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O outono político de Angela Merkel

26 de setembro de 2018

Quase duas décadas atrás, líder democrata-cristã exortava seu partido a se libertar da velha guarda e "aprender a andar" sem ela. Agora parece ter chegado a hora dela de abrir caminho para o futuro.

Merkel reconheceu a derrota na eleição para a liderança da bancada
Merkel reconheceu a derrota na eleição para a liderança da bancadaFoto: picture-alliance/M.Sohn

"Revolução!" e "O que vai ser, agora?": o cotidiano político de Berlim alternava entre a ironia e o suspense nesta quarta-feira (26/09) em Berlim. Por um lado, do ponto de vista formal, a vida prossegue: reunião de gabinete na Chancelaria Federal, sessões das comissões no Parlamento e assim por diante.

Por outro, a chefe de governo, Angela Merkel, não é mais a mesma desde o afastamento do mais fiel dos seus homens de confiança, Volker Kauder, da liderança da bancada conservadora. É o que se notava em sua voz e, mais ainda, em seu rosto, já na noite da véspera.

"Esta é uma hora da democracia, também há derrotas, não há o que disfarçar. Mas, apesar disso, eu gostaria que a bancada parlamentar da CDU/CSU continuasse a trabalhar de forma bem-sucedido. Por isso vou apoiar [o sucessor de Kauder] Ralph Brinkhaus, onde quer que me seja possível." Essa foi a declaração de uma política acabara de ser derrotada.

A própria Merkel tinha um compromisso de última hora para a manhã da quarta-feira: o novo chefe de bancada Brinkhaus foi visitá-la na Chancelaria Federal. Antes, ele já anunciara: "Temos projetos ambiciosos pela frente, então amanhã estaremos fazendo aquilo que as pessoas esperam de nós, ou seja: trabalhando".

A escolha de Brinkhaus foi, sem dúvida, um sinal de vida de uma bancada que há muito parecia letárgica, o sinal de que ela não está disposta a seguir obedecendo a cada gesto dos chefes de partido Merkel (CDU) e Horst Seehofer (CSU).

Mas não se trata de um golpe contra a líder democrata-cristã – isso está claro para quem leu ou escutou os discursos de Brinkhaus ou conhece um pouco o deputado eleito para o Parlamento em 2009. Os golpistas da bancada são outros.

"Ele conquistou muitos deputados ao dizer que está do lado de Merkel e que não quer nenhuma mudança de curso: trata-se de um novo estilo de trabalho", comentou Armin Laschet, governador do estado da Renânia do Norte-Vestfália e vice-presidente da CDU.

Merkel do outro lado do putsch

Favorável a Merkel é o fato de os discursos de Brinkhaus no Parlamento, de cunho sobretudo político, serem francamente pró-União Europeia. Ele reforça o dever do lado alemão de procurar o consenso e é um defensor clássico da economia social de mercado. No entanto, não é um seguidor incondicional de Merkel, como Kauder era.

O fato de a CDU não ser tradicionalmente um partido de golpes é que torna o acontecimento da noite de terça-feira tão fora do comum na história das uniões Democrata Cristã e Social Cristã. Em última análise, a bancada deu um sinal: independente do que ocorra um dia com Merkel ou com o governo, a CDU/CSU está apta a se pronunciar e a agir.

Essa é uma vivência inédita para Merkel, que liderou o mais recente putsch na CDU, em 1999, ao afastar o eterno líder partidário Helmut Kohl e, menos de cinco meses mais tarde, assumir pessoalmente o cargo dele. "O partido", escrevia Merkel 19 anos atrás, precisava "aprender a andar, futuramente enfrentar a luta com o adversário político, mesmo sem [...] Helmut Kohl."

A bancada conservadora está aprendendo agora a andar, de repente, finalmente. Os adversários políticos dizem que o afastamento de Kauder é um voto de desconfiança contra Merkel: os próximos dias mostrarão se eles têm mesmo razão.

Seja como for, trata-se de um sinal para ela. Também os parceiros comerciais ou os concorrentes no palco europeu observarão com atenção, sabedores de que a chanceler federal chegou a seu outono político.

Agora, os três líderes da coalizão de governo, Merkel, Seehofer e Andrea Nahles (SPD) estão sob contagem regressiva em seus respectivos partidos. E as eleições estaduais de outubro na Baviera e em Hessen, estados onde CDU e CSU tentam se manter no poder, têm potencial para influenciar os destinos do governo federal.

No início de 2018, a eleição de Annegret Kramp-Karrenbauer para secretária-geral da CDU foi uma vitória de Merkel e foi recebida com júbilo na CDU, mas, desde a eleição de Brinkhaus, está claro que os ventos podem virar contra a chefe de governo a qualquer momento.

Mais cedo ou mais tarde, ela terá que anunciar se voltará a concorrer à liderança democrata-cristã. "Ela vai, sim", afirma o cientista político Gero Neugebauer, "pois só a partir dessa posição ela tem a autoridade necessária para se apresentar diante da bancada como chefe de partido. Nesse sentido, eu acho que ela vai consolidar a posição dela."

Mas Neugebauer também acha que Merkel está começando a considerar quem a sucederá como chefe da CDU.

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