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O labirinto político de Dilma Rousseff

Clarissa Neher13 de março de 2015

Falta de perfil negociador para lidar com o Congresso e restrições dentro do próprio PT complicam situação da presidente no momento em que ela enfrenta escândalos, crise econômica e até pressão por impeachment.

Foto: Reuters/P. Whitaker

O início do segundo mandato não tem sido fácil para a presidente Dilma Rousseff. Mesmo com a base aliada sendo maioria no Congresso, ela não consegue aprovar ou vê devolvidas suas propostas. Dentro do próprio PT há restrições à afilhada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – e isso em meio ao escândalo da Petrobras, da crise econômica e da pressão pró-impeachment, fruto de uma eleição que deixou o país polarizado.

De todas as derrotas que Dilma sofreu desde a eleição, a que poderá custar mais caro veio da Câmara dos Deputados. Com um discurso de independência do Executivo, Eduardo Cunha (PMDB), que liderou uma rebelião de parlamentares contra o governo no ano passado, venceu por grande margem de votos (267 a 136) o candidato do Palácio do Planalto, Arlindo Chinaglia (PT). De olho no posto mais alto, o comando petista abriu mão de concorrer a outros cargos da Mesa Diretora e, diante da derrota de Chinaglia, o partido acabou ficando de fora dela.

O cargo de presidente da Câmara é cobiçado por concentrar poderes que podem facilitar – ou dificultar – a vida do Executivo. É o presidente, por exemplo, que define a pauta de votação.

No Senado, Dilma amargou outra derrota ao ver suas medidas de ajuste fiscal serem barradas pelo presidente Renan Calheiros, também do PMDB – um partido da base aliada. O fato de tanto Cunha quanto Calheiros estarem sendo investigados na Operação Lava Jato piora ainda mais o clima entre eles e Dilma.

"Parte da crise nas alianças deve ser creditada à incompetência do setor de articulação política do próprio governo. O núcleo duro do governo Dilma não possui nenhum político com perfil de negociador e articulador. Não que sejam maus políticos, ou incompetentes – eles apenas não têm perfil e experiência para fazer a política do 'varejo', do dia a dia das negociações com Congresso, empresários e movimentos sociais", afirma o cientista político Pedro Floriano Ribeiro, da Universidade Federal de São Carlos.

Na Câmara, Cunha prega independência do ExecutivoFoto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Mas a equipe do governo não é a única responsável por esse distanciamento – a própria presidente não participa muito do jogo político. Para o especialista Pedro Arruda, da PUC-SP, a entrada tardia de Dilma na política e a resultante falta de experiência no "varejo" das articulações políticas são fatores que prejudicam o desempenho da presidente.

O cientista político David Fleischer, da UnB, acrescenta que a participação dos partidos da base aliada nas decisões do governo – um modelo da era Lula – caiu no governo Dilma, o que ajuda a complicar a situação da presidente.

Às deficiências na articulação política somam-se, ainda, os problemas de imagem e carisma da presidente – cuja popularidade não para de cair. "Lula tinha uma aprovação maior nas pesquisas de opinião. Apoio popular é muito importante para um presidente comandar a sua coalizão de base", reforça. Arruda argumenta na mesma linha. "Dilma, de fato, não tem o carisma nem a desenvoltura para falar em público que o Lula tinha. E não ter essa capacidade de retórica e articulação a prejudica muito", diz o cientista político.

Resistência entre petistas

Além das dificuldades com a base aliada no Congresso, a situação de Dilma dentro PT também é delicada – principalmente se comparada à autoridade incontestável que o ex-presidente Lula tinha. Dilma não é uma petista histórica – entrou no partido apenas em 2000, vinda do PDT – e foi praticamente imposta por Lula como sucessora. Agora, os questionamentos à sua habilidade política e modo de governar começam a ficar mais fortes.

Calheiros devolveu projeto encaminhado pelo PlanaltoFoto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

Alas do PT têm mostrado resistência às medidas de ajuste fiscal propostas pela presidente. A situação chegou ao ponto de os líderes no Senado, Humberto Costa, e na Câmara, José Guimarães, terem que lembrar aos correligionários que o partido apoia Dilma e não faz oposição ao governo. As opções de Dilma por nomes como Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda e Kátia Abreu para a Agricultura também desagradaram muitos petistas.

"O PT é um partido de correntes, mas Dilma não integra de modo orgânico nenhuma dessas correntes. Ela não tem inserção na máquina do partido, não possui capital político e eleitoral próprio, além de ter uma legitimidade interna 'derivada', pois se assenta totalmente na designação feita em 2010 por Lula, que a indicou como sua sucessora", diz Ribeiro.

E, após a eleição, Dilma também não procurou reverter sua posição no partido. "No governo, ela formou uma entourage muito reduzida para lhe assessorar, sem buscar um apoio maior de grupos específicos dentro do PT", acrescenta Ribeiro.

As divergências partidárias internas ficaram evidentes durante a campanha eleitoral, quando o nome de Lula foi cogitado para o lugar de Dilma, e se acirraram em novembro, quando Marta Suplicy, ao deixar o cargo de ministra da Cultura, criticou indiretamente a política econômica do governo Dilma.

Lula mantém ajuda Dilma, atuando nos bastidoresFoto: Reuters

Mas os ataques não pararam por aí. Marta – uma petista histórica e ex-prefeita de São Paulo – voltou a criticar Dilma e colegas de partido em diversos momentos, chegando até a afirmar que Lula andava insatisfeito com a afilhada.

Para o cientista político Peter Birle, do Instituto Ibero-Americano de Berlim, as críticas abertas de Marta são um caso isolado – ao menos no momento, não existem conflitos escancarados no partido. "No caso da Marta há uma grande rivalidade e motivação pessoal, pois, como ela mesma disse, ela pensou que poderia ser a sucessora do Lula. Mas esse episódio mostra que há uma decepção na base", afirma Birle.

Já Arruda lembra que "ninguém é unanimidade dentro do próprio partido". É certo que Dilma ainda tem o firme apoio das lideranças do PT, e isso inclui a maior delas. Lula continua ao lado da presidente – e agindo nos bastidores para ajudar a fazer a articulação política com a base aliada que Dilma não está conseguindo fazer.

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