Sabine Oelze / Gabriela Soutello29 de julho de 2015
Há 125 anos morria o pintor holandês, um desconhecido durante a sua vida e que hoje é considerado um dos maiores da história. Holanda, França e Bélgica celebram o seu legado.
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Europa celebra Van Gogh
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Vincent Van Gogh nasceu em 30 de março de 1853 em Zunder, na Holanda. Ele recebeu o nome do irmão que havia morrido no mesmo dia do ano anterior. Sob o espectro de ovelha negra, Van Gogh era considerado um fracassado pelos familiares. Foi ao lado deles que o pintor passou sua juventude, descrita por ele como fria e sombria.
Antes de começar a pintar, Van Gogh morou em Londres e Paris, onde trabalhou como comerciante de arte. Aos 20 anos, era bem-sucedido na profissão e ganhava mais do que o pai. Mas uma desilusão amorosa fez com que eles se isolasse e se voltasse para a religião. No auge do fervor religioso, tentou tornar-se pastor e trabalhou como missionário.
Impressões expostas
Foi somente em 1879, quando se mudou para a pequena região de mineração de Borinage, na Bélgica, que começou a seguir sua verdadeira vocação: a pintura. Imerso no cotidiano dos mineradores que trabalhavam 700 metros abaixo da terra, Van Gogh passou a expressar suas impressões sobre a região em seus primeiros quadros.
Além das pinturas, foi também por meio de cartas – foram mais de 2 mil – que o artista relatou suas impressões: seus escritos variavam de reflexões profundas sobre acidentes nas minas até a paixão tortuosa nutrida por Margot Begemann, com quem manteve uma relação amorosa trágica em 1884. Entre as cartas, 820 estão preservadas, e pelo menos 600 foram trocadas com o irmão, Theo, com quem desenvolveu um forte laço afetivo.
De volta para casa
Em 1883, após um período em Haia, onde chegou a ter uma relação com uma prostituta e a morar com ela e seus dois filhos, Van Gogh foi morar na casa dos pais – que permanece intacta até hoje – em Nuenen, na província de Brabante, na Holanda, para onde eles havia se mudado.
Nessa época, as pinturas sobre a vida no campo refletiam sua própria vida: simples e melancólica, sem embelezamento – como a famosa obra Os comedores de batata, produzida em esboços durante todo o inverno até ser concluída em abril de 1885.
Uma nova fase
Nesse mesmo ano, após a morte de seu pai, Van Gogh deixou Nuenen. Mudou-se para Antuérpia, na Bélgica, e, em seguida, com o apoio financeiro e com a companhia de Theo, para Paris. Foi na capital francesa que o pintor conheceu e foi influenciado por artistas como Claude Monet e Pierre-Auguste Renoir.
Em 1888 se mudaria mais uma vez, agora para Arles, no sul da França, onde desenvolveu um novo estilo de pintura: cenas cotidianas dotadas de cores mais fortes e vibrantes, contornos definidos e contrastes expressivos entre linhas e superfícies. Nesse mesmo ano Van Gogh produziria o famoso quadro A casa amarela e, em 1889, outro clássico: A noite estrelada.
Van Gogh cometeu suicídio em 29 de julho de 1890, há exatos 125 anos, sucumbindo a uma doença mental.
Ano de comemorações
Em Eindhoven, na Holanda, a obra Noite estrelada (1889) é lembrada de uma maneira literalmente brilhante: mais de um milhão de luzes de LED simulam estrelas no chão de uma ciclovia. A experiência sensorial, denominada Van Gogh Bicycle Path, foi projetada pelo designer Daan Roosegaarde e faz parte de um conjunto de homenagens aos 125 anos da morte do pintor.
Trinta instituições europeias realizam exposições e eventos culturais sob o nome de "125 anos de inspiração". Entre elas estão cidades holandesas, como ‘s-Hertogenbosch e Otterlo, e também Mons, na Bélgica, eleita capital cultural da Europa neste ano. Participam ainda as cidades francesas de St. Remy, Arles e Auvers-sur-Oise – onde o pintor cometeu suicídio com 37 anos, em 1890.
Embora tenha sido na França que Van Gogh produziu as obras que o tornariam um dos pintores mais famosos do mundo, é na Holanda, onde nasceu, que há mais exposições em sua homenagem. Em 25 de setembro será inaugurada em Amsterdã a exposição Munch: Van Gogh, que abordará paralelos entre as obras do pintor com as do expressionista Edvard Munch – o qual, no entanto, nunca conheceu.
Quem foi Vincent van Gogh?
