se infectar com o vírus Lassa. A doença é transmitida aos humanos através do contato com excrementos de roedores. A febre de Lassa ocorre de forma endêmica na África Ocidental, como é o caso, atualmente, mais uma vez na Nigéria. Pesquisadores acreditam que 15% dos roedores dali sejam portadores do vírus.
Foto: picture-alliance/dpa
Junin
O vírus Junin é associado à febre hemorrágica argentina. As pessoas infectadas apresentam inflamações nos tecidos, hemorragia e sépsis, uma inflamação geral do organismo. O problema é que os sintomas parecem ser tão comuns que a doença raramente é detectada ou identificada à primeira vista.
Crimeia-Congo
O vírus da febre hemorrágica Crimeia-Congo é transmitido por carrapatos. Ele é semelhante ao ebola e ao Marburg na forma como se desenvolve. Durante os primeiros dias de infecção, os doentes apresentam sangramentos na face, na boca e na faringe.
Foto: picture-alliance/dpa
Machupo
O vírus Machupo está associado à febre hemorrágica boliviana. A infecção causa febre alta, acompanhada de fortes sangramentos. Ele desenvolve-se de maneira semelhante ao vírus Junin. O Machupo pode ser transmitido de humano para humano, e é encontrado com frequência em roedores.
Foto: picture-alliance/dpa/Marks
Doença da floresta de Kyasanur
Cientistas descobriram o vírus da floresta de Kyasanur na costa sudoeste da Índia em 1955. Ele é transmitido por carrapatos, mas supõe-se que ratos, aves e suínos também possam ser hospedeiros. As pessoas infectadas apresentam febre alta, fortes dores de cabeça e musculares, que podem causar hemorragias.
Dengue
A dengue é uma ameaça constante. Transmitida pelo mosquito aedes aegypti, a doença afeta entre 50 e 100 milhões de pessoas por ano em todo o mundo. O vírus representa um problema para os dois bilhões de habitantes que vivem nas áreas ameaçadas, como Tailândia, Índia e Brasil.