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O irreversível avanço da inteligência artificial

Fernanda Pugliero
10 de novembro de 2018

Velocidade de evolução da inteligência artificial e impacto dela sobre a sociedade foram temas da conferência Web Summit 2018. Um dos destaques é o robô Sophia, que está mais inteligente e sensível.

Foto: Sportsfile

Os progressos da inteligência artificial parecem ser um caminho sem volta. Máquinas prontas para obedecer a comandos humanos, como celulares ou micro-ondas, começam a ceder espaço a uma nova geração de robôs, capazes de sentir, responder e conversar entre si.

Uma parte desses avanços e o debate sobre como eles afetarão a rotina humana nos próximos anos foram apresentados na Web Summit 2018, uma das maiores conferências de tecnologia e inovação do mundo, ocorrida em Lisboa de 5 a 8 de novembro.

Quando perguntado sobre qual número é maior, o de estrelas na Via Láctea ou de neurônios no cérebro humano, o presidente da Samsung, Young Sohn, não hesitou em responder: "O número de dispositivos que em breve estarão conectados à internet".

A chamada "internet das coisas", jargão que se refere à conexão à rede de dispositivos e aparelhos, que poderão se comunicar entre si, somada à quantidade crescente de dados produzidos e coletados por eles desencadeia, segundo Sohn, "a tempestade perfeita" para a proliferação da inteligência artificial.

"A inteligência artificial já existe há 30 anos, mas agora começa a transformar a sociedade e a ser um novo motor econômico", afirma.

O executivo diz ainda que as maiores empresas do mundo já não são mais as petrolíferas. Esse lugar é hoje ocupado pelas multinacionais que trabalham com tecnologia. "E se os dados são o petróleo, a inteligência artificial é o motor", finaliza.

Para o presidente de outra gigante, a Microsoft, Brad Smith, a inteligência artificial beneficiará a humanidade não apenas substituindo serviços que as pessoas preferem não fazer ou facilitando rotinas. "Daqui a dez anos, a inteligência artificial vai curar doenças como o câncer", assegura.

Apesar de apontar o lado bom da evolução tecnológica, Smith também alerta para os perigos dos rápidos avanços, como o aumento da possibilidade de ciberataques. "Algumas ferramentas que foram criadas para ajudar as pessoas estão sendo transformadas em armas", destaca. No ano passado, pelo menos 1 bilhão de pessoas no mundo todo foram vítimas de ataques pelas Internet, segundo ele.

Lembrando a data que comemora o armistício da Primeira Guerra Mundial, que ocorreu há cem anos em 11 de novembro, Smith propõe uma espécie de Convenção de Genebra para garantir um tratado para a paz digital.

No palco do evento, ele lançou uma petição que incentiva governos do mundo todo a adotarem medidas para regularem transversalmente a internet e tudo que está conectado ou depende dela.

"Não quero dizer que uma próxima Grande Guerra está prestes a começar, mas há semelhanças", alertou, referindo-se ao período após 1918. "Há cem anos, as instituições não responderam ao avanço da tecnologia e, 20 anos depois do armistício, a democracia se enfraquecia ao mesmo tempo em que a tecnologia continuava avançando e, em 1939, uma guerra ainda maior começou", argumenta.

Sophia, a prova "viva" da evolução da inteligência artificial

Primeiro robô a obter a cidadania de um país, Sophia subiu pelo segundo ano consecutivo ao palco da Web Summit para mostrar os upgrades que sofreu nos últimos meses. Ela não só ficou mais inteligente, como também sensível – e é um exemplo da velocidade de evolução que a tecnologia pode alcançar.

Em 2017, quando se tornou cidadã da Arábia Saudita, Sophia era capaz de responder a perguntas simples – na prática, seu "cérebro" acessava conteúdo online para emitir, por exemplo, uma opinião sobre o presidente dos Estados Unidos ou escolher seu filme preferido da saga Harry Potter. Neste ano, modificações em seu software a permitem reconhecer emoções – e também a executá-las na forma de expressões faciais.

Sophia consegue exprimir felicidade com um sorriso, nojo com uma careta, raiva apertando os olhos e outras 59 expressões faciais tipicamente humanas. "Estamos melhorando a inteligência ao modificar o software. Também estamos trabalhando para aprimorar o reconhecimento de emoções", explica Ben Goertzel, presidente da SingularityNET, empresa que criou o robô mais humano em atividade.

Sophia foi ativada em 2015 e tem até mesmo personalidade própria, construída artificialmente, mas de maneira individualizada. Ela costuma ser extremamente ácida e um pouco sarcástica em suas respostas.

Um ponto que evoluiu em relação ao ano passado foi a capacidade dela de perceber o ambiente onde está – algo que não pode, simplesmente, ser respondido a partir de uma busca na internet. Quando a pergunta não pode ser pesquisada, como identificar em que direção está olhando (se para a direita ou para a esquerda), o software que comanda o cérebro artificial de Sophia responde baseado em sua própria percepção.

No começo de 2018, Sophia também ganhou pernas – antes locomovia-se sempre empurrada por um carrinho.

Outro avanço é que agora dois robôs conseguem conversar entre si – antes, interagiam apenas a partir de estímulos humanos. Sophia conversou com o "irmão" Han – robô com funcionamento semelhante, mas projetado com personalidade e trejeitos masculinos, enquanto que Sophia foi inspirada na atriz Audrey Hepburn. Ela perguntou a Han se ele também gostaria de ser cidadão de algum país. A resposta: "É uma questão de tempo".

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