O duro caminho da normalidade
11 de junho de 2003As relações dos Estados Unidos com a Alemanha estão "a caminho de um ponto de normalidade", disse o secretário norte-americano da Defesa, Donald Rumsfeld, em sua primeira visita à Alemanha desde o fim da guerra do Iraque. Isso também teria demonstrado a recente viagem do presidente George W. Bush à Europa.
Ao mesmo tempo, o político repetiu sua controversa diferenciação entre a "nova e a velha Europa". Enquanto França e Alemanha – contrários à guerra do Iraque – seriam a "velha Europa", a nova seria formada por países como a Polônia e a Romênia, que se mostraram fiéis aliados dos EUA.
Estes e outros países do ex-Pacto de Varsóvia ofereceram-se servilmente para sediar casernas e bases americanas, depois que os EUA anunciaram a intenção de fechar alguns quartéis na Alemanha. Por seu apoio no Iraque, a Polônia recebeu o comando de um setor na ocupação daquele país e seu presidente, Aleksander Kwasniewski, é cotado para ser o próximo secretário-geral da OTAN.
Os novos líderes da OTAN
Os conceitos de "velho" e "novo" não seriam referentes ao tempo, tamanho ou situação geográfica. O decisivo seria "a posição e a visão que se tem da parceria transatlântica", disse Rumsfeld, em seu discurso em Garmisch-Partenkirchen, no sul da Alemanha. O secretário americano participou ali da comemoração dos dez anos de fundação do Centro Marshall de Política de Segurança, quando se reuniu com seu colega de pasta alemão, Peter Struck.
Rumsfeld deu bem mais que simples alfinetadas na Alemanha, ao elogiar expressamente o engajamento militar da Polônia, Romênia e da Albânia no Afeganistão e no Iraque. Além do mais, ressaltou que os dez novos membros da OTAN (Aliança do Tratado do Atlântico Norte) "não foram convidados para serem parceiros menores e, sim, para liderar". Mas pelo menos não leu uma passagem de seu manuscrito em que criticava a Alemanha e a França por oporem-se aos EUA na intenção de se autodefinirem "como uma espécie de contrapeso" a Washington.
A resposta de Struck
Ao contrário do americano, Struck ressaltou a amizade teuto-americana como sendo uma "constante inquebrantável" das relações entre os dois países. Isso não mudaria com "discussões ocasionais e irritações sobre questões políticas específicas". O social-democrata apelou para que sejam superados os desentendimentos motivados pela guerra do Iraque: "Estamos de acordo quanto à necessidade de que agora é preciso olhar para a frente, e não para trás", exprimiu.
A OTAN e o Afeganistão
Os dois políticos reuniram-se à margem das festividades, em uma conversa informal, na qual teria sido tratada a situação no Afeganistão. Rumsfeld expressou seus pêsames aos familiares dos quatro soldados alemães mortos em um atentado suicida em Cabul, a capital do Afeganistão, no último fim-de-semana.
O futuro papel da OTAN no Afeganistão será um dos temas a serem abordados na reunião da Aliança em Bruxelas, nos próximos dias. Já está decidido que a OTAN assumirá em agosto o comando das tropas ISAF, no Afeganistão, atualmente em mãos da Alemanha e Holanda. As Forças Armadas alemãs continuarão no país e um grupo avançado examina atualmente a possibilidade de a missão estender-se além de Cabul. Quanto ao Iraque, os europeus não vêem necessidade de um engajamento da OTAN no momento.
Chumbo grosso contra a Bélgica
O secretário norte-americano da Defesa dirigiu severas críticas ao governo belga por causa de uma nova lei. Esta permite que a Justiça belga seja ativada em casos de crimes de guerra e contra a humanidade, mesmo que estes tenham sido cometidos em outros países e nenhum cidadão belga tenha sido vítima. Essa seria uma "lei perigosa", segundo Rumsfeld. Com isso, o sistema judiciário da Bélgica teria se transformado numa plataforma para queixas e processos políticos contra aliados da OTAN. Familiares de vítimas da guerra do Iraque utilizaram-se da lei para entrar com uma queixa contra o general norte-americano Tommy Frank.