Os últimos meses de vida do gênio pintor Vincent van Gogh, morto em 29 de julho de 1890, foram marcados pela instabilidade emocional.
Foto: NBTC Netherlands Board of Tourism & Conventions
Augúrios sombrios
Vincent Willelm van Gogh veio ao mundo em 30 de março de 1853, recebendo o mesmo nome do irmão que nascera morto exatamente um ano antes. Ao todo, eram cinco crianças na casa do pastor protestante Theodorus. Vincent descreveu a juventude na casa da família em Groot-Zundert como "escura e fria". Ao longo de sua breve vida, ele manteve correspondência regular com o irmão Theo, quatro anos mais novo.
Foto: NBTC Netherlands Board of Tourism & Conventions
Ovelha negra da família
Aos olhos de sua família, Vincent era um fracassado. Toda profissão que assumiu, seja marchand, oficial de Marinha ou pregador laico, ele abandonou depois de pouco tempo. Em 1879, ele assumiu um cargo temporário de missionário na região carvoeira de Borinage, Bélgica. Alugou uma cabana junto à família de um padeiro na cidade de Cuesmes, onde viveu na mais absoluta pobreza.
Foto: Getty Images/Eric Lalmand
Lápis como arma
A miséria dos mineiros impressionou Vincent van Gogh. Mais ainda: ele se identificou ao extremo com os habitantes da Borinage, pintou o rosto de preto para ser um deles. Por fim, tomou o lápis e passou a documentar a vida das pessoas em torno de si, em desenhos canhestros.
Foto: Vincent van Gogh
No fundo do poço
Da mina Marcasse, na Borinage, hoje só restam ruínas, um vagão recorda tempos sombrios. É nele que Van Gogh entrou, para vivenciar de perto as condições de trabalho dos mineiros, a 700 metros de profundidade. Em carta ao irmão Theo, ele descreveu seu choque com a opressiva falta de espaço e escuridão.
Foto: DW/Sabine Oelze
Escuridão inicial
Após vários desvios, chegou à cidade holandesa de Nuenen, para onde seu pai foi designado como pastor. Vincent buscou abrigo junto aos pais, que só a contragosto o acolheram. Lá, permaneceu de 1883 a 1885. No período, ele retratou os lavradores e os campos da província de Brabante do Norte, ainda em cores escuras. Ele pintou de forma direta, sem embelezar, até mesmo um simples cesto de batatas.
Foto: Vincent van Gogh Stichting
Motivos singelos
Em Nuenen, hoje um subúrbio da metrópole Eindhoven, Van Gogh desfrutou uma vida simples. Ele descobriu as tecelarias caseiras como tema pictórico, assim como as edificações pequenas e singelas típicas da cidade. O pintor ainda principiante trabalhou todo um inverno nos esboços de "Os comedores de batatas", até ficar satisfeito.
Foto: gemeinfrei
Natureza e trabalho
Nasceram obras cheias de melancolia, algumas ainda anatomicamente imperfeitas. Mas ele pintou pelo menos um quadro por dia. Em Nuenen, ele teve até mesmo um ateliê próprio – um enorme luxo. A residência do pastor (foto) dava vista sobre a despojada cabana de jardim em que Van Gogh trabalhava.
Foto: DW/Sabine Oelze
Atração pela França
Ninguém podia prever que esse antiacadêmico holandês estaria, um dia, entre os artistas mais importantes do mundo. Depois da morte do pai, ele deixou Nuenen. Com "Os comedores de batatas" na bagagem, partiu para a Antuérpia e, pouco mais tarde, para Paris. Com o apoio financeiro do irmão Theo, que vivia ali como comerciante de arte, se instalou na metrópole à margem do Sena.
Foto: NBTC Netherlands Board of Tourism & Conventions
Experimentos de cor
Em 20 de fevereiro de 1888, Vincent van Gogh deixou a capital, partindo para o sul da França, à procura da luz, como disse. Em constante intercâmbio com seus colegas pintores, os matizes explodiram em suas telas – vermelho, amarelo, verde, azul, violeta. Ele trabalhou com os contrastes das cores complementares e com linhas e superfícies fortemente expressivas.
Foto: Kröller-Müller Museum/Otterlo
Van Gogh vive
Em 2015, por ocasião dos 125 anos da morte do pintor, 30 instituições trabalharam em conjunto para rememorar o heterodoxo gênio, incluindo as cidades francesas de Saint-Rémy, Arles e Auvers-sur-Oise – onde em 27 de julho de 1890, aos 37 anos de idade, ele se deu um tiro de revólver no peito, causando sua morte dois dias depois.
Foto: NBTC Netherlands Board of Tourism & Conventions