Arábia Saudita é um dos países que mais contribuem para os mecanismos de ajuda aos refugiados. Por outro lado, é o que menos concede asilo. Essa é uma estratégia política do país ultraconservador.
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Recentemente, durante o Ramadã, a Arábia Saudita distribuiu refeições no valor de 3 milhões de dólares a refugiados sírios na cidade libanesa de Sidon, permitindo-lhes comemorar o fim do jejum. A generosidade remete aos tempos do fundador do Estado saudita, Abdul Aziz Bin Abdul Rahman Al Saud, que viveu de 1880 a 1953. Ele criou também as primeiras organizações humanitárias do país.
Além de ações simbólicas como essa, registradas com especial interesse pela opinião pública, o apoio da Arábia Saudita a refugiados se traduz em cifras. Em janeiro de 2013, o reino participou da Conferência dos Doadores dos Países do Golfo, no Kuwait, na qual foram arrecadados doações no valor de cerca de 910 milhões de dólares.
A maior parte da doação – 325 milhões de dólares – foi feita pelo Kuwait. Os sauditas vieram em segundo lugar, com a disposição de 213 milhões. Em 2014, a colaboração saudita aumentou significativamente, chegando a 755 milhões de dólares – destinados não são somente a refugiados sírios, mas também a causas humanitárias em outros países. De acordo com o programa Global Humanitarian Assistance (Assistência Humanitária Global), de agências internacionais de desenvolvimento, a Arábia Saudita é o sexto maior país doador do mundo.
Asilo em segundo plano
A Arábia Saudita, entretanto, não recebeu nenhum refugiado sírio até agora. Em vez disso, o país prefere que as pessoas encarem o longo e perigoso caminho rumo à Europa. A organização humanitária Anistia Internacional já havia criticado tal atitude do governo saudita no ano passado.
"Esta completa falta de oferta de acolhimento por parte dos países do Golfo é especialmente vergonhosa", afirmou a organização. Com vínculos linguísticos e culturais, os países da região deveriam liderar a oferta de proteção dos sírios que fogem de perseguições e crimes de guerra."
Na maioria dos países do Golfo, uma grande parcela da população é composta por não sauditas. Dos 29 milhões de habitantes da Arábia Saudita, seis milhões são estrangeiros que vivem legalmente no país. No Kuwait, a parcela de estrangeiros chega a 60%; no Catar, são mais de 90%; e nos Emirados Árabes Unidos, cerca de 80%.
O acolhimento de refugiados aumentaria ainda mais esses números, e o receio diante disso é aparentemente maior do que a vontade de oferecer refúgio a sírios e iraquianos. Pela lógica, ficaria mais difícil para as autoridades expulsarem asilados do país – diferente dos trabalhadores imigrantes, que podem ser mandados para casa sem maiores problemas.
O governo saudita inclusive já faz isso. O caso mais recente aconteceu em 2014. Na ocasião, o país expulsou em torno de 370 mil pessoas, segundo agências de notícias do país. O objetivo era criar empregos para cidadãos sauditas. Expulsar refugiados, por outro lado, traria problemas éticos bem mais complicados para o reino. Por isso, a estratégia é nem deixá-los entrar.
Do outro lado da Primavera Árabe
Além do mais, os sírios expatriados fogem de um contexto de revolução social considerado, desde o início, bastante suspeito pelo reino saudita. Os conservadores chefes de Estado de Riad não apoiaram a chamada "Primavera Árabe" de 2011.
Na época, ativistas também fizeram exigências semelhantes na Arábia Saudita – por mais justiça social, liberdade política e cultural e um Estado de direito. O governo respondeu aumentando a concessão de benefícios sociais para apaziguar os ânimos dos cidadãos "rebeldes".
Do ponto de vista o governo, com os refugiados sírios provavelmente iriam para o país pessoas que compartilham destes valores e poderiam perturbar a ordem pública. Além disso, suas possíveis posições religiosas mais liberais provavelmente iriam colidir com o wahhabismo – a religião ultraconservadora do Estado. Esta é provavelmente a principal razão que faz a Arábia Saudita não absorver refugiados.
Na Alemanha, esta política é criticada. O jornal "Handelsblatt" acusa a Arábia Saudita de fugir das suas responsabilidades. "Este seria o momento para a Arábia Saudita e os países super ricos do Golfo – por uma obrigação moral, como vizinhos imediatos das zonas de guerra – ajudarem muito mais os refugiados atormentados na região", escreveu o jornal alemão.
