Só em 2015, despesas públicas com refugiados podem chegar a 10 bilhões de euros, mas impacto sobre o orçamento federal ainda é pequeno. Desafio maior, segundo governo, é integrar recém-chegados ao mercado de trabalho.
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Fatos contra o preconceito, esse é o título que o renomado diário Süddeutsche Zeitung deu a uma reportagem publicada nesta semana sobre o peso da imigração sobre a economia da Alemanha. Segundo o texto, o governo do país gastou em 2013 cerca de 1,5 bilhão de euros com requerentes de asilo.
Considerando que os governos estaduais e locais estariam gastando 12,5 mil euros por ano com cada refugiado, em 2015 a quantia pode chegar a 10 bilhões de euros. No entanto, esse montante já não parece tão grande, em comparação com o orçamento total do governo federal, de 301 bilhões de euros – corresponde a apenas 3,31%.
Mas a ministra alemã do Trabalho e Assuntos Sociais, Andrea Nahles, considera necessários no próximo ano de 1,8 a 3,3 bilhões de euros adicionais para subsistência, aprendizado da língua e qualificação dos refugiados.
Estes custos aumentariam para cerca de 7 bilhões de euros em 2019, previu a ministra na terça-feira (01/09), em Berlim, lembrando que muitos dos refugiados recém-chegados estarão registrados ano que vem nos serviços públicos para obtenção de emprego.
Ela afirmou ter discutido o assunto com o ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, e que ele não se espantou com os números. Nahles assegurou que no governo alemão todos concordam com a amplitude da tarefa e a necessidade de gastos. O assunto será, segundo ela, parte dos próximos debates sobre orçamento.
Até 460 mil desempregados adicionais
Entre 240 mil e 460 mil pessoas entrarão nas estatísticas alemãs dos que ainda não encontraram ou não são capazes de obter um emprego. Entre 175 mil e 335 mil delas são capazes de trabalhar, de acordo com essa previsão.
Nahles prevê que em 2019 um milhão de pessoas poderiam obter benefícios sociais. Isso, dependendo de, entre outras coisas, quantos membros das famílias dos requerentes de asilo ainda devem chegar e do sucesso da Agência Federal do Trabalho da Alemanha (BA). A previsão é baseada na suposição de que 800 mil refugiados chegarão anualmente, dos quais entre 35% a 45% terão asilo concedido.
A BA também espera que uma onda de refugiados chegue aos serviços de aconselhamento de emprego no próximo ano, conforme anunciado em Nurembergue. Em julho, segundo a agência, 161 mil pessoas dos dez principais países de origem dos imigrantes da última década estavam desempregadas.
"Nós também nos beneficiaremos disso. Porque nós dependemos da imigração", observou, fazendo referência à falta de trabalhadores em algumas áreas de emprego no país. "As pessoas que vêm como refugiados devem rapidamente se transformar em vizinhos e colegas de trabalho."
Mais verbas para integração
Nahles pediu que haja um esclarecimento rápido sobre um possível aumento das verbas para financiamento da integração dos refugiados ao mercado de trabalho, de modo que a BA possa expandir seus esforços em todo o país.
Segundo ela, os cursos de integração para os asilados não estariam fornecendo a eles suficiente conhecimento da língua alemã. Ela acredita que os cursos de línguas devem ser expandidos e ser inteiramente financiados com fundos federais.
"Um conhecimento pleno da língua alemã é chave para a entrada dessas pessoas no mercado de trabalho", avaliou.
Na reportagem, o Süddeutsche Zeitung se baseia num estudo realizado pelo Centro de Pesquisa Econômica Europeia (ZEW, na sigla em alemão) para a Fundação Bertelsmann. Segundo ele, os estrangeiros que vivem na Alemanha aliviam o caixa do Estado de bem-estar social em bilhões de euros. De acordo com a pesquisa, em 2012, as cerca de 6,6 milhões de pessoas sem passaporte alemão foram responsáveis por um superávit total de 22 bilhões de euros.
Steffen Angenendt, consultor do governo e da indústria há mais de 50 anos, alerta para que não seja feita uma pura "análise custo-benefício" no contexto de refugiados. "Deveríamos dizer, então, que aceitamos o refugiado se ele nos der um lucro líquido de, por exemplo, 2 mil euros por ano e, caso contrário, não? Para mim, todo esse debate é bastante suspeito", afirma o especialista do instituto SWP.
Angenendt sublinha ser extremamente difícil quantificar o que os refugiados custam e com que eles podem contribuir para o mercado de trabalho, para a segurança social ou para outras áreas. "Recentemente, tivemos um debate bastante intenso entre economistas, que chegaram a estatísticas completamente diferentes. E isso só em referência aos imigrantes", avisa, ressaltando que em se tratando de refugiados, esse cálculo é ainda mais difícil.
"Claro, devemos tentar colocar os refugiados no mercado de trabalho o mais rapidamente possível", diz o especialista. "Mas também temos que considerar que não estamos recebendo essas pessoas somente porque são mão de obra, mas porque elas precisam de proteção. E isso deve estar acima de tudo."
