No YouTube e na Netflix, milhões de pessoas assistem à japonesa Marie Kondo fazer sua mágica da arrumação. Especialistas explicam por que o método de reorganizar o lar é inspirador – mas não deve ser levado tão a sério.
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Com sua franja de corte preciso e vestindo uma blusa branca, Marie Kondo está em frente a uma pilha de roupas da altura de sua cintura, em uma residência em um subúrbio dos Estados Unidos. "Estou tão empolgada. Amo a desordem", afirma a especialista em organização pessoal, antes de anunciar ao casal que mora na casa: se desfaçam de tudo que não lhes traz alegria; o resto será dobrado em pequenos retângulos e ganhará um lugar determinado. Ela chama esse método de KonMari.
A japonesa não é a única blogueira que desenvolveu e comercializou conceitos de arrumação nos últimos anos. Mas, com sete milhões de livros vendidos em 27 idiomas diferentes, ela desponta como uma das mais bem-sucedidas.
Desde o início do ano, Marie Kondo tem sua própria série na Netflix, em que visita famílias americanas e as ajuda a organizar suas casas. Além disso, treina consultores (até agora mais de 200 mulheres e três homens) para usarem seu método e ajudarem a colocar ordem em domicílios ao redor do mundo. Por um ano, a alemã Jasmine Dünker, de Colônia, foi uma delas.
Dünker tem um palpite sobre por que tantas pessoas têm se interessado pelo método de organização pessoal. "Estamos sobrecarregados com tanta informação, tantos e-mails e redes sociais. Estamos tão cheios por dentro que muitos de nós buscamos maneiras de nos organizar", afirma.
Em relação ao método KonMari, Dünker acha particularmente interessante o conceito de que, em vez de simplesmente se desfazer do supérfluo, é preciso primeiro ter consciência sobre o supérfluo. Um jeito de fazer isso é agradecendo em voz alta pelas coisas que se possui, num sinal de respeito. "Precisamos ser gratos por viver em meio a tanta riqueza", explica a alemã.
Dünker trabalhou com marketing e depois estudou design de interiores. Por ser simples e eficiente, ela considera o método de arrumação da guru japonesa tão convincente que gastou milhares de euros em seu treinamento em Nova York.
Segundo Marie Kondo, as pessoas acumulam coisas demais e, por isso, precisam descartar o excedente. Como critério principal de escolha, usa-se a própria felicidade. "Isso me traz alegria?" é a pergunta a ser feita ao segurar na mão cada objeto. Se sim, ele é mantido; se não, é descartado. O que ficar deve ser dobrado em pequenos retângulos e guardado verticalmente (para melhorar a visualização de tudo que se tem) em um lugar determinado, separado por categorias.
Antes de reduzir o volume de coisas e reorganizar sua casa usando o método KonMari, Dünker perdia horas com arrumação. Agora que cada objeto tem um local próprio e permanente, e que eles são devolvidos ao seu devido lugar depois de usados, seu tempo livre é muito maior, afirma a alemã.
Essas pequenas regras são a principal razão de por que a técnica de organização pessoal é tão inspiradora, afirma a psicóloga alemã Uschi Grob. Segundo ela, é útil manter a ordem porque as pessoas simplesmente não precisam mais pensar onde está o quê. Assim como limpar a casa, os resultados são imediatamente visíveis. Além disso, casas organizadas trazem mais estrutura e segurança e economizam energia, diz Grob.
Críticos temem, contudo, que o sucesso da série da Netflix, chamada Ordem na casa com Marie Kondo, possa aumentar a pressão pela busca da perfeição – algo que a consultora Dünker diz conseguir compreender. Ela afirma, porém, que essa crítica diz mais respeito a como a série foi feita do que ao método KonMari.
Segundo a alemã, quando ela própria está na estrada prestando consultorias, não faz visitas rápidas a seus clientes, nem explica as regras de um modo geral ou espera resultados impecáveis na próxima visita. Além disso, as famílias costumam doar as roupas e utensílios de casa que foram descartados, e não simplesmente os jogam fora, como acontece na série, afirma.
"Não precisamos ser perfeitos. Isso seria muito entediante", diz Dünker, lembrando que a organização deveria simplificar a vida das pessoas, e não deixá-la mais complicada.
A psicóloga Grob concorda que métodos de arrumação não podem ser encarados como uma religião. "Eles devem ser usados apenas para ajudar pessoas a lidarem com o dia a dia e adquirirem autoconsciência", afirma.
Aos ávidos por uma casa em ordem, ela sugere ainda que não se prendam a técnicas específicas. "Talvez você se envolva com uma ou outra, experimente uma terceira, e depois volte a organizar seus sutiãs seguindo um método anterior, porque ele também era bom", afirma.
E, caso acabe o prazer em arrumar, tudo bem também. "Felizmente guarda-roupas têm portas, e não existe polícia para controlá-los", diz a psicóloga.
O mercado alemão de séries floresce, e não só com produções de emissoras locais. Gigantes como Sky, Amazon e Netflix apostam na estratégia de oferecer obras alemãs a um público internacional.
Foto: Netflix
"Dark", a primeira série alemã da Netflix
Em dezembro de 2017 estreou a primeira série alemã da Netflix para o mercado mundial. A temporada, de dez episódios, trata dos destinos de quatro famílias no interior da Alemanha: o sumiço de duas crianças desencadeia investigações que remontam até a década de 1950. A segunda temporada estreou em junho de 2019, e a terceira foi confirmada para 2020. Foi dublada e legendada em português brasileiro.