Como alemães ajudam refugiados
Ataques a abrigos de migrantes tornaram-se rotineiros na Alemanha. Mas essa é apenas uma parcela da realidade do país, onde milhares de voluntários e iniciativas auxiliam os que nele buscam refúgio.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Endig
Desafio das boas-vindas
Usando a hashtag #WelcomeChallenge no Facebook e no Youtube, voluntários alemães promovem a ajuda a refugiados. Quem auxilia os migrantes de alguma maneira posta uma imagem com a hashtag. A chef alemã Sarah Wiener foi convidada a ajudar e, sorridente, levou 150 porções de sopa orgânica com pão a um abrigo em Berlim.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Fischer
Um time de refugiados
Henning Eich, jogador do time de futebol Lok Postdam, congratula os jogadores do Welcome United 03, a primeira equipe alemã formada somente por refugiados. Logo no primeiro jogo do campeonato, em Postdam, o Welcome United 03 venceu o Lok Potsdam por 3 a 2. "O futebol une", afirma Manja Thieme, responsável pela equipe com 40 integrantes.
Foto: picture-alliance/dpa/O. Mehlis
Alemão no cotidiano
Em Thannhausen, na Baviera, o voluntário Karl Landherr dá aulas de alemão a requerentes de asilo. Junto com alguns colegas, o professor aposentado também criou um livro de alemão que oferece uma espécie de "estratégia de sobrevivência" para os refugiados recém-chegados ao país, segundo Landherr. O livro dá dicas práticas para o dia a dia e ficou conhecido em toda a Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Puchner
Festa de boas-vindas
Refugiados e apoiadores dançaram juntos numa festa de boas-vindas, organizada pela aliança Dresden Nazifrei (Dresden livre dos nazistas). Os 600 requerentes de asilo de Heidenau – alojados numa antiga loja de materiais de construção e protegidos atrás de cercas altas – já nem pensam em deixar seus alojamentos por medo da extrema direita.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Willnow
Bicicletas para refugiados
Na foto, Tobias Fleiter enche o pneu da bicicleta de um refugiado do Togo. Fleiter é um dos integrantes do projeto Bicicletas Sem Fronteiras, que contava somente com dois voluntários quando começou. Hoje, 15 voluntários formam o time, que já consertou mais de 200 bicicletas em Karlsruhe, emprestando-as a refugiados.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Deck
Escola vira abrigo
Em Berlim, os centros de refugiados estão lotados. Recentemente, três novos abrigos foram abertos, sendo um deles a escola Teske, em Schöneberg, que estava vazia há tempos. Até 200 pessoas podem ser acomodadas no local, onde contam com o apoio de assistentes sociais. Muitos voluntários também ajudam por ali, organizando as roupas, por exemplo.
Foto: picture-alliance/dpa/B. von Jutrczenka
Bem-vindos à ilha de Sylt
Joachim Leber (no centro) auxilia esta família da Síria. Ele é membro da associação Integrationshilfe na ilha de Sylt, na qual cerca de 120 refugiados recebem assistência. A maioria deles vem do Afeganistão, da Somália e da Síria. Voluntários procuram ajudá-los com a língua alemã e motivação pessoal. "A Alemanha também foi ajudada após a Segunda Guerra", diz Leber.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Marks
Resgate no Mediterrâneo
Em lanchas, soldados alemães resgatam refugiados no Mediterrâneo e os levam para seus navios. Desde o começo de maio deste ano, as tripulações alemãs salvaram cerca de 7,5 mil pessoas. Entre elas estava Rahmar Ali (no centro), de vestido roxo. A mulher de 33 anos, grávida, é natural da Somália e estava em fuga sozinha há cinco meses.
Foto: picture-alliance/dpa/Bundeswehr/T. Petersen
Primeiro bebê refugiado
Sophia nasceu com 49 centímetros e três quilos. Ela é o primeiro bebê que veio ao mundo num navio da Bundeswehr (Forças Armadas da Alemanha). Foi um nascimento assistido por médicos no último segundo e uma grande alegria para a mãe, Rahmar Ali, da Somália. "Especialmente nesses momentos você sente que está fazendo algo com sentido", diz um soldado que esteve presente no nascimento da criança.
Foto: Reuters/Bundeswehr/PAO Mittelmeer
Caminho seguro
Como eu vou de trem do ponto A ao B? O que significam os sinais? Onde eu posso obter um bilhete de trem? Em Halle, refugiados da Síria aprendem tudo isso na estação central da cidade. Na foto, uma policial mostra que, por motivos de segurança, é preciso ficar atrás da faixa branca quando um trem passa pela plataforma.
Foto: picture-alliance/dpa/H. Schmidt
Primeiro clube de natação
Na cidade de Schwäbisch Gmünd, refugiados podem aprender a nadar. Ludwig Majohr (de boné) dá as aulas de natação. Ele é um dos oito aposentados voluntários no clube de natação, recém-fundado. O objetivo principal é a integração, segundo Gmünd. "Na natação, as pessoas se ajudam", completa o voluntário Roland Wendel. "Não perguntamos as nacionalidades."
Foto: picture-alliance/dpa/S. Puchner
Mais café, menos ódio
Em Halle, o partido ultradireitista NPD pretendia protestar recentemente contra um planejado centro para requerentes de asilo. A cidade respondeu com um convite para um café da manhã aberto, em prol da tolerância. Mais de 1.200 pessoas compareceram, compartilhando pãezinhos e bolos com os refugiados. Um belo gesto de boas-vindas.