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O peso das acusações de plágio na Alemanha

26 de maio de 2021

Ministra da Família da Alemanha renuncia após ser acusada de plagiar tese de doutorado. Esse não foi o primeiro caso envolvendo um alto membro do governo. Entenda por que esse assunto tem tanta importância no país.

Franziska Giffey (SPD), ministra dos Assuntos da Família, Idosos, Mulheres e Juventude da Alemanha.
Franziska Giffey (SPD), ministra dos Assuntos da Família, renunciou ao cargo sob alegações de plágioFoto: Dorothee Barth/dpa/picture alliance

A ministra da Família da Alemanha, Franziska Giffey, juntou-se a uma longa lista de políticos alemães na semana passada que renunciaram por plágio em suas teses de doutorados.

A política de 43 anos, que segue como candidata dos social-democratas à prefeitura de Berlim nas eleições de setembro, insiste que concluiu sua tese em 2009 de boa fé, embora possa ter cometido "equívocos".

Escândalos como esse não são inéditos na Alemanha. Nos últimos dez anos, ao menos 20 respeitados políticos alemães tiveram sua integridade acadêmica questionada, incluindo o ex-ministro da Defesa Karl-Theodor zu Guttenberg (que perdeu seu Ph.D. e renunciou em 2011), a ex-ministra da Educação Annette Schavan (que perdeu o título de doutorado e renunciou em 2013), e a vice-presidente do Parlamento Europeu Silvana Koch-Mehrin (que igualmente foi destituída de seu doutorado e renunciou em 2011).

Até mesmo a chefe da UE, Ursula von der Leyen, e o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, já tiveram dúvidas lançadas sobre suas teses de doutorado – embora em ambos os casos tenha se concluído que as irregularidades encontradas eram apenas erros de citação e eles tenham sido autorizados a manter seus títulos.

Ex-ministro da Defesa e ex-ministra da Educação também renunciaram por acusações de plágioFoto: picture alliance/dpa/K.-D. Gabbert

Por que os alemães se importam?

A Alemanha parece se importar bastante com as conquistas acadêmicas de seus representantes eleitos. À medida que a campanha eleitoral deste ano começou a esquentar, a candidata a chanceler do Partido Verde, Annalena Baerbock, teve que se defender de repórteres e políticos rivais que lançavam acusações sobre a natureza exata do diploma que ela obteve na London School of Economics.

Entre os responsáveis por investigar tais acusações, está Gerhard Dannemann, professor de direito inglês na Universidade Humboldt em Berlim e pesquisador da Vroniplag Wiki, uma rede livre e sem fins lucrativos de acadêmicos e pesquisadores que verifica teses de doutorado em busca de plágio.

"Se você é um político no Reino Unido e tem um doutorado, provavelmente vai escondê-lo, ao tempo que na Alemanha, e em vários outros países, possivelmente irá ostentá-lo", disse ele em entrevista à DW.

Ursula von der Leyen e Frank-Walter Steinmeier: acusações de plágio foram consideradas pequenos erros de citaçãoFoto: Reuters/F. Bensch

De acordo com Dannemann, a razão pela qual títulos de Ph.D. são levados tão a sério pelos políticos alemães está enraizada na história: até o século 19, as pessoas mais influentes na sociedade eram os aristocratas. "Mas entre os plebeus, uma das melhores maneiras de ganhar prestígio era ter um diploma acadêmico." Isso, acrescentou ele, levou a enormes escândalos de plágio na Alemanha do século 19, quando os doutorados eram praticamente "comprados e vendidos". Ele explica que é por isso, em parte, que todas as teses de doutorado agora precisam ser publicadas na Alemanha para serem reconhecidas.

Hoje em dia, diplomas só podem ser comprados de golpistas na Internet – mas na Alemanha, ao contrário da maioria dos outros países, ostentar títulos imerecidos de forma fraudulenta é, na verdade, uma ofensa criminal.

