O kaiser, lenda viva do futebol alemão
11 de setembro de 2005Respeitado internacionalmente, motivo de livros e até de filme, falta pouco a Franz Beckenbauer para coroar sua brilhante carreira como jogador que alcançou tudo o que se pode ganhar: técnico, empresário, garoto-propaganda, colunista no jornal Bild, presidente do Bayern de Munique e presidente do Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2006.
Talvez lhe faltem apenas os dois mais altos postos do futebol mundial: o de presidente da Uefa, cargo para o qual já é candidato e, quem sabe, de sucessor de Joseph Blatter na presidência da Fifa.
Ao apagar as velinhas no último aniversário, desejou duas coisas: "Primeiro, que ao final da Copa se diga que os alemães foram bons anfitriões. Outro desejo é que, na final do dia 9 de julho do ano que vem, a Alemanha jogue contra o Brasil e tenha a oportunidade de uma pequena revanche pelo que nos aconteceu em Yokohama em 2002".
Origem humilde
Beckenbauer, filho de um funcionário do correio, nasceu em Giesing, bairro do sul de Munique, em 11 de setembro de 1945. Sua juventude foi passada num internato jesuíta em Ingolstadt. Sob o ponto de vista profissional, estudou para ser vendedor de seguros.
A prática do futebol foi aprendida no SC 1906 de Munique. Já em 1958, mudou-se para o Bayern, então o segundo maior clube na capital da Baviera, com o qual ascendeu para a Primeira Divisão da Bundesliga em 1965.
Na verdade, o principal time alemão era, na época, o Munique 1860. Mas Beckenbauer, na época com 12 anos, se negou a jogar no clube devido a um desentendimento que ferira seu orgulho: ele havia levado um tapa na cara de um jogador do time.
Nos cinco anos seguintes, o Bayern se tornou a força dominante no futebol nacional. Hoje, é o recordista alemão de títulos, também graças a Beckenbauer.
Sua coleção de títulos é enorme: ele foi quatro vezes campeão alemão, quatro vezes campeão da Copa da Europa e uma vez campeão do mundo pelo Bayern. Em 1977, mudou-se para o Cosmos de Nova York, com o qual foi campeão norte-americano em 1977, 1978, 1980. Após uma passagem de dois anos pelo Hamburgo, onde embolsou mais um campeonato alemão, encerrou a carreira no Cosmos em 1983. Nas 424 partidas disputadas pela Bundesliga, marcou 44 gols, todos para o Bayern.
Quatro vezes Beckenbauer foi homenageado como Jogador do Ano na Alemanha (1966, 1968, 1974 e 1976). Em 1972 e em 1976, chegou a ser coroado o Melhor da Europa. Também como treinador obteve muitos êxitos. Na temporada de 1990–1991, por exemplo, esteve no Olympique Lyon, inicialmente como treinador, depois como diretor-técnico. Como técnico, o kaiser levou o Bayern à conquista do Campeonato Alemão de 1994 e da Copa da Uefa dois anos depois.
Cinco Copas do Mundo
Beckenbauer foi o segundo do mundo, depois do brasileiro Zagalo, a atuar como jogador e mais tarde como treinador da seleção de seu país. Ele disputou 103 partidas (marcou 14 gols), 50 das quais como capitão. Com a camisa alemã, conquistou o Campeonato Europeu de 1972, foi vice-campeão mundial em 1966, ficou em terceiro na Copa de 70 e, quatro anos depois, levantou a taça do bicampeonato mundial, ao derrotar a vizinha Holanda por 2 a 1.
Como técnico, chefiou a seleção até a final da Copa de 1986 no México, quando a Alemanha perdeu para a Argentina por 3 a 2. A revanche veio quatro anos depois: os alemães conquistaram o tricampeonato mundial ao derrotar a mesma Argentina na Itália, por 1 a 0.
Leia na página seguinte sobre o kaiser como dirigente esportivo e sua vida privada.
O kaiser como dirigente esportivo
O Bayern de Munique, no entanto, sempre foi o "clube do coração" de Beckenbauer. Em 1994, assumiu a presidência do Bayern de Munique e, pouco depois, se tornaria presidente do conselho fiscal da Bayern AG.
Sua popularidade e seus excelentes contatos no mundo futebolístico e empresarial levaram à escolha de seu nome para carro-chefe da candidatura alemã à Copa do Mundo de 2006, outro desafio vencido.
Origem do apelido
O apelido de kaiser lhe foi dado em 1968. Após um amistoso do Bayern em Viena, Beckenbauer havia posado ao lado de um busto do antigo imperador Francisco II da Áustria. Os repórteres o designaram "Fussball-Kaiser" (imperador do futebol), título que pegou imediatamente.
Hoje, o kaiser não só comenta jogos importantes em nível nacional ou internacional para a imprensa alemã, como também tem uma coluna no Bild, o jornal alemão de maior circulação no país.
Além disso, tem sete contratos milionários no setor publicitário, como garoto-propaganda de empresas como Audi, Adidas e a firma de telefonia móvel O2. Estima-se que ele fature em torno de 4 milhões de euros por ano apenas por ceder sua imagem em comerciais. Sua fortuna está avaliada em 40 milhões de euros.
Beckenbauer em particular
Ao longo dos anos, várias secretárias, cinco filhos e diversos netos vêm preenchendo sua vida. O primeiro filho, Thomas, nasceu em 1963 da relação com uma namorada, quando Beckenbauer tinha 18 anos. O menino foi adotado pela primeira esposa do kaiser, Brigitte, de profissão secretária. Com ela, Beckenbauer teve ainda Michael (1966) e Stephan (1968), até divorciar-se em 1990.
Entre 1977 e 1988, viveu com a fotógrafa Diane Sandmann, que o acompanhou enquanto esteve nos EUA. O casamento com a segunda esposa, Sybille (ex-secretária do DFB), durou 14 anos, até novembro de 2004.
Já dois anos antes, Beckenbauer havia assumido a relação com Heidi Burmester (ex-secretária do Bayern), com quem teve os filhos Joel-Maximilian e Francesca Antonie. Além de apaixonado por golfe, o kaiser administra ainda a Fundação Franz Beckenbauer, voltada para deficientes e pessoas necessitadas.
O que eles dizem do kaiser
"Ele fez coisas incríveis pela Alemanha, como jogador e como treinador. Além disso, trouxe a Copa para a Alemanha. Ele está no mesmo nível de Pelé e atrás deles tem um grande espaço. Ele é uma exceção." (Jürgen Klinsmann, técnico da seleção alemã)
"Quando o Franz diz que uma bola é quadrada, todos acreditam nele." (Otto Rehhagel, técnico da Grécia, campeã européia)
"É um supercompanheiro. Sua atuação em campo foi mais marcada pela inteligência do que pela força. Ele foi mais um jogador brasileiro do que alemão." (Pelé)
"Há muitos jogadores de futebol, mas apenas um kaiser." (Plácido Domingo, cantor de ópera)
"Uma pessoa impressionante. Quem não gosta dele, tem algum problema." (Michel Platini, rival na corrida pela presidência da Uefa)
"Eu teria preferido que ele tivesse seguido a carreira de meu avô e tivesse se tornado carteiro." (Thomas Beckenbauer, filho)
"Seu malandro! Você nunca será nada na vida. Olhe para mim. Cheguei a secretário-geral do correio. Isso você não conseguirá nunca!" (Franz Beckenbauer, pai, muitos anos atrás)