Governo federal coordena com governos estaduais como agilizar a saída de migrantes que tiveram seus pedidos de refúgio negados. Um plano de 16 pontos é apresentado.
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O prognóstico é claro: nos próximos meses, o Departamento de Migração e Refugiados da Alemanha (Bamf) vai rejeitar "continuamente um número elevado" de pedidos de refúgio de pessoas que não necessitam de proteção. "O número de pessoas obrigadas a deixar o país aumentará em 2017", escreveu o portal alemão Spiegel Online, citando informações do documento do governo federal.
O documento – um plano de 16 pontos – constitui a base para uma reunião de alto escalão de governos estaduais e federal em Berlim, nesta quinta-feira (09/02), na qual se busca chegar a um acordo sobre medidas conjuntas para acelerar a deportação de requentes de refúgio que tiveram seus pedidos negados. A meta: um "esforço nacional" para alcançar melhorias na política de deportação. Em outras palavras: aumentar e acelerar deportações.
Os pontos centrais
– Núcleo central de deportação: quem tiver poucas perspectivas de refúgio, deve futuramente ser alojado numa instalação única, que visa facilitar deportações coletivas. O centro deve também, "em todos os casos problemáticos, obter os documentos necessários para as pessoas que precisam deixar a Alemanha", publicou o Spiegel. Isso porque as deportações falham repetidamente porque os países de origem não enviam ou enviam atrasados os documentos de viagem. Ao mesmo tempo, o governo federal quer agilizar as negociações com os países de origem sobre a recepção de seus cidadãos.
– Ainda de acordo com informações do Spiegel Online, estão sendo ponderados também "centros federais de deportação", nos quais os requerentes que tiveram seus pedidos negados "nos últimos dias ou semanas" ficariam alojados antes de suas deportações.
– Imigrantes de risco: a detenção de estrangeiros, "que representam um risco significativo para corpo e alma", deve ser facilitada, segundo relato do Spiegel Online. O Bamf ganharia, portanto, o poder de avaliar os dados e os chips de celulares de refugiados para determinar suas identidades.
– Incentivos para o retorno voluntário: estrangeiros receberão dinheiro, caso decidam regressar voluntariamente – quanto mais cedo rumam para casa, maior o valor oferecido. O governo federal deve gastar 40 milhões de euros adicionais para retornos voluntários em 2017, além de 50 milhões de euros para programa de reintegração.
– Consultoria de retorno: Ao mesmo tempo, requerentes de refúgio sem perspectivas de permanecer na Alemanha devem ser aconselhados assim que chegarem ao país.
A organização de direitos humanos Pro Asyl criticou os planos governamentais: "É problemático, porque no Bamf são realizados procedimentos de emergência em desrespeito às normas", disse o presidente-executivo da ONG, Günter Burkhardt.
O sindicato policial GdP também se mostrou cético: "Devemos ser cuidadosos em sacrificar nossos valores e pareceres legais por ações políticas, apenas para acelerar a saída do país de algumas milhares de pessoas sem perspectivas de permanecer", afirmou o chefe do GdP, Jörg Radek.
Dez refugiados famosos
Músicos, atores, políticos, cientistas dos quatro cantos do mundo: em comum, o destino de refugiado. Todos deixaram seus países natais, por um período breve ou o resto da vida, para se salvar da guerra e perseguição.
Foto: akg-images/picture alliance
Touro Sentado (1831-1890)
O chefe sioux Tatanka Iyotake, "Touro Sentado", um dos mais célebres nativos dos Estados Unidos, viveu quatro anos como refugiado. Em 1877, cerca de um ano após a batalha de Little Bighorn, liderada pelo general Custer, ele fugiu com seus guerreiros para o Canadá. Após voltar aos EUA, o líder indígena foi preso e colocado numa reserva. Ele morreu baleado durante uma nova tentativa de prisão.
