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O G20 como campo de batalha sobre o clima

Ruby Russell av
5 de julho de 2017

Presidência alemã do G20 mira mudança climática no encontro em Hamburgo. Uma das grandes questões é se os demais 19 países estarão debilitados após a saída dos EUA do Acordo de Paris – ou ainda mais determinados.

Hamburg Protest gegen G20
Com fantasia de líderes como Trump, Merkel e Putin, grupo protesta em HamburgoFoto: picture-alliance/dpa/D. Reinhardt

Líderes das 20 economias mais poderosas do planeta se reúnem neste fim de semana na cidade alemã de Hamburgo. Entre eles, a "premiê do clima" Angela Merkel e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que chocou o mundo ao retirar seu país do Acordo de Paris.

Com a Alemanha na presidência rotativa do G20, Merkel não se esquiva daquele que promete ser um tópico controverso. Berlim recentemente estabeleceu sua agenda para a conferência, confirmando o clima global como um dos temas centrais.

"A mudança climática estará no topo da agenda", diz Alois Vedder, diretor do departamento de política da WWF Deutschland. "A questão é: qual pode ser o resultado, depois que os EUA se retiraram do Acordo de Paris? Como os demais outros 19 países vão prosseguir? Eles continuarão a se ater ao acordo e assegurarão que suas metas sejam alcançadas?"

A ex-secretária executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) Christiana Figueres se reuniu a cientistas e líderes empresariais internacionais para compor uma lista de desejos para o G20, publicado como artigo pela revista Nature.

Ele enfatiza seis metas que o G20 estabeleceu para si até 2020, relativas a energia verde, infraestrutura de baixas emissões, transporte, uso de terras, indústria e finanças. O ano 2020 tem grande importância: não só é a primeira oportunidade para os EUA abandonarem o acordo do clima, como também o "ponto sem retorno", a partir do qual, segundo cientistas, se a temperatura global não cair, a meta dos 2ºC se torna praticamente inalcançável.

"Estamos no limiar de poder virar para baixo a curva das emissões de gases-estufa até 2020, como a ciência exige, para proteger as Metas de Desenvolvimento Sustentável da ONU, e em particular a erradicação da pobreza extrema", afirmou Figueres no comunicado.

Wael Hmaidan, diretor da Climate Action Network (CAN) International, saudou essa análise, dizendo que "caso acordada, ela poderia representar um resultado muito ambicioso e bem-vindo" para a cúpula.

 

O fator Trump

Diante do pano de fundo do G20, há pressão maciça do público em geral, de grupos da sociedade civil, cientistas e personalidades públicas para que se aja em prol do meio ambiente. O artigo da Nature  vem na esteira de posicionamentos de outros setores da sociedade.

Na segunda quinzena de junho, Merkel participou da cúpula Civil 20 em Hamburgo, em que grupos da sociedade civil, inclusive o CAN, apresentaram suas reivindicações ao Grupo dos 20.

"A liderança alemã do G20 tem sido muito aberta para a participação da sociedade civil. Temos visto que ela leva nossos comentários muito a sério", relata Hmaidan, acrescentando que a "abertura e transparência" da Alemanha representa um importante precedente para o futuro do grupo.

Alois Vedder concorda: "A presidência alemã ampliou a agenda para incluir mais tópicos ambientais e sociais. Parece ambicioso, mas o importante é qual será o resultado final."

Apesar desses sinais positivos, a expectativa é que a cidade-sede da cúpula será inundada por ainda mais manifestantes, protestando por mais ação contra a pobreza global e a favor do meio ambiente.

Permanece em aberto quanto se poderá alcançar sem ter a bordo o segundo maior emissor de gases-estufa, os EUA. Enquanto alguns temem que a rejeição do Acordo de Paris por Trump enfraqueça a determinação dos demais países do G20, certos observadores acreditam que o fato até mesmo a fortalecerá.

Até o momento, a União Europeia e a China vêm emitindo sinais fortes de que estão dispostas a redobrar seus esforços a fim de compensar a ausência americana. Dentro dos EUA, algumas cidades e estados se comprometeram a combater o aquecimento global, independente do desligamento anunciado pela Casa Branca.

Outro foco de atenção na cúpula de Hamburgo são países como a Arábia Saudita e a Rússia, que apresentam um histórico de "fazer corpo mole" frente a mudança climática. Segundo Wael Hmaidan, ambos fizeram progressos desde a assinatura do Acordo de Paris, com os sauditas investindo em energias renováveis, e os russos sinalizando que estão a postos para combater o aquecimento global. A atual conferência será um teste para seu comprometimento.

"A Arábia Saudita é uma aliada próxima dos EUA, tendo recentemente assinado um acordo armamentista com o governo Trump", lembra o diretor da Climate Action Network. "É importante ver como isso vai afetar o posicionamento deles quanto à mudança climática", e este é um "grande teste" para o quanto Riad está sob a influência do presidente americano em relação a "outras agendas", como a questão do clima, aponta Hmaidan.

Clima e finanças interligados

Especialistas ressaltam que, além do comprometimento com medidas diretas para reduzir as emissões de CO2, são também essenciais para combater a mudança climática acordos relativos à missão central do G20, de desenvolvimento econômico e regulamentação financeira.

"É importante o G20 assegurar que o futuro sistema financeiro seja combatível com o Acordo de Paris", explica Hmaidan. "Queremos que os países continuem onerando a emissão carbônica, a fim de ajudar a transição de economias baseadas em combustíveis fósseis para a energia renovável."

Para o ativista do clima, o G20 deveria adicionalmente impor um prazo para o fim dos subsídios à indústria de combustível fóssil. Ambientalistas também exigem ação para assegurar que tanto o investimento em desenvolvimento quanto a regulamentação dos mercados financeiros estejam alinhados com o Acordo de Paris e as metas de sustentabilidade das Nações Unidas.

"A cúpula precisa avançar na regulamentação dos mercados financeiros para riscos ambientais: essa é tanto uma questão ambiental quanto social", exige Alois Vedder, do WWF. "Há fundos de aposentadoria que ainda investem em combustíveis fósseis: isso coloca tanto o risco de desastre climático, quanto o de as pessoas perderem suas aposentadorias, se esses investimentos forem mal, porque o setor teve que ser fechado."

Vedder frisa que estão também na pauta do encontro a poluição marinha e – fato inusual para uma cúpula do G20 – o tráfico de animais selvagens. No entanto – num momento em que a Alemanha procura realçar sua imagem como líder em ação climática global e salvadora do Acordo de Paris, enfrentando o imprevisível presidente dos EUA – tudo indica que a mudança climática desempenhará um papel ímpar e polêmico nas conversas em Hamburgo.

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