Seu maior sucesso é o romance "O perfume", que, após vender milhões de exemplares pelo mundo, virou filme hollywoodiano e série de TV. Mas o autor nascido na Baviera faz questão de manter distância da esfera pública.
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Há anos o escritor Patrick Süskind rejeita a agitação da indústria literária, sem comparecer a feiras nem a lançamentos de livros ou cinematográficos. Só raramente concede entrevistas, e a um círculo seleto de jornalistas que seguem seus regulamentos altamente pessoais. Fotos estão fora de questão.
Também é incerto onde ele vive: diz-se que no Lago de Starnberg, na Baviera, recluso e em meio a um idílio. Mas consta também que teria uma propriedade em sua cidade natal, Ambach, assim como em Montelieu, no sudoeste da França, e em Paris. Se tais informações procedem, não se sabe.
A história de sucesso do autor alemão começou em 1984. O então editor do caderno de cultura do Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ), Joachim Fest, precisava urgentemente de um texto para o tradicional romance em série com que o jornal mantinha seus leitores em suspense. A escolha recaiu sobre O perfume, obra de estreia de Süskind, na época totalmente desconhecido.
A ressonância foi avassaladora, as vendas do periódico subiram meteoricamente. O crítico de literatura Marcel Reich-Ranicki, temido entre os autores, elogiou, entusiasmado: "Um escritor alemão que domina a língua alemã; um romancista que não nos molesta com o reflexo do próprio umbigo." Estava lançada a base para a brilhante trajetória do livro.
Nos primeiros meses do ano seguinte, O perfume chegou ao mercado de língua alemã com uma tiragem de 50 mil exemplares, e a editora suíça Diogenes assinou contrato com o autor desconhecido do público. Fora um ato de ousadia, porém as vendas deram razão aos editores: até hoje O perfume é um dos títulos mais vendidos da editora sediada em Zurique.
Os leitores se deixaram arrebatar pela história de um assassino do século 18 que mata 26 virgens para criar um perfume único a partir do aroma pessoal delas. O livro ocupou durante meses as listas de best-sellers, chegando a permanecer por nove anos no ranking da revista Der Spiegel.
Em 1987 o FAZ concedeu seu prêmio literário a Süskind, mas este se recusou a recebê-lo, assim como rejeitou bruscamente o prêmio francês de melhor estreia do ano. O pai intelectual do assassino Jean-Baptiste Grenouille não queria se apresentar em público e desapareceu das vistas, até hoje.
Nascido em 26 de março de 1949, Patrick Süskind cresceu sedento de saber em Ambach, à margem do Lago de Starnberg. Seu pai trabalhava como jornalista, para o também conceituado Süddeutsche Zeitung, e também escrevia livros. Professora de ginástica, a mãe cuidava para que a família tivesse uma vida saudável.
Após completar o curso médio em 1968, o filho do pós-Guerra foi estudar primeiramente em Munique e mais tarde no sul da França, na cidade universitária de Aix-en-Provence. Apreciador do savoir-vivre dos franceses, já começara a escrever na época escolar, mas as primeiras tentativas em prosa permaneceram não publicadas.
Süskind só ganhou notoriedade como coautor de divertidos roteiros para séries de TV filmadas por Helmut Dietl (Monaco Franze, Kir Royal, de 1983 e 1986, respectivamente), em que, com humor e ironia, ele zomba da alta-sociedade muniquense.
Em 1980, lançou sua primeira peça teatral, O contrabaixo. Até hoje um dos textos mais encenados da Europa, o monólogo em um ato estreou na capital bávara, Munique, ostentando desde então 522 apresentações de 25 montagens e traduções em diversos idiomas.
De O perfume já foram lançados 20 milhões de exemplares, e traduções em mais de 40 línguas, o que supera até mesmo o sucesso internacional de O tambor, de Günter Grass.
Após a versão cinematográfica de 2006, Perfume: a história de um assassino, dirigida por Tom Tykwer e estrelada por Ben Whishaw, 12 anos mais tarde a Netflix lançou o romance como série situada na época atual. Ambos foram grande sucesso de público – algo que as demais publicações do autor, como A pomba (1987) ou A história do Senhor Sommer (1991), nunca alcançaram.
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De "Fausto" à "História sem fim", de Thomas Mann a Günter Grass, a literatura alemã inclui obras para todos os gostos. Selecionamos dez.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Endig
"Fausto"
Dividido em duas partes, o poema trágico de Johann Wolfgang von Goethe, de 1808, "Faust – eine Tragödie" é considerado uma das obras-primas da literatura alemã. Insatisfeito com a própria vida e sedento de conhecimento, o cientista Heinrich Fausto acaba fazendo um pacto com o diabo, Mefisto, prometendo-lhe sua alma. Na foto, a tragédia é interpretada pelos atores Bruno Ganz e Robert Hunger-Bühler.