Foto: Imago/StockTrek Images
Albert Einstein (1879-1955)
Autor da teoria da relatividade e Nobel da Física, o judeu alemão Albert Einstein visitava os EUA quando Adolf Hitler assumiu o poder, em 1933. Manter-se longe da Alemanha sob regime nazista não foi decisão fácil. Einstein dizia se considerar um "privilegiado pela sorte", por poder viver em Princeton, mas também "quase envergonhado de viver em tamanha paz, enquanto todo o resto luta e sofre".
Foto: Imago/United Archives International
Béla Bartók (1881-1945)
Apesar de não ser judeu, o compositor, pianista e musicólogo Béla Bartók se opunha à ascensão do nazismo e à perseguição antissemita, e em 1940 emigrou para os EUA. "Minha principal ideia, que me domina inteiramente, é a irmandade dos homens, acima e além de todos os conflitos", disse certa vez. No entanto, sua carreira musical gorou no exílio, e ele acabou por morrer pobre e esquecido.
Foto: Getty Images
Marlene Dietrich (1901-1992)
A atriz e cantora alemã Marlene Dietrich já era uma estrela nos Estados Unidos quando adquiriu a nacionalidade americana, em 1939, voltando definitivamente as costas para a Alemanha nazista. Refugiada célebre, ela se manifestava contra Hitler e cantou para os soldados americanos durante a Segunda Guerra. Embora com seus filmes banidos na terra natal, ela dizia: "Eu nasci alemã e sempre serei."
Foto: picture-alliance/dpa
George Weidenfeld (1919-2016)
Nascido em Viena, o editor judeu George Weidenfeld emigrou após a anexação da Áustria pelos nazistas. Em Londres, ele cofundou uma casa editora e se tornou barão. Além de se engajar pela causa israelense, estabeleceu um fundo para ajudar os cristãos que fogem do "Estado Islâmico". "Não posso salvar o mundo [...] mas tenho uma dívida a saldar", disse certa vez.
Foto: picture-alliance/dpa/N.Bachmann
Henry Kissinger (*1923)
Natural da Baviera, Henry Kissinger teve papel central na configuração da política externa dos EUA. Contudo, antes de se tornar autoridade em relações internacionais e professor em Harvard, o 56º secretário de Estado americano tivera que fugir da perseguição nazista em 1938. Já nonagenário, ele revelaria que a Alemanha "nunca deixou de ser parte" de sua vida.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M. Schiefelbein
Miriam Makeba (1932-2008)
A cantora sul-africana Miriam Makeba era opositora ferrenha do regime do apartheid. Em 1960, durante turnê nos EUA, o governo de seu país lhe cancelou o passaporte. Três anos mais tarde ela foi proibida de entrar na África do Sul, a qual ela só reveria após décadas de exílio nos EUA e Guiné. "Mama Africa" morreu durante um show na Itália, em apoio à luta do autor Roberto Saviano contra a máfia.
Foto: Getty Images
Milos Forman (1932-2018)
Apesar de já ser um cineasta respeitado, Milos Forman voltou as costas à Tchecoslováquia em 1968, após a Primavera de Praga, indo estabelecer-se nos Estados Unidos. Em sua produção do outro lado da Cortina de Ferro dois Oscars de melhor filme se destacam: o drama psiquiátrico "Um estranho no ninho" (1975) e "Amadeus" (1984), sobre Mozart.
Foto: picture-alliance/abaca/V. Dargent
Madeleine Albright (1937-2022)
A primeira secretária de Estado americana, Madeleine Albright, nasceu na atual República Tcheca. Sua família fugiu para os EUA em 1948, quando os comunistas assumiram o poder. A partir de seu envolvimento intenso na política e depois de ser embaixadora americana na ONU, ela assumiu a chefia da diplomacia de 1997 a 2001, durante o segundo mandato de Bill Clinton.
Foto: Getty Images/AFP/S. Loeb
Isabel Allende (*1942)
O presidente Salvador Allende se suicidou após o golpe de Estado no Chile em 1973. A filha de um primo dele, Isabel, que o chamava de "tio", fugiu para a Venezuela após receber ameaças de morte. Mais tarde emigrou para os EUA e se estabeleceu como autora. Entre seus romances, que contam entre os clássicos do realismo mágico, destacam-se "A casa dos espíritos" e "Eva Luna".