1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

O novo papel de liderança do Brasil

(ns)18 de maio de 2004

Lula vai criar uma nova geografia econômica, segundo o ministro Celso Amorim. Em entrevista ao "Der Spiegel", Amorim falou sobre as novas alianças estratégicas, protecionismo europeu e o gelo nas relações com os EUA.

Ministro das Relações Exteriores, Celso AmorimFoto: AP

A nova ofensiva estratégica do Brasil, que se exprime em sua política exterior e de alianças, não passou despercebida ao conceituado semanário alemão Der Spiegel. Desde a posse de Lula, o Brasil tem procurado desempenhar um papel mais ativo na região, projetando-se como porta-voz dos países emergentes. Procurando esclarecer os planos de Brasília, a revista traz uma ampla entrevista com o ministro alemão das Relações Exteriores, Celso Amorim.

Livre comércio: europeus enrolados

Perguntado sobre as negociações do Mercosul com a União Européia para criação de uma zona de livre comércio, Amorim manifestou-se otimista de que elas possam ser concluídas até o fim do ano. Mas não deixou de observar que os europeus estão enrolando e que as ofertas de Bruxelas não são muito claras. "Os ricos têm que fazer mais sacrifícios do que os pobres", declarou o ministro brasileiro, fornecendo logo o título do artigo.

Confrontado com a acusação norte-americana de protelar a criação da Alca, a Área de Livre Comécio das Américas (Alca), Amorim refutou que o Brasil estivesse se isolando, como sugeriu o semanário, uma vez que Washington partiu a negociações bilaterais com outros países latino-americanos.Além do interesse do México em contatos mais estreitos com o Mercosul, Brasília pretende negociar acordos de livre comércio com a Índia, a África do Sul e a China.

A China e as novas alianças estratégicas

Inquerido sobre a aliança estratégica com a Índia e a África do Sul, o ministro brasileiro confirmou que a intenção era formar um bloco dos grandes países agrícolas na Organização Mundial do Comércio, mas negou que fosse para se opor a quem quer que seja. "Desde então os europeus e os americanos nos tratam com mais respeito", observou.

"O presidente Lula quer criar uma nova geografia econômica, por isso viaja este mês à China," ressaltou o chefe da diplomacia brasileira. EUA e União Européia seriam mercados saturados, com chances de crescimento limitadas. "A China e a Índia são mais pobres, mas o potencial é maior", expôs Celso Amorim, acrescentando que o comércio do Brasil com a China triplicou em cinco anos e a China hoje é o terceiro parceiro comercial do Brasil.

Enfrentando os Estados Unidos

"As relações internacionais se constroem sob a base da reciprocidade", explicou Amorim, ao ser questionado sobre a decisão de tomar impressões digitais dos americanos, em sua chegada no Brasil. O tema foi abordado no contexto do novo clima gélido que se impôs nas relações com os EUA.

Lula e o "máximo líder" cubano Fidel CastroFoto: AP

Nessa conta, o semanário colocou também as visitas de Lula à Líbia e Cuba. No caso da Líbia os EUA não terim do que reclamar, retrucou o ministro brasileiro, pois a visita de Lula foi dez dias antes de Washington normalizar as relações com Gaddafi. Quanto à acusação de que o presidente brasileiro trata Fidel Castro com muita condescendência: "Em certas situações, uma diplomacia silenciosa funciona melhor do que usar altofalante. No encontro particular com Fidel, Lula transmitiu sua mensagem."

Urânio

O conflito com a Agência Atômica Internacional porque o Brasil quer enriquecer urânio e vendê-lo, também foi abordado, por ser sintomático de uma nova soberania nacional. Amorim esclareceu que o Brasil não recusa uma inspeção, mas estaria discutindo a forma como ela será feita. "Mas o nosso know-how vai continuar sendo um segredo industrial" – acrescentou, precisando o que está em jogo.

Pular a seção Mais sobre este assunto