Modelo de cooperativa permitiu ao berlinense "taz" liberdade editorial. Atualmente 17,8 mil pessoas financiam desta maneira a publicação, que também é mantida graças a assinaturas.
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Em 1979, Berlim ganhava um novo jornal: o Die Tageszeitung, mais conhecido como taz. Durante toda a sua história, o diário de esquerda inovou e atualmente sobrevive sem depender do dinheiro da venda de anúncios.
Mesmo antes da sua primeira edição, os ativistas, que fundaram o jornal como uma alternativa à mídia mainstream da época, conseguiram vender 7 mil assinaturas anuais e, com elas, arrecadar o capital necessário para pôr em prática o projeto.
No início, o taz trazia a seus leitores notícias que não eram comuns de se ler nos jornais tradicionais da Alemanha, principalmente sobre direitos humanos e das mulheres. Com o passar dos anos, ele foi crescendo. Em 1992, uma crise financeira impulsionou a criação do modelo de cooperativa, que foi a salvação do diário.
Os leitores, antes apenas assinantes, puderam passar a serem os donos do próprio jornal, que também pode se dar ao luxo de negar anúncios de empresas que não condizem com seus valores.
Além dos investidores, os funcionários do taz também fazem parte da cooperativa. São estes últimos, no entanto, que têm poder de voto para decidir a linha editorial, questões administrativas e a diretoria do taz. Apenas em algumas decisões os financiadores externos têm voz, mas nunca sobre o conteúdo jornalístico.
Quem investe no taz não espera lucro, mas sim um veículo de comunicação independente. Todos os lucros do jornal são investidos na própria publicação. Para se associar, os interessados podem investir entre 500 euros, valor mínimo, e 100 mil euros, máximo. Atualmente, o taz possui mais de 17,8 mil cooperados e um capital de 17 milhões de euros. A meta é alcançar 20 mil investidores até 2020.
Com a era da internet, outra forte mudança atingiu o taz. O jornal precisava encontrar um meio de financiar o jornalismo online, que ainda depende do impresso. Seu site foi lançado em 2007, e em 2011 foi criado o crowdfunding taz zahl ich (taz eu pago). A partir de 0,30 centavos de euro é possível contribuir por artigo, até no máximo 5 euros. Existe também a assinatura. Atualmente, o jornal conta 12,4 mil pessoas que pagam pela leitura das reportagens desta maneira.
O taz é vendido em toda a Alemanha e possui uma tiragem de cerca de 52 mil exemplares durante a semana e 64 mil nos fins de semana. O jornal tem aproximadamente 250 funcionários. Com o apoio dos cooperados, conseguiu levantar os recursos necessários para a construção de uma sede própria, que será inaugurada em breve.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
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"Spiegel": 70 anos de críticas e jornalismo
A revista acompanha a República Federal da Alemanha desde a criação do país. Seu jornalismo investigativo, apontando para escândalos e maracutaias na política e na sociedade, conquistou respeito também fora da Alemanha.
Foto: picture alliance/dpa/D.Kalker
A primeira edição
Ao ser lançada, em 4 de janeiro de 1947, a revista "Der Spiegel" custava 1 Reichsmark. Na capa, o austríaco Friedrich Kleinwächter, que negociava em Washington a soberania política e econômica da Áustria no pós-Guerra.
Foto: Der Spiegel
O editor
O fundador e editor da revista "Der Spiegel", Rudolf Augstein, foi o jornalista mais influente da Alemanha: derrubou políticos e impulsionou a liberdade da imprensa como ninguém. Aos 23 anos, fundou o semanário "Der Spiegel", do qual foi redator-chefe durante décadas e editor até a morte. Impôs à publicação desde o início um rumo definido ("somos um órgão liberal de esquerda").
Foto: picture alliance/dpa/H.Pflaum
Lema: Não se intimidar
Em 1962, Augstein e sua publicação foram pivôs de uma grande crise na então ainda jovem República Federal da Alemanha. Depois de publicar um artigo crítico sobre a política de defesa do país e a Otan, ele sofreu pressão do então ministro alemão da Defesa, Franz-Josef Strauss. Mas a revista resistiu, e o ministro acabou caindo.
Foto: picture alliance/dpa/A.Warmuth
Sob pressão
O escândalo durou semanas. Vários jornalistas, inclusive Augstein, foram presos sob a acusação de traição à pátria. A Promotoria Pública ocupou as redações por várias semanas. Augstein ficaria na prisão por mais de cem dias. Ao fim, a democracia saiu fortalecida no Estado que se constituíra 13 anos antes. E a Alemanha ganhou um novo conceito de liberdade de imprensa.
Foto: picture-alliance/dpa
Nos tempos da RAF
Em 1977, a Alemanha enfrentou uma de suas piores crises. Membros da organização terrorista Fração do Exército Vermelho (RAF, da sigla em alemão) sequestraram o então presidente da Confederação das Associações de Empregadores da Alemanha, Hans-Martin Schleyer, que é morto após algumas semanas. A revista mancheteia: "Guerra de assassinos contra o Estado".
Foto: Der Spiegel
A aura do poder
Do ponto de vista político, Augstein tinha uma orientação social-democrata. Ele manteve uma estreita relação com o futuro chanceler federal Willy Brandt (à direita), que conhecera em 1948. Em trocas regulares de correspondência, eles manifestavam seus pontos de vista. Na foto, um encontro em 1972.
Foto: Imago
Modernidade em laranja
Não só de redações vive uma revista. Legendária é a cantina, concebida pelo arquiteto dinamarquês Verner Panton em 1969. Sob o ponto de vista estético, ela foi algo revolucionário, pois representou a chegada da modernidade. Hoje, 80 metros quadrados da cantina decorada com elementos em cor laranja fazem parte de um museu em Hamburgo.
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Crescimento
Com o passar do tempo, a "Der Spiegel" se tornou a principal e mais vendida revista na Alemanha. O êxito se reflete na nova sede da revista, que após 40 anos se mudou para um prédio novo (centro) no bairro HafenCity de Hamburgo. Hoje em dia, assim como outros veículos de comunicação impressos, a "Der Spiegel" luta contra a perda de leitores para a internet.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Marks
Manchetes e ilustrações da capa
As fotos de capa e reportagens de capa do semanário costumam se destacar por beleza, ousadia ou provocação. Como nesta capa, durante a guerra em Kosovo: "Guerra contra os assassinatos".
Foto: Der Spiegel
A raiva dos outros
Os repórteres investigativos da revista estão entre os melhores. O legado de Augstein, editor até morrer, em 2002, é o jornalismo mordaz. Isso se reflete também nos xingamentos e críticas à revista, como espelha a capa da edição de aniversário, com frases dos últimos cinco chefes de governo alemães. Em destaque, "Dieses Scheissblatt" (Este jornal de merda), de Willy Brandt.