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O novo templo do futebol alemão

Milan Gagnon (jps)22 de outubro de 2015

Orçado em 36 milhões de euros, museu em Dortmund reúne relíquias e é alardeado como local de peregrinação para fãs do esporte. Verba da construção saiu em parte do dinheiro arrecadado na Copa de 2006.

O Museu do Futebol fica a poucos quilômetros da estação ferroviária central da cidade de DortmundFoto: Getty Images/Bongarts/C. Koepsel

O lema de Dortmund é "vamos surpreender você". E a Federação Alemã de Futebol (DFB) parece ter levado isso à risca, ao erigir um templo de 36 milhões de euros na cidade – sem fazer parecer uma extravagância. O aguardado museu será inaugurado neste domingo (25/10).

Metade da verba gasta no novo museu, conhecido pela sigla DFM (Deutsches Fussballmuseum), foi financiada pelo governo do estado da Renânia do Norte-Vestfália. Patrocinadores e verbas arrecadadas na Copa de 2006 cobriram o resto.

"O desejo de preservar a memória dessa experiência única de forma atraente foi o argumento decisivo para dar ao futebol um espaço público permanente", escreveram representantes do museu sobre as origens do local, em 2006. "Com os valores arrecadados na Copa, a DFB lançou o plano de criar o museu."

Para adicionar mais um elemento de suspense antes da inauguração, a revista Der Spiegel publicou no final da semana passada uma reportagem acusando a Alemanha de ter "comprado" a oportunidade de sediar a Copa de 2006. O presidente da DFB, Wolfgang Niersbach, negou que o país tenha pago subornos. "Não houve fundos escusos", disse, em entrevista coletiva sobre a inauguração do museu. "Nenhum voto foi comprado." Ele então partiu para Zurique para repetir as declarações aos representantes da Fifa.

No coração do futebol alemão

A localização do museu em Dortmund, no coração da populosa região do Vale do Ruhr, não é uma mera coincidência.

A maior parte da região torce para o Borussia Dortmund (BVB), que neste mês viu seu ex-técnico Jürgen Klopp ir para Liverpool. Já o Schalke 04 joga a apenas 30 minutos de viagem de trem do museu, em Gelsenkirchen. Equipes como o Mönchengladbach e Bayer Leverkusen também estão relativamente próximas. Outras, como o Bochum e o Colônia, também estão na vizinhança.

A camisa usada por Karl-Heinz Rummenigge na decisão da Copa de 1986, vencida pela ArgentinaFoto: DFM/firo

Dortmund também está no entroncamento de importantes vias ferroviárias que ligam o sul ao norte e o oeste ao leste. Representantes do museu estimam que até 270 mil "peregrinos" poderão visitar o museu anualmente durante as suas conexões – ele está situado perto da estação central.

Os visitantes não vão só ser surpreendidos, como promete Dortmund – eles vão é ficar espantados com o preço da entrada do museu: 17 euros (quase 75 reais) para adultos que não fizerem uma reserva online.

O primeiro passo é subir em uma escada rolante que simula a chegada à arquibancada. Alto-falantes reproduzem os gritos e o canto da torcida. Nas paredes, caricaturas, algumas de celebridades, aparecem com as camisas dos times mais famosos da Alemanha. Alerta de spoiler: uma figura da chanceler Angela Merkel aparece ordenando que os jogadores ganhem.

Brazuca: uma das bolas usadas na decisão da Copa de 2014 está exposta no museuFoto: DFM/firo

E então o visitante chega mais ou menos ao evento principal, que segundo o chefe do museu, Manuel Neukirchner, é uma mistura de "textos e mídia, com sons, estilo, luzes, e imagens tridimensionais".

A primeira sala celebra os barrigudos homens brancos que conquistaram a Copa de 1954 – um contraste e tanto com a safra de atléticos e multiétnicos jogadores da seleção de 2014.

Em uma sala que reúne imagens de bolas e outros artefatos, está o globo do DFM, claramente a atração principal do primeiro nível do museu. Com quatro metros de diâmetro e bastante estiloso, o globo incandescente assume a forma de uma bola de futebol quando não está mostrando cenas da vitoriosa seleção alemã durante a Copa de 2014.

Estude antes de ir

Depois dessa atração, o DFM oferece outro filme, narrado por hologramas de membros da seleção de 2014. Os jogadores, presumivelmente reconhecíveis pelo público esperado pelo museu, não têm os nomes indicados para os não iniciados - algo que parece estranho e pouco informativo para um museu que pretende atender ao público em geral. E por que exibir dois filmes sobre o mesmo time usando imagens que os fãs podem facilmente encontrar no YouTube?

Na "câmaradotesouro", réplicas de troféus estão individualmente dispostas. Ao lado, está a sala de treinamento e táticas, onde consoles respondem aos visitantes, por exemplo, se seus hábitos de dieta os deixam fracos demais para jogar futebol – a tela redireciona o visitante sedentário para uma propaganda da rede de supermercados Rewe, onde ele pode encontrar nutrientes adequados.

Salão interativo: consoles testam conhecimento dos visitantes sobre a história do futebolFoto: DFM

Na penúltima sala, está um carrossel que gira lentamente, com poltronas semelhantes às encontradas em estádios. Nele, o visitante pode ver imagens de cenas cômicas registradas no futebol alemão, enquanto uma música animada acompanha o pastelão.

Uma breve história de como o dinheiro arruinou o esporte se torna praticamente opcional por estar disposta na periferia da enorme sala dedicada à Bundesliga. O que não deixa de ser irônico, considerando o atual escândalo envolvendo a Copa de 2006. Um vídeo também agradece aos fãs pelo apoio enquanto tenta desencorajar o hooliganismo.

E as mulheres?

Na última sala, o Hall da Fama chega rápido demais e parece sombrio demais após a sucessão de hologramas. Essa sala cilíndrica comemora mais do que celebra. As paredes negras com nomes inscritos parecem ter a reverência de um memorial de guerra.

No DFM, horas de vídeos, milhares de nomes e 1.600 itens atestam as proezas do futebol alemão. Já as mulheres não recebem o mesmo tratamento. Um visitante distraído com o planetoide do primeiro nível arrisca passar direto pela delicada seção, que fica do lado direto, sob uma luz ambiente que poderia ser associada com aquela encontrada num banheiro de aeroporto.

Em vez de uma "câmara do tesouro", as meninas alemãs ganharam apenas uma bancada para suas duas Copas do Mundo e oito Eurocopas. O futebol dos homens conta com uma sucessão de vídeos, mas o museu escolheu retratar em sua maioria a história das mulheres em fotos estáticas (e deixou muitas de fora). Até mesmo uma mala usada pelo time masculino conta com mais destaque e melhor luz.

O DFM deixou para o final a sua maior – e mais evitável – peça em exposição: o antigo ônibus da seleção (masculina), um veículo Mercedes padrão com WiFi e um razoável espaço para as pernas. Se você tiver tempo, talvez valha a pena – se isso melhorar a relação entre os euros gastos e o tempo despendido no museu. Mas, se você tiver que pegar um trem na estação do outro lado da rua, talvez seja melhor deixar o ônibus para lá.

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