Foto: Netflix
Êxito artístico com "Im Angesicht des Verbrechens"
Muitos consideram "Im Angesicht des Verbrechens" (Diante do crime) a melhor série alemã da década: o épico de dois policiais investigando os círculos da máfia russa em Berlim. Contudo as vertiginosas sequências de cenas, enquadramentos sombrios e experimentos formais do diretor Dominik Graf foram ousados demais para parte do público, e a produção teve baixa audiência em 2010.
Foto: ARD/Julia von Vietinghoff
"Parfum", uma série criminal brutal e surpreendente
Em 2018, o canal alemão ZDFneo exibiu a série criminal Parfum (O Perfume), de seis episódios. Na trama, a brutal morte de uma antiga amiga leva um grupo a se reunir. Características específicas no cadáver fazem os amigos pensarem que somente um deles poderia ter cometido o crime. Fora da Alemanha, a produção foi disponibilizada pela Netflix, incluindo no Brasil, legendada e dublada em português.
Foto: Filmfest München 2018
How to Sell Drugs Online (Fast), tom de comédia para assunto sério
Em “How to Sell Drugs Online (Fast)”, que estreou em junho na Netflix, um estudante de uma pequena cidade da Alemanha, filho de um policial, decide vender drogas pela internet para se reaproximar da ex-namorada e arrasta o melhor amigo para o negócio. A série, em tom de comédia, foi dublada e legendada em português brasileiro e o título traduzido para "Como Vender Drogas Online (Rápido)".
Foto: picture-alliance/dpa/Netflix
"Weissensee": Berlim Oriental dos anos 80
Lançada em 2010, "Weissensee" é uma vitória da televisão alemã ao abordar temas da história recente. Tratando de duas famílias de Berlim Oriental na década de 1980, a produção da TV ARD teve boa audiência, já está caminhando para a quarta temporada e foi vendida para a Itália e a Rússia, entre outros mercados.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Pedersen
"Deutschland 83" e mais
"Deutschland 83" foi exibida em 2015 na Alemanha pelo canal privado RTL. Apesar de premiada no exterior, ela teve baixa audiência na TV comercial e, a sequência, “Deutschland 86”, foi disponibilizada apenas na Amazon Prime, em 2018. No Brasil, a série foi transmitida pelo +Globosat, com o título “Deutschland - Espião Novato” e segue disponível no Globoplay. Os autores já prometem “Deutschland 89”.
Foto: picture alliance/dpa/R. Hirschberger
"Cães de Berlim" e o submundo da capital alemã
Produzida pela Netflix, "Dogs of Berlin" (Cães de Berlim) estreou em dezembro de 2018. A trama mergulha na face sombria da capital alemã e tem como protagonistas dois policiais não convencionais: Kurt Grimmer, um ex-neonazista, e Erol Birkan, homossexual e de ascendência turca. A dupla investiga o assassinato do jogador de futebol turco-alemão Orkan Erdem. É dublada e legendada em português.
Foto: Netflix
"You are wanted" na Amazon
Antecipando-se por alguns meses à rival Netflix, a gigante americana do streaming Amazon Prime lançou em março de 2017 sua primeira série alemça, "You are wanted" (Você é procurado), protagonizada por Matthias Schweighöfer. Focando vigilância digital e teorias da conspiração, a série não encontrou aprovação unânime do público e crítica. Ainda assim, sua segunda temporada já está em preparação.
Foto: picture alliance / Stephan Rabold/Amazon/dpa
Clãs de Berlim em "4 Blocks"
A produção do diretor Marvin Kren pode ser considerada um sucesso entre as séries alemãs e entrará em sua segunda temporada. Tratando dos conflitos entre os clãs familiares rivais do bairro berlinense de Neukölln, ela foi lançada em maio de 2017, em seis episódios, pelo canal de TV a cabo TNT Serie. "4 Blocks" recebeu críticas entusiásticas, chegando a ser comparada à americana "Os Sopranos".
Foto: picture-alliance/dpa/Handout/2017 Turner Broadcasting System Europe Limited & Wiedemann & Berg Television GmbH & Co.
Opulência dos anos 20 em "Babylon Berlin"
Série mais cara da TV alemã, "Babylon Berlin", de 2017, exibida pela Sky, é a prova de que os roteiristas e cineastas alemães são especialmente bons ao abordar temas históricos. Com grande minúcia e em imagens opulentas, três cineastas, entre os quais Tom Tykwer, evocaram a Berlim dos anos 1920. A série já foi vendida para diversos países.
Foto: 2017 X Filme/Frédéric Batier
"Das Verschwinden": drama psicológico
As emissoras de direito público da Alemanha também têm se lançado com sucesso no universo das séries. Em outubro de 2017, a ARD apresentou "Das Verschwinden" (O desaparecimento), uma sinistra história passada na Alemanha, dirigida por Hans-Christian Schmid. Como em "Dark", o tema aqui é o sumiço de uma jovem, e o drama psicológico resultante.
Na trilha das rivais Amazon e Sky, a Netflix conseguiu ampliar com "Dark" a sua parcela no mercado alemão: ao lado de seu enorme sucesso global, a plataforma de streaming persegue a estratégia de aproximar-se ainda mais das plateias nacionais encomendando especialmente séries para os mercados específicos.
Foto: Netflix
Mundos obscuros
O suíço Baran bo Odar dirigiu a série "Dark", escrita a quatro mãos com sua esposa, Jantje Friese. Em 2010, ele levara às telas uma história semelhante: também "Das letzte Schweigen" (O silêncio) é um drama familiar em torno de um desaparecimento, que conecta duas diferentes gerações. "Dark", porém, é bem mais sombrio, numa encenação quase sufocante.