Inaugurado em 1880, Cemitério Judaico Berlim-Weissensee reflete história da cidade e da comunidade judaica berlinense. Recentemente, ganhou prêmio da ONU para iniciativas que apoiam a diversidade biológica.
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Olhada a entrada, o Cemitério Judaico Berlim-Weissensee parece com tantos outros. Mas uma caminhada em direção ao seu interior revela um pequeno paraíso tomado pela natureza. Entre túmulos e mausoléus surgem pequenos bosques, habitat de várias espécies de insetos, árvores e plantas.
Mas não só a natureza faz do cemitério um local fascinante. Construído em 1880 e com mais de 116 mil túmulos, ele retrata um pouco da história de Berlim e de sua comunidade judaica.
No final do século 19, a comunidade judaica da cidade se deparou com a necessidade de encontrar um novo espaço para enterrar seus mortos, pois o antigo cemitério na Schönhauser Allee estava quase lotado – pela tradição judaica, os mortos permanecem para sempre onde foram enterrados. Assim, foi adquirido o terreno de 42 mil hectares em Weissensee. Posteriormente, um concurso de arquitetura foi lançando para a construção do novo cemitério.
Em setembro de 1880, o primeiro morto foi enterrado no local. Durante as primeiras décadas de seu funcionamento, os mais abastados da comunidade mandaram construir mausoléus e túmulos cheios de grandeza. Alguns inclusive contratavam arquitetos famosos da época para criar sua última morada.
Em 1927, foi inaugurado no cemitério um memorial em homenagem aos 12 mil soldados judeus alemães mortos na Primeira Guerra Mundial.
Com a perseguição dos judeus pelo regime nazista, tragédias invadiram o cemitério. Quase 2 mil judeus enterrados no local se suicidaram entre 1933 e 1945. Uma das histórias mais triste é de um casal cuja esposa se matou no dia do aniversário do marido que havia saído para comemorar e, com o cair da noite, achou mais seguro dormir na casa de um amigo. Sem notícias, a esposa achou que o marido havia sido pego pelos nazistas. Desesperada, ela tirou a própria vida. Ao chegar em casa no dia seguinte e encontrar a esposa morta, o marido também se suicidou.
Em 1945, apesar de os bombardeios destruírem partes do cemitério, inclusive alguns prédios administrativos e outros usados em cerimônias fúnebres, o local permaneceu praticamente intacto e não sofreu tanto com depredações dos nazistas como outras instituições judaicas na cidade.
Após a Segunda Guerra Mundial, os planos de construção de uma rodovia atravessando o cemitério, num terreno que pertencia à prefeitura, causaram protestos na década de 1980.
Durante os seus mais de 130 anos de história, a natureza foi preenchendo os espaços e tomando conta de túmulos abandonados. Essa integração entre proteção à natureza e a monumentos históricos rendeu recentemente ao cemitério um prêmio da ONU para iniciativas que apoiam a diversidade biológica.
O Cemitério Judaico Berlim-Weissensee fica no número 1 da Markus-Reich-Platz e está aberto ao público de domingo a sexta-feira.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
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Cemitérios fascinantes de Berlim
A capital alemã possui nada menos do que 224 cemitérios, apresentados em detalhe uma nova publicação. Conheça alguns e aprenda sobre o impressionante passado da cidade.
Foto: B. von Brauchitsch
Anjos por toda a parte
Segundo Boris von Brauchitsch, historiador de arte e autor de um guia sobre os cemitérios de Berlim recém-publicado, nenhuma grande cidade abriga tantas necrópoles quanto a capital alemã. E onde há mortos, há anjos. Os dois da foto são do cemitério no bairro de Mitte onde repousam mortos famosos como o filósofo Georg Wilhelm Friedrich Hegel, o dramaturgo Bertolt Brecht e o artista John Heartfield.
Foto: B. von Brauchitsch
Cicatrizes do passado
Os cemitérios de Berlim não apenas refletem a história da cidade: eles carregam, literalmente, cicatrizes de seus eventos históricos. Este mausoléu no cemitério Dorotheenstädtischer-Friedrichswerderscher, também em Mitte, foi fortemente atingido por disparos de artilharia. O estrago ainda é bastante visível.
Foto: B. von Brauchitsch
Juntos no além-túmulo
Mausoléus familiares são uma constante dos cemitérios de Berlim. Este exemplo peculiar pode ser admirado no cemitério Georgen-Parochial I. No entanto, parte da necrópole já foi fechada. O terreno se localiza numa área nobre do bairro de Prenzlauer Berg – antes povoado pela boemia e a cena artística, e hoje favorito das jovens famílias bem situadas.
Foto: B. von Brauchitsch
Descanso romântico na Schönhauser Allee
O cemitério judaico mais famoso de Berlim fica no bairro de Weissensee, porém o mais antigo e romântico está localizado em Prenzlauer Berg. Ele data de 1827. Difícil acreditar que exista um lugar assim no centro de uma metrópole moderna. Lá estão enterrados o artista Max Liebermann, o compositor Giacomo Meyerbeer e o empresário Moritz Manheimer, fornecedor de uniformes do Exército prussiano.
Foto: B. von Brauchitsch
Ameaça de extinção
Cemitérios costumam ter muitos inimigos naturais, como a queda da taxa de mortalidade ou a importância cada vez menor da religião na sociedade. Como resultado, alguns dos cemitérios históricos da capital alemã sofrem risco de fechar. Isso efetivamente destruiria uma parte da história de Berlim. Por sua vez, os empresários do ramo imobiliário esfregam as mãos de ganância.
Foto: B. von Brauchitsch
Sono eterno
No fim da Segunda Guerra Mundial, as elaboradas cercas de ferro forjado presentes em muitos cemitérios de Berlim foram derretidas para suprir a enorme demanda de metal. As obras que restaram, no entanto, expõem exemplos encantadores do artesanato tradicional. E são carregadas de simbologia: as papoulas, com os opiáceos que contêm, simbolizam o sono eterno.
Foto: B. von Brauchitsch
Descanso dos infelizes
Grunewald-Forst ganhou o apelido de "cemitério dos suicidas". Quem tira a própria vida é normalmente excluído do campo-santo, mas neste caso os guardiães da fé fizeram vista grossa. As cruzes na foto marcam os túmulos de czaristas aterrorizados após a Revolução Russa. A cantora Nico, parceira da banda Velvet Underground, também está enterrada ali.
Foto: B. von Brauchitsch
Russos, turcos, berlinenses
Os cemitérios de Berlim são peculiares por uma série de aspectos. Um exemplo colorido é o cemitério russo-ortodoxo no bairro de Reinickendorf. Uma aura de exotismo também envolve o cemitério turco mais antigo da Alemanha, situado na avenida Columbiadamm, no bairro de Neukölln. Ambos recordam a longa tradição multicultural de Berlim.
Foto: B. von Brauchitsch
Morte na Berlim dividida
O cemitério católico de Charlottenburg fica na periferia de Berlim. E a grande distância selou o seu destino: com a construção do Muro de Berlim, em 1961, ele ficou isolado da parte ocidental da capital. Então, as autoridades da Alemanha Oriental simplesmente deixaram às ruínas o campo-santo, localizado numa área de segurança e portador de um incômodo passado nazista.