Foto: picture-alliance/dpa/Expo_2000
"A Montanha Mágica"
Uma das obras mais conhecidas de Thomas Mann, "Der Zauberberg", de 1924, é considerado um retrato da sociedade europeia antes da Primeira Guerra Mundial. O romance aborda a estadia do jovem Hans Castorp, oriundo de uma tradicional família de Hamburgo, num sanatório, nos Alpes suíços, de 1907 a 1914. O romance foi transformado em filme pelo diretor Hans W. Geissendörfer, em 1982 (foto).
Foto: imago/United Archives
"O tambor"
"Die Blechtrommel", de 1959, trouxe reconhecimento internacional ao futuro Nobel Günter Grass e projeção à literatura alemã do pós-guerra. O romance pertence à chamada "Trilogia de Danzig", que lida com a culpa da Alemanha pelo nazismo e a memória do Terceiro Reich. A versão para o cinema da obra, dirigida por Volker Schlöndorff, foi a primeira produção alemã do pós-Guerra a conquistar um Oscar.
Foto: ullstein - Tele-Winkler
"O perfume"
O bestseller de Patrick Süskind, "Das Parfum – Die Geschichte eines Mörders" foi publicado em 1985 e, em 2006, ganhou versão cinematográfica (foto). A história se passa na França no século 18 e tem como protagonista Jean-Baptiste Grenouille, cujo próprio corpo não tem cheiro, mas que é dotado de um olfato fora do comum. Obcecado em criar o perfume perfeito, ele se transforma num assassino.
Foto: picture-alliance/dpa
"O lobo da estepe"
O clássico "Der Steppenwolf" foi publicado por Hermann Hesse (foto) em 1927. Em plenos anos 1920, em Zurique, o protagonista Harry Haller vive uma crise existencial em meio à devastação do pós-guerra e descreve a si mesmo como "o lobo da estepe". Ao conhecer Hermínia, ele começa a ver o mundo de outra maneira. O livro foi o primeiro de Hesse a ser traduzido para o português, em 1935.
Foto: picture-alliance/Sven Simon
"Os bandoleiros"
O drama de Friedrich Schiller "Die Räuber", de 1781, tem como tema as tramas criminosas da nobreza, mais especificamente a rivalidade entre os irmãos Karl e Franz von Moor. Os dois brigam pelo reconhecimento do pai, concorrem pela mesma mulher e lutam por poder e influência. O clássico acaba de ser adaptado para o cinema no ano passado (foto), codirigido por Pol Cruchten e Frank Hoffman.
Foto: Coin Film Francois Fabert
"A honra perdida de Katharina Blum"
"Die verlorene Ehre von Katharina Blum" foi publicado pelo Nobel de Literatura Heinrich Böll em 1974. O autor tematiza a imprensa sensacionalista e suas possíveis consequências por meio da história da dona de casa Katharina Blum e do assassinato do jornalista Werner Tötges. O romance foi adaptado para o cinema em 1975 (foto), sob a direção de Volker Schlöndorff e Margarethe von Trotta.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library
"O Leitor"
"Der Vorleser", publicado por Bernhard Schlink em 1995, gira em torno do amor de Michael Berg, de 15 anos, por Hanna, 21 anos mais velha. Numa espécie de ritual romântico, ela sempre lhe pede que leia para ela. Até que Hanna desaparece. Anos depois, Michael a reconhece entre os acusados num processo para julgar crimes do nazismo. O romance transformou-se em filme em 2008 (foto).
Foto: Studio Babelsberg AG
"A história sem fim"
"Die unendliche Geschichte", publicado por Michael Ende em 1979, não pode faltar nas estantes das crianças na Alemanha. Todas conhecem as aventuras do jovem Bastian no país Fantasia, que ganharam projeção internacional desde que "A história sem fim" chegou aos cinemas, em 1984 (foto). O romance fascina não somente o público infantil, mas também adulto.
Foto: picture-alliance/dpa
"Contos de Grimm"
A coletânea dos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm "Kinder- und Hausmärchen" foi publicada entre 1812 e 1858, e é considerada a obra alemã mais disseminada no mundo, depois da Bíblia de Lutero. Incluindo clássicos como "Rapunzel", "Chapeuzinho Vermelho" (foto) e "Branca de Neve", os contos já foram traduzidos para mais de 160 idiomas e inspiraram filmes, peças de teatro, desenhos animados e quadrinhos.