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"O lítio será uma moeda de alta procura no mundo ", diz pesquisador

Kamila Rutkosky17 de novembro de 2012

O lítio é um metal estratégico. Usado principalmente na indústria farmacêutica e de eletroeletrônicos, o elemento químico é cada vez mais requisitado para baterias elétricas. No Brasil, ele é explorado em Minas Gerais.

Foto: AP

O Futurando desta semana mostrou que a Bolívia tem a maior reserva de lítio do planeta, localizada no Salar de Uyuni. O Brasil também possui o mineral, mas apenas 1% da reserva mundial de lítio está no país. O metal é mundialmente requisitado, pois tem grande versatilidade e pode ser utilizado para diversas finalidades. Pesquisadores afirmam que, no futuro, o lítio será quase tão importante quanto o petróleo.

A aplicação do lítio depende do grau de pureza no qual o mineral é extraído. A indústria de fármacos, por exemplo, utiliza esta matéria-prima para produzir antidepressivos, mas é necessário um alto grau de pureza. O mesmo acontece para a produção de lubrificantes. O lítio também é usado como selante em reatores nucleares.

Mas, de acordo com Márcio Antonio Fiori, pesquisador do mestrado de Engenharia de Materiais da Unesc e presidente do Comitê Gestor da Rede de Lítio do Brasil (Rede PTD de Lítio), a grande procura pelo lítio atualmente é para a produção de baterias. "As melhores baterias, os melhores acumuladores de energia utilizados são à base de lítio", diz. 

Além do uso em celulares, laptops e tablets, o lítio é usado também nas baterias de automóveis elétricos. E esse é um dos motivos da corrida pelo lítio. Segundo o pesquisador, no Brasil essa é uma realidade muito recente, mas já existem veículos elétricos usados na cidade de São Paulo e o uso desta tecnologia tende a expandir.

Lítio, o próximo petróleo?

Com o crescimento do comércio de veículos elétricos, cresce também a procura pelo lítio. "O lítio no mundo será uma moeda de alta procura, pois não basta você ter a energia elétrica, é preciso também armazenar e deixá-la disponível a qualquer momento", esclarece Fiori.

Outro apelo citado pelo pesquisador é que o lítio não gera tanto impacto ambiental quanto o petróleo. "O petróleo gera CO2, não é uma energia limpa. Já o lítio não é associado com energia fóssil, energia química, combustão e queima. Ele é associado à energia elétrica e hoje podemos obter energia elétrica via eólica, solar, que não são tão poluentes".

Apesar do lítio não ser combustível, ele faz parte da tecnologia de geração de energia.  Fiori afirma que "não há dúvida alguma de que o lítio será o precursor de uma tecnologia que vai ter um valor talvez não igual ao do petróleo, mas tão valorizado quanto". Um dos indicadores é o preço do mineral com alto grau de pureza, que já está altíssimo. Em termos de valor econômico, importância econômica e financeira, ambiental e tecnológica, sem dúvida alguma ele pode ter uma equivalência com o petróleo, comenta.  

As baterias de lítio são mais duráveisFoto: Fotolia/Thomas Pajot

Lítio no Brasil

No Brasil, a exploração do lítio já acontece há alguns anos no estado de Minas Gerais, mas para uma finalidade diferente. O metal extraído no país é transformado em carbonato de lítio, um elemento usado principalmente na indústria de vidros e cerâmica. Para o pesquisador, este uso tem um valor econômico significativo, no entanto o metal extraído não possui alto grau de pureza. "Tirando a Companhia Brasileira de Lítio, ninguém mais explora o metal no Brasil", diz. O Ceará também possui reservas do metal, mas ainda não foram exploradas.

O país também não compra lítio estrangeiro. "Existe uma lei nacional que não permite a entrada de lítio mineral, ou para ser processado, no Brasil. Exatamente por ser considerado um metal estratégico, o país protege esse mercado", comenta Fiori.   

De acordo com o pesquisador, o Brasil fechou seu mercado para o lítio por uma questão estratégica. Se o Brasil comprar o lítio de outros países, vai pagar pouco. Mas o custo que o país tem para beneficiar seu próprio lítio está muito acima da média do mercado mundial. Então, se o Brasil não fechasse o mercado, ele acabaria não tendo condições de viabilizar a exploração do seu próprio lítio.

O Brasil ainda não produz lítio com alto grau de pureza. "A nossa tecnologia está muito aquém, as nossas estratégias políticas de governo e de mercado estão muito atrasadas em relação à tecnologia do lítio", diz Fiori.

Rede PTD de Lítio

Com o crescimento da importância do lítio no mundo, criou-se também a necessidade de montar uma estratégia para organizar a pesquisa e valorar a extração do metal. Com esta finalidade, foi criada no Brasil a Rede PTD de Lítio, uma iniciativa de pesquisadores e instituições, em parceria com o governo que tem entre seus objetivos melhorar o nível tecnológico, de exploração e de beneficiamento do metal.

"Nós estamos criando um projeto estruturante, assim vamos organizar futuras ações estratégicas para tipos de pesquisa, desenvolvimento, relações internacionais, entre outros, envolvendo o lítio", esclarece Fiori.

A Rede PTD de Lítio é composta pelas seguintes instituições: Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), o Centro de Tecnologia Mineral do Rio de Janeiro (Cetem/RJ), a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fapemi/MG), o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Telebrás (CPqD/Campinas/SP) e o Fulguris/SP, juntamente com o Ministério de Ciência e Tecnologia.

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