Como alemães ajudam refugiados
Ataques a abrigos de migrantes tornaram-se rotineiros na Alemanha. Mas essa é apenas uma parcela da realidade do país, onde milhares de voluntários e iniciativas auxiliam os que nele buscam refúgio.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Endig
Desafio das boas-vindas
Usando a hashtag #WelcomeChallenge no Facebook e no Youtube, voluntários alemães promovem a ajuda a refugiados. Quem auxilia os migrantes de alguma maneira posta uma imagem com a hashtag. A chef alemã Sarah Wiener foi convidada a ajudar e, sorridente, levou 150 porções de sopa orgânica com pão a um abrigo em Berlim.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Fischer
Um time de refugiados
Henning Eich, jogador do time de futebol Lok Postdam, congratula os jogadores do Welcome United 03, a primeira equipe alemã formada somente por refugiados. Logo no primeiro jogo do campeonato, em Postdam, o Welcome United 03 venceu o Lok Potsdam por 3 a 2. "O futebol une", afirma Manja Thieme, responsável pela equipe com 40 integrantes.
Foto: picture-alliance/dpa/O. Mehlis
Alemão no cotidiano
Em Thannhausen, na Baviera, o voluntário Karl Landherr dá aulas de alemão a requerentes de asilo. Junto com alguns colegas, o professor aposentado também criou um livro de alemão que oferece uma espécie de "estratégia de sobrevivência" para os refugiados recém-chegados ao país, segundo Landherr. O livro dá dicas práticas para o dia a dia e ficou conhecido em toda a Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Puchner
Festa de boas-vindas
Refugiados e apoiadores dançaram juntos numa festa de boas-vindas, organizada pela aliança Dresden Nazifrei (Dresden livre dos nazistas). Os 600 requerentes de asilo de Heidenau – alojados numa antiga loja de materiais de construção e protegidos atrás de cercas altas – já nem pensam em deixar seus alojamentos por medo da extrema direita.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Willnow
Bicicletas para refugiados
Na foto, Tobias Fleiter enche o pneu da bicicleta de um refugiado do Togo. Fleiter é um dos integrantes do projeto Bicicletas Sem Fronteiras, que contava somente com dois voluntários quando começou. Hoje, 15 voluntários formam o time, que já consertou mais de 200 bicicletas em Karlsruhe, emprestando-as a refugiados.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Deck
Escola vira abrigo
Em Berlim, os centros de refugiados estão lotados. Recentemente, três novos abrigos foram abertos, sendo um deles a escola Teske, em Schöneberg, que estava vazia há tempos. Até 200 pessoas podem ser acomodadas no local, onde contam com o apoio de assistentes sociais. Muitos voluntários também ajudam por ali, organizando as roupas, por exemplo.
Foto: picture-alliance/dpa/B. von Jutrczenka
Bem-vindos à ilha de Sylt
Joachim Leber (no centro) auxilia esta família da Síria. Ele é membro da associação Integrationshilfe na ilha de Sylt, na qual cerca de 120 refugiados recebem assistência. A maioria deles vem do Afeganistão, da Somália e da Síria. Voluntários procuram ajudá-los com a língua alemã e motivação pessoal. "A Alemanha também foi ajudada após a Segunda Guerra", diz Leber.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Marks
Resgate no Mediterrâneo
Em lanchas, soldados alemães resgatam refugiados no Mediterrâneo e os levam para seus navios. Desde o começo de maio deste ano, as tripulações alemãs salvaram cerca de 7,5 mil pessoas. Entre elas estava Rahmar Ali (no centro), de vestido roxo. A mulher de 33 anos, grávida, é natural da Somália e estava em fuga sozinha há cinco meses.
Foto: picture-alliance/dpa/Bundeswehr/T. Petersen
Primeiro bebê refugiado
Sophia nasceu com 49 centímetros e três quilos. Ela é o primeiro bebê que veio ao mundo num navio da Bundeswehr (Forças Armadas da Alemanha). Foi um nascimento assistido por médicos no último segundo e uma grande alegria para a mãe, Rahmar Ali, da Somália. "Especialmente nesses momentos você sente que está fazendo algo com sentido", diz um soldado que esteve presente no nascimento da criança.
Foto: Reuters/Bundeswehr/PAO Mittelmeer
Caminho seguro
Como eu vou de trem do ponto A ao B? O que significam os sinais? Onde eu posso obter um bilhete de trem? Em Halle, refugiados da Síria aprendem tudo isso na estação central da cidade. Na foto, uma policial mostra que, por motivos de segurança, é preciso ficar atrás da faixa branca quando um trem passa pela plataforma.
Foto: picture-alliance/dpa/H. Schmidt
Primeiro clube de natação
Na cidade de Schwäbisch Gmünd, refugiados podem aprender a nadar. Ludwig Majohr (de boné) dá as aulas de natação. Ele é um dos oito aposentados voluntários no clube de natação, recém-fundado. O objetivo principal é a integração, segundo Gmünd. "Na natação, as pessoas se ajudam", completa o voluntário Roland Wendel. "Não perguntamos as nacionalidades."
Foto: picture-alliance/dpa/S. Puchner
Mais café, menos ódio
Em Halle, o partido ultradireitista NPD pretendia protestar recentemente contra um planejado centro para requerentes de asilo. A cidade respondeu com um convite para um café da manhã aberto, em prol da tolerância. Mais de 1.200 pessoas compareceram, compartilhando pãezinhos e bolos com os refugiados. Um belo gesto de boas-vindas.