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O fim súbito da força-tarefa da Lava Jato

7 de julho de 2017

Corporação surpreende ao anunciar dissolução do grupo de trabalho exclusivo que, com suas investigações, causou terremoto político no Brasil. Ministério Público Federal critica e pede que decisão seja revista.

Medida visa "priorizar ainda mais as investigações", diz a Polícia Federal
Medida visa "priorizar ainda mais as investigações", diz a Polícia FederalFoto: Brasilia Polícia Federal

A Polícia Federal (PF) surpreendeu nesta quinta-feira (06/07) ao anunciar a decisão súbita de dissolver as atividades da força-tarefa da operação Lava Jato, sob a justificativa de que os delegados que compunham o grupo de trabalho estariam sobrecarregados.

Em nota, a PF explicou que cada um dos quatro delegados da força-tarefa estava encarregado de cerca de 20 inquéritos - número alto se levado em conta que, em seu auge, o grupo tinha 11 delegados.

No total, a força-tarefa tinha 40 agentes. Agora, juntamente com os do grupo de trabalho da operação Carne Fraca, eles serão incorporados à Delegacia de Combate à Corrupção e Desvio de Verbas Públicas (Delecor).

"A medida visa priorizar ainda mais as investigações", diz o comunicado. "Ela permite o aumento do efetivo especializado no combate à corrupção e lavagem de dinheiro e facilita o intercâmbio de informações".

Críticas

"Não há motivo orçamentário nem político", afirmou ao jornal Folha de S.Paulo o delegado regional de Combate ao Crime Organizado do Paraná, Igor Romário de Paula. "É uma decisão operacional." A iniciativa a integração dos delegados ao Delecor partiu do próprio delegado.

Os delegados transferidos para a Delecor não terão um aumento na carga de trabalho, que deverá ser "reduzida em função da incorporação de novas autoridades policiais”, afirma a PF.

O procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima, que integra a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, criticou a decisão, afirmando que a operação simplesmente "deixou de existir”.

Numa postagem em seu perfil no Facebook, ele lembrou as dificuldades financeiras que a PF atravessa, insinuando que o presidente Michel Temer utiliza verbas que poderiam ser destinadas à corporação para liberar emendas no Congresso, no intuito de abafar as denúncias de corrupção que ameaçam seu mandato.

"A Polícia Federal não tem mais dinheiro para passaporte. A força-tarefa da PF na operação Lava Jato deixou de existir. Não há verbas para trazer delegados. Mas para salvar seu mandato, Temer libera verbas à vontade", afirmou.

A força-tarefa da Lava Jato divulgou uma comunicado no portal do Ministério Público Federal (MPF) expressando "discordância" com a dissolução do grupo. A integração dos delegados à Delecor "prejudica as investigações da Lava Jato e dificulta que prossigam com a eficiência com que se desenvolveram até recentemente."

A decisão de pôr fim à força-tarefa, continuou o MPF, "prejudica a especialização do conhecimento e da atividade, o desenvolvimento de uma visão do todo, a descoberta de interconexões entre as centenas de investigados e os resultados."

"O Ministério Público Federal espera que a decisão possa ser revista, com a consequente reversão da diminuição de quadros e da dissolução do Grupo de Trabalho da Polícia Federal na Lava Jato, a fim de que possam prosseguir regularmente e com eficiência as investigações contra centenas de pessoas e de que os bilhões desviados possam continuar a ser recuperados", afirma o comunicado.

Histórico

A operação Lava Jato, deflagrada pela Polícia Federal de março de 2014, começou investigando um esquema de desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro e descobriu a existência de uma imensa rede de corrupção envolvendo a Petrobras, grandes empreiteiras do país e políticos.

Os países mais corruptos do mundo

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A operação investiga mais de 50 personalidades da política, entre deputados, senadores e governadores de vários partidos, além de empresários e executivos de empreiteiras.

Entre os investigados e aqueles já condenados pela Justiça, seguem presos o executivo Marcelo Odebrecht, ex-presidente e herdeiro da Odebrecht; Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara; Sérgio Cabral, ex-governador do Rio; o ex-ministro Antonio Palocci, entre outros. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é réu em três processos, sendo acusado pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e obstrução da Justiça.

Segundo dados do Ministério Público Federal levantados a pedido da DW Brasil, a investigação já conta com a cooperação de pelo menos outros 40 países. Além disso, 14 países, fora o Brasil, investigam práticas ilegais promovidas pela Odebrecht.

Em quase três anos, a operação acumula números monumentais. Foram 79 prisões preventivas e 103 temporárias, 57 acusações criminais feitas contra 260 pessoas, além de 125 condenações. A rede de propinas chega a 6,4 bilhões de reais. O bloqueio de bens dos réus totaliza 3,2 bilhões. O Ministério Público Federal pediu o ressarcimento de 38,1 bilhões de reais, incluindo as multas às empresas envolvidas.

RC/abr/ots

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