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O plano japonês de jogar ao mar água radioativa de Fukushima

Manasi Gopalakrishnan ca
13 de setembro de 2019

Coreias rechaçam intenção de Tóquio de despejar no Pacífico água contaminada pelo desastre em 2011. Para Pyongyang, "ato criminoso" pode gerar calamidade nuclear. Ambientalistas também expressam preocupação.

Japan Erdbeben Tsunami
Vista área da usina nuclear avariada em FukushimaFoto: picture-alliance/AP Photo/Kyodo News

Nesta semana, o ministro do Meio Ambiente do Japão, Yoshiaki Harada, declarou que despejar no Oceano Pacífico mais de 1 milhão de toneladas de água contaminada pelo desastre nuclear de Fukushima seria a "única opção" da Tokyo Electric Power Co. (Tepco), operadora da usina.

Falando em Tóquio na terça-feira (10/09), Harada declarou: "A única opção será drená-la para o mar e diluí-la. Todo o governo discutirá isso, mas eu gostaria de oferecer minha simples opinião."

A água contaminada com elementos radioativos tem sido armazenada na usina de Fukushima desde que o complexo foi destruído por um terremoto de magnitude 9 seguido de uma série de tsunamis, em março de 2011. As ondas gigantes inundaram o equipamento de refrigeração de três dos seis reatores do local, fazendo com que eles derretessem.

Água tem sido bombeada para os reatores para controlar suas temperaturas, resultando em mais de 1 milhão de toneladas de líquido radioativo. Águas subterrâneas também estão se infiltrando nos níveis abaixo do solo da usina, aumentando a quantidade de água contaminada, que precisa ser armazenada em vastos tanques de aço na terra em torno da estrutura.

O governo japonês afirma que armazenar a água em tanques não é uma solução viável para o problema a longo prazo e que a tecnologia para erradicar completamente todos os sinais de radioatividade da água ainda está para ser desenvolvida.

Uma nova equipe foi encarregada de elaborar soluções alternativas, que até agora incluíram enterrar a água no subsolo em vastas fossas revestidas de concreto, injetando-as em estratos geológicos muito abaixo da superfície.

No entanto, a opção preferida e menos dispendiosa seria liberar gradualmente a água no oceano.

Coreias preocupadas com "calamidade nuclear"

A Coreia do Sul reagiu com consternação à proposta, convocando o embaixador japonês em Seul em agosto para expressar suas preocupações.

Na semana passada, o governo sul-coreano enviou uma carta oficial à Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), solicitando assistência em seus esforços para garantir que a água radioativa não fosse liberada da usina de Fukushima. Seul também disse que pretende abordar a questão na conferência geral da Aiea em Viena ainda neste mês.

A hostilidade de Seul em relação ao plano japonês é compartilhada pela Coreia do Norte, onde a mídia estatal descreveu a proposta de Tóquio como um "ato criminoso" que poderia causar uma "calamidade nuclear" na região.

"Nunca toleraremos a contaminação do nosso mar azul por lixo nuclear", afirmou um editorial do jornal Rodong Sinmun em 4 de setembro. "O Japão deve escutar a grave advertência da comunidade internacional, parar de tomar medidas imprudentes e abandonar seu plano de descartar água contaminada."

Muitos sul-coreanos podem até discordar de várias políticas do atual governo, mas analistas dizem que os cidadãos apoiam firmemente o presidente Moon Jae-in nessa questão. "Estamos admirados de como o Japão poderia fazer algo tão perigoso", disse à DW Ahn Yinhay, professora de relações internacionais da Universidade da Coreia, em Seul.

"As pessoas estão realmente preocupadas, e vi estimativas que mostram que as correntes levarão a água descartada de Fukushima para a Península Coreana em cerca de um ano. Isso significa que a radiação entrará em nossas pescas domésticas de peixes e frutos do mar", explicou a professora.

Segundo ela, a maioria dos coreanos acredita pouco nas promessas do governo japonês de que todos os alimentos das regiões afetadas pelo desastre nuclear foram exaustivamente testados e considerados seguros para consumo humano.

Água contaminada está armazenada em tanquesFoto: Reuters/T. Hanai

Resíduos tóxicos ainda presentes na água

Grupos ambientalistas também estão irritados com as propostas de Tóquio, afirmando que estas ignoram o fato de que são necessários esforços para remover radionuclídeos perigosos da água.

A Tepco havia alegado anteriormente que processos avançados de limpeza na água reduziram agentes contaminantes causadores de câncer – como estrôncio, iodo e rutênio – a níveis de "não detecção". Portanto, seria seguro liberá-la no oceano.

No entanto, documentos governamentais vazados mostraram mais tarde que tais alegações seriam imprecisas e que a água ainda continha radioatividade em concentrações bem acima dos níveis permitidos por lei.

Um estudo do jornal regional Kahoko Shinpo confirmou que os níveis de iodo 129 e rutênio 106 excederam os níveis aceitáveis em 45 das 84 amostras relativas a 2017.

O iodo 129 tem uma meia-vida de 15,7 milhões de anos e pode causar câncer de tireoide. O rutênio 106 é produzido por fissão nuclear e pode ser tóxico em altas doses, além de ser cancerígeno quando ingerido.

Posteriormente, a Tepco admitiu que os níveis de estrôncio 90 estavam 90 vezes acima da quantidade permitida por lei em 65 mil toneladas de água que já haviam sido tratadas no local.

O Greenpeace condenou os comentários do ministro japonês em favor da liberação da água no Pacífico. A declaração é "totalmente imprecisa – tanto científica quanto politicamente", disse à DW Shaun Burnie, especialista nuclear sênior da organização ambientalista na Alemanha.

"Tóquio recebeu opções técnicas, inclusive de empresas nucleares dos Estados Unidos, para remover o trítio radioativo da água contaminada. Até agora, por razões financeiras e políticas, optou por ignorá-las", acrescentou.

"O governo japonês deve se comprometer com a única opção ambientalmente aceitável para gerenciar essa crise da água, que é o armazenamento e processamento a longo prazo para remover a radioatividade", afirmou Burnie.

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