Protegendo a integridade acadêmica

A satisfação em prejudicar políticos poderosos pode ser uma forte motivação para os inimigos – e para jornalistas. A própria Vroniplag Wiki nasceu em parte do desejo de destituir políticos de seus títulos após o escândalo de Guttenberg em 2011.

Atualmente, porém, ela é movida mais pelo idealismo acadêmico, afirma Debora Weber-Wulff, professora da Universidade de Ciências Aplicadas de Berlim (HTW) e também pesquisadora da Vroniplag Wiki. "Os casos de políticos são muito poucos", disse ela à DW. "O maior problema são os acadêmicos, na minha opinião". Desde que entrou em atividade em 2011, a Vroniplag Wiki documentou 211 teses de doutorado plagiadas, com menos de 20 delas envolvendo políticos.

É por isso que Weber-Wulff se irrita com jornalistas que só a procuram quando é descoberto plágio na tese de algum político. "Eu preferiria que a imprensa noticiasse sobre o médico da esquina que copiou de 80% a 90% de sua tese de doutorado, pois eu não gostaria que um profissional desses prescrevesse nada para mim", argumentou.

Angela Merkel detém vários títulos honorários e um doutorado em Física – sem vestígio de plágioFoto: Reuters

E, no entanto, ela sabe que muitos só estão interessados em qualquer coisa que possa prejudicar a reputação de um político. "Já perdi a conta de quantas vezes nos pediram para verificar a tese de doutorado de Angela Merkel", conta Weber-Wulff, em relação à chanceler federal alemã. "Mas não basta apenas dizer: 'não gosto dessa pessoa, tenho certeza de que copiou seu Ph.D'. É preciso uma suspeita inicial, como: 'Veja, esse trabalho se parece muito com este outro trabalho ', ou 'Há algumas palavras estranhas sublinhadas aqui'."

Vroniplag Wiki – que continua sendo a mais respeitada plataforma verificadora de plágio da Alemanha – oferece uma caixa de correio anônima onde as pessoas podem postar casos de suspeita de plágio. Mas até que certos níveis de plágio sejam estabelecidos, existem rígidos padrões de proteção do anonimato dos autores. "Recebemos muito mais pedidos como: 'Fulano é um indivíduo ruim, tenho certeza de que sua tese foi plagiada'", conta Dannemann. "Nós simplesmente ignoramos tais requerimentos. De qualquer maneira, a Vroniplag Wiki nem teria funcionários suficientes – somos todos voluntários."

Baixos padrões

Além de implicações para a reputação dos políticos do país, o trabalho de Vroniplag Wiki ocasionalmente fornece uma visão geral um tanto quanto alarmante sobre as exigências acadêmicas na Alemanha. "Eles copiam de tudo que é lugar", observou Weber-Wulff. "De outras teses, da Wikipedia, de newsletters de clubes, de folhetos publicitários – tenho visto as coisas mais esquisitas."

Para Weber-Wulff, a impressão, às vezes, é de que algumas das passagens nas teses de doutorado que verificou jamais foram lidas – nem pelos supervisores, nem pelos próprios autores. "Algumas coisas saltam à vista. Você lê e pensa: 'O que é isso?'", conta. "E então se descobre que aquilo simplesmente foi copiado e colado e parece que eles nem revisaram o que acrescentaram."

Isso, por si só, é um indício da falta de pessoal nas universidades alemãs e da ânsia de receber o maior número possível de alunos – o que nos traz de volta às diferenças culturais. "Nos Estados Unidos, as pessoas só usam o título de doutor nas universidades. É assim que as pessoas são tratadas lá. Mas, fora do mundo acadêmico, um Ph.D. não significa nada", disse Weber-Wulff. "Na Alemanha, quem carrega por aí seu título de doutor tem mais chances de conseguir um apartamento e mais respeito. Eu chamo isso de uma placa de identificação de Ph.D. para a porta."

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