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O misterioso arquivo de Rudolf Hess, segundo na hierarquia nazista

Sarah Judith Hofmann (mas)17 de setembro de 2013

Durante a Segunda Guerra Mundial, Rudolf Hess viajou para a Escócia, levando consigo uma proposta de paz aos britânicos. Agora, um rascunho do que seria esse acordo está em leilão.

Selo com as iniciais de Rudolf Hess está nos documentosFoto: picture-alliance/dpa/Alexander Historical Auctions

A história poderia ser o começo de um filme de James Bond: um homem recebe um telefonema anônimo. Um arquivo, que pode ser útil aos seus "projetos", é oferecido a ele, que deve procurar os documentos no dia seguinte, num determinado local. Ele vai ao local e, de fato, lá está o arquivo de um oficial do alto escalão nazista.

Isso aconteceu há 20 anos. O sinistro arquivo contém protocolos, anotações e cartas de Rudolf Hess, o segundo homem na hierarquia nazista. Os documentos são, provavelmente, da época em que Hess estava numa prisão britânica. Entre eles está um rascunho de um tratado de paz que Hess queria apresentar aos britânicos em maio de 1941, pouco antes do ataque dos alemães à União Soviética.

A história, que soa como a de um filme de espionagem, estava no site da casa de leilões Alexander Historical Auctions, especializada em artigos históricos. No entanto, ela não foi o suficiente para incentivar possíveis interessados a adquirir os documentos históricos, que foram a leilão na semana passada. A razão principal foi, provavelmente, o salgado preço, entre 500 mil e 700 mil dólares.

Arquivo contém cartas, transcrições e um rascunho do acordo de pazFoto: Alexander Historical Auctions

Não um nazista qualquer

A importância desses documentos está em Rudolf Hess, que não era um nazista qualquer, mas um dos mais próximos colaboradores de Hitler, por muito tempo seu vice em caráter oficial. Em 1941, em meio à Segunda Guerra e pouco antes da invasão da União Soviética pela Alemanha, ele voou para a Escócia para negociar um acordo de paz bilateral com a Grã-Bretanha. O plano previa que a Europa ficasse com os nazistas, e os britânicos poderiam manter seu império em outras partes do mundo – somente as antigas colônias alemãs teriam de ser devolvidas.

Os britânicos, como se poderia esperar, não aceitaram a proposta. Hess foi imediatamente preso e permaneceu no país até 1946, quando foi julgado em Nurembergue por crimes de guerra e condenado à prisão perpétua. Em 1987, aos 93 anos, ele se suicidou na prisão para criminosos de guerra de Berlim-Spandau.

Esses são os fatos conhecidos. Mas ainda existem muitas incertezas: Hess levava mesmo a sério o seu plano de paz? Qual era o papel exato dele no regime nazista? Hitler estava ciente do plano? Ainda durante a guerra, Hess foi considerado mentalmente doente. Em cima disso ele baseou a sua estratégia de defesa em Nurembergue. Até hoje, é considerado por neonazistas um herói de guerra capturado pelos britânicos.

Rudolf Hess (segundo na primeira fila) no banco dos réus em NurembergueFoto: picture-alliance/akg-images

Os arquivos de Hess poderiam oferecer novas informações? "A História, de qualquer maneira, não será reescrita por eles. Mas talvez esses arquivos tragam uma nova perspectiva em relação a Rudolf Hess", comenta Achim Baumgarten, chefe da unidade para registro de coleções de origem privada do Arquivo Federal da Alemanha, em Koblenz. Há quase um ano, o arquivo recebeu uma cópia de uma pequena parte desses arquivos.

Provavelmente não foi um roubo

Baumgarten diz que os valores pedidos no leilão eram completamente exagerados, embora ele considere possível que os documentos realmente tenham sido escritos por Rudolf Hess. "Pelo menos, eu ainda não posso provar que o arquivo é falso", diz.

Há um ano, a casa de leilão Beck Militaria consultou Baumgarten sobre a veracidade do arquivo. A consulta fazia todo o sentido, já que o arquivo onde Baumgarten trabalha reúne inúmeros documentos sobre Rudolf Hess. "O que logo me chamou a atenção foi o carimbo em inglês 'most secret'", diz Baumgarten. Ele pensou que os documentos poderiam mesmo ser verdadeiros, possivelmente roubados do Arquivo Nacional Britânico. Mas este negou um possível roubo.

Baumgarten especula que Hess poderia ter feito cópias na prisão de sua carta ao rei britânico e de seu plano de paz – esses seriam os documentos que agora foram a leilão. Eles poderiam ter sido levados para fora da prisão por algum funcionário da penitenciária. Tudo isso é especulação. Os documentos originais, entregues por Hess aos oficiais britânicos, estão guardados na Grã-Bretanha. Ao menos até 2018, não estarão disponíveis ao público.

Falso ou original?

Baumgartem comparou a caligrafia das poucas páginas a que teve acesso com os documentos de Hess que se encontram no Arquivo Federal. A escrita é em linha reta, assim como a do vice de Hitler. "Certas letras, certos comprimentos de letra são os mesmos." O carimbo com o qual os documentos foram selados continha as iniciais RH.

Ainda não se pode comprovar a autenticidade do arquivoFoto: Alexander Historical Auctions

Mas isso ainda não é suficiente para provar que o arquivo é mesmo verdadeiro, ressalta Baumgarten. "Para provar a autenticidade, o Departamento Federal de Investigações da Alemanha (BKA) precisaria fazer uma análise da tinta e do papel. Mas nunca tive os originais em mãos", completa. Sem essa análise, nada pode ser provado. Ainda assim, o Arquivo Federal gostaria de comprar esses documentos. "Mas não a esse preço", descarta Baumgarten.

Mas por que o Arquivo Federal não tem boas chances em leilões? "Muitas vezes saímos de mãos vazias, especialmente quando se trata de documentos de líderes nazistas", lamenta Baumgarten. Recentemente, o livro contábil privado de Hitler foi a leilão. "Esse documentos conseguem lances no mercado americano que são impossíveis para nós", afirma. Nos Estados Unidos, documentos são oferecidos no mercado privado por preços muito superiores "ao que nos parece ser apropriado e que poderíamos pagar", completa Baumgarten.

Muitas peças únicas surgem nos Estados Unidos. Elas foram levadas pelos soldados americanos estacionados na Alemanha. "As gerações seguintes encontram essas peças, não têm nenhum interesse por elas e as colocam em leilão." Por causa do tempo que já se passou, não é mais possível reclamar roubo, e o Arquivo Federal participa dos leilões como qualquer outra parte interessada.

O novo proprietário do livro contábil de Hitler vendeu uma cópia ao Arquivo Federal por 1.000 euros. Baumgarten espera que isso também aconteça com os arquivos de Hess.

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