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EducaçãoBrasil

O "ideal" de uma graduação

Lara Figueredo - Autorin der Kolumne Vozes da Educação
Lara Figueredo
21 de março de 2024

Desejo que um dia no Brasil a prioridade não seja a construção de novos presídios, mas sim de escolas e universidades de qualidade, diz Lara Figueredo, estudante de jornalismo na UFRB.

Nem sempre universidades públicas possuem estrutura melhor do que em escolasFoto: Joacy Souza/PantherMedia/IMAGO

O ingresso no ensino superior era até então o meu maior sonho, especialmente em uma universidade federal. Hoje vejo que essa idealização por muitas vezes é uma falácia. Estudei em escola pública e, como todo mundo sabe, o Estado não investe como deveria em educação. A estrutura parece ser planejada para que o aluno desista logo no começo e muitos colegas, assim como eu, se sentiam desestimulados a estudar. Não tínhamos livros, faltavam até mesas, cadeiras e, às vezes, professores.

Imaginava que, ao ingressar em uma universidade federal, a situação seria a oposta, mas não. Dessa vez, não temos portas nos banheiros, algumas pias não funcionam, normalmente falta papel e sabonete.

No meu primeiro semestre de jornalismo, um professor disse: "vocês precisam entender que o curso de Humanas é extremamente barato, porque vocês precisam somente de livros, caneta, folha e uma pessoa aqui na frente". A primeira sensação que tive é de que era algo até poético de ser escutado, afinal eu "só precisava de um livro". Mas descobri que isso não era tudo, na verdade, nem um livro eu poderia ou conseguiria ter. Fui tomada por um sentimento de indignação.

A biblioteca da minha universidade sobrevive com problemas e à base de vaquinha dos próprios funcionários. Chegaram até a juntar dinheiro para trocar a fechadura da porta e agora estão em greve. Os poucos computadores que funcionam são da época da fundação do curso, em 2006. Lá, até havia um certo investimento em universidades, tínhamos algumas câmeras fotográficas –aproximadamente oito –, mas atualmente restam apenas duas ou três, cujo uso é compartilhado entre os cursos que precisam.

Não temos restaurante universitário. Por mais que não seja algo obrigatório, o restaurante universitário é essencial para o estudante, pois muitos têm apenas o dinheiro da passagem. O campus da minha universidade é dividido em algumas cidades e recebe verba anual, mas recentemente tivemos um corte de 22,8% no orçamento.

Os funcionários técnicos estão em greve e possivelmente meus professores logo também estarão. Não os julgo. A greve é a reivindicação de seus direitos. Coloco-me no lugar deles, imagino o que é trabalhar por meses e não receber ou não ter aumento por oito, doze anos.

Descaso gritante

O descaso que abraça meu curso e tantos outros é gritante e dói. Observo a insatisfação dos meus professores e colegas de sala com o ensino superior. Sentimo-nos lesados, afinal, entramos aqui com um sonho, uma idealização, mas tudo está desmoronando e as coisas simplesmente não funcionam.

Alguns estudantes escolhem expressar suas indignações com pixações. Às vezes, há debates na faculdade discutindo se isso seria realmente relevante para resolver os problemas, e normalmente fica a incógnita. A reitoria não se importa muito, o que é triste. Se os vi na universidade cinco vezes foi muito, mas confesso que durante o período de candidatura foram até na minha sala.

O Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL) foi reformado, mas só foi arrumado o que já estava em péssimas condições. Também deixaram claro que era somente isso, pois, afinal de contas, a verba é baixa. Pintaram a fachada, as pixações, colocaram sifão no banheiro de cima, trocaram algumas portas.

Durante a escrita deste texto algo cômico aconteceu: um dos poucos ar-condicionado que funciona começou a vazar água e alagou nossa sala de aula, quase iam remendando com fita, e me questionei: "como consertar algo assim?"

Sei que falta muito e continuará faltando na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). A solução de problemas é muita burocrática. É preciso autorização da "matriz" em Cruz das Almas até mesmo para comprar uma maçaneta. O processo é extremamente lento, para tudo. E se você precisar fazer alguma solicitação estando no CAHL – apelidado carinhosamente pelos alunos de CAOS –, provavelmente a internet vai cair.

O que eu quero dizer com meu relato é que situações como essas passam a ser frequentes e deveras frustrantes, mas temos que superar diariamente. Mesmo que quase impossível, acredito que sejam eficazes as tentativas de cobrança do governo, reitoria e estudantes. Cuidar do CAHL é importante, vamos passar boa parte das nossas vidas lá dentro, e afinal, o ingresso no ensino superior ainda é um sonho – é o meu sonho e dos meus pais também, e de todo mundo que está lá dentro.

Quando paro para pensar sobre o lugar em que quero chegar e todas as dificuldades que ainda vou passar, as questões da universidade passam a ser pequenas, mas pensar sobre o lugar em que minha universidade poderia chegar e simplesmente não vai poder por falta de verba, me deixa entristecida.

Desejo que um dia no Brasil a prioridade não seja a construção de novos presídios, mas sim de escolas e universidades de qualidade. Afinal, a educação muda pessoas e as pessoas mudam o mundo.

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Vozes da Educação é uma coluna semanal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do programa no Instagram em @salvaguarda1.

Este texto, escrito por Lara Figueredo, de 20 anos, estudante de jornalismo na UFRB, e reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

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A coluna quinzenal é escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade.

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