O guerreiro no divã do analista
13 de fevereiro de 2003"Eixo do mal", "cruzada contra o terror", "Deus proteja a América": o vocabulário do presidente norte-americano, George W. Bush, faz supor que ele seja cristão. Ninguém melhor que o psicanalista Eugen Drewermann, o teólogo mais lido da Alemanha, com mais de 70 livros publicados, para analisar o perfil do homem mais poderoso do mundo.
Em entrevista ao semanário Der Spiegel, o sacerdote suspenso pelo Vaticano e proibido de dar aulas disseca a psique de Bush e suas conclusões não são nada lisonjeiras: movido por complexos de inferioridade e uma paranóia religiosa-fundamentalista de se achar o salvador do mundo, ele quer fazer uma guerra contra o Iraque melhor do que a que seu pai fez em 1991.
De paranóia coletiva e falta de escrúpulos
Com sua retórica, Bush quer convencer a parte da opinião pública que se deixa influenciar por idéias religiosas. Sua tentativa de dividir a humanidade em forças do bem e do mal assim é comentada por Drewermann: "Essa interpretação bipolar da história é extremamente perigosa em termos de ideologia e uma cegueira em termos psicológicos". O dualismo seria usado por Bush para justificar uma falta total de escrúpulos. Será que ele não percebe que há muito já incorporou na prática tudo o que considera "o mal"? - pergunta o teólogo.
"Quem quer seguir o caminho de Cristo não pode passar por cima de cadáveres", continuou sua análise, que também fez uma incursão pelos delírios da psique americana. Já teria virado um costume o presidente dos EUA se revestir de uma "aura de escolhido por Deus". Aliás, essa também seria a paranóia coletiva de uma "grande nação que sente a vocação missionária de ser o país escolhido por Deus para dirigir os destinos do mundo".
Quem não é a nosso favor, é contra nós
Essa pretensão religiosa de absolutismo, Bush transfere aos seus objetivos políticos, geoestratégicos e econômicos. Daí resultaria sua posição de "quem não é a nosso favor, é contra nós". Daí o mandatário americano não suportar que o chefe de governo alemão Gerhard Schröder se recuse a se comportar como "um cão adestrado que salta quando o dono lhe atira um pauzinho". Lutar contra o terrorismo da forma como Bush o faz seria "potencializar a catástrofe", respondeu Drewermann ao ser perguntado se não haveria diferença entre Saddam Hussein e George W. Bush.
O que os americanos deveriam fazer é dar um exemplo de desarmamento efetivo ao mundo, sugeriu, lembrando que Washington reduziu a 1,7 bilhão de dólares sua ajuda para combater a fome no mundo. "Isso não é nem o que eles gastam em dois dias com as Forças Armadas". A posição belicista pode não ser exclusiva de George W. Bush, que Drewermann considera uma "marionete falante do Pentágono e da indústria petrolífera".
Fato é que o presidente cercou-se de toda uma "ciranda de ministros do tempo da Guerra do Golfo de seu pai". Guerra que custou a vida de 200 mil pessoas, deixou milhares de inválidos, sem falar em mais de um milhão de vítimas causadas pelo embargo contra o Iraque decretado a seguir, lembrou o sacerdote que agora tem um consultório de psicanálise.
Combinação de neurose e desvario
Pela análise que faz Eugen Drewerman, Bush deveria, no mínimo, procurar um psiquiatra. Os valores religiosos teriam sido herdados dos pais. "O componente religioso pode estar relacionado com o fim de seus problemas de alcoolismo. Os alcoólatras compensam graves complexos de inferioridade." Uma vez curado, teria feito como a maior parte dos convertidos: "esforçar-se para corresponder plenamente aos padrões valorizados por seu superego."
A conclusão de Eugen Drewermann é fulminante: "Para Bush filho, Deus e seu pai fundem-se na missão de travar uma guerra maior e melhor do que a que fez seu próprio pai - e com a bênção do pai celeste. Em suma, teríamos uma síndrome de superação e uma "combinação de neurose individual com desvario socio-psicológico".