O chefe de Estado americano tem o direito de dar indultos. Mas, para muitos, presidente foi além, ao livrar da prisão um xerife - e aliado político - acusado de discriminação, que ignorou Constituição e desafiou juízes.
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Foi recebida com uma enxurrada de críticas a decisão do presidente americano, Donald Trump, de perdoar o polêmico xerife Joe Arpaio, condenado há menos de um mês por excessos no combate à imigração ilegal no Arizona.
Autointitulado o xerife "mais durão da América", Arpaio, que fez campanha por Trump em 2016, ficou conhecido pela repressão a imigrantes ilegais e por investigar acusações infundadas e apoiadas pelo atual presidente quanto à origem de Barack Obama.
O xerife foi condenado em 31 de julho, por violar intencionalmente uma ordem de 2011 que impedia seus policiais de, sob a justificativa do combate à imigração ilegal, pararem e deterem motoristas pela aparência latino-americana.
"O xerife Joe Arpaio tem 85 anos e, após mais de 50 anos de admirável serviço à nação, merece um perdão presidencial", afirmou Trump na sexta-feira (25/08), justificando o primeiro perdão presidencial de seu mandato.
Não há questionamento sobre a competência de Trump, como presidente, de emitir um perdão. Uma decisão da Suprema Corte de 1925 dá ao chefe de Estado americano a prerrogativa de indultar detentos num processo criminal.
Mas o perdão chamou a atenção por ter sido dado ainda antes da sentença – embora condenado, Arpaio aguardava o pronunciamento da pena. Além disso, não o caso passou pelos procedimentos comuns, que incluem extensa revisão pelo Departamento de Justiça e conselheiros jurídicos da Casa Branca.
"Trump perdoou um terrorista. Joe Arpaio aterrorizou intencionalmente comunidades de imigrantes em todo o Arizona por décadas e traumatizou uma geração inteira de moradores”, disse Alejandra Gomez, codiretora da ONG Living United for Change in Arizona (Lucha).
Perseguição a latinos
O caso criminal de Arpaio teve início quase uma década atrás, quando o Departamento de Justiça iniciou uma investigação contra ele por violar os direitos civis dos latinos por conta das numerosas queixas pelo que acontecia no Arizona.
De acordo com a investigação, os agentes às ordens de Arpaio paravam motoristas apenas pelo aspecto racial, detinham pessoas pela mera suspeita de que não tivessem sem documentos e as entregavam às autoridades migratórias.
Em 2011, a Justiça ordenou que Arpaio abandonasse a estratégia de deter pessoas por razões raciais, mas ele ignorou. Trump mostrou admiração pelo xerife pela linha dura contra a imigração, e Arpaio foi um dos primeiros a apoiar a candidatura presidencial do magnata.
Causou indignação também o fato de o perdão – embora fosse especulado há meses – ter sido dado justamente no momento em que os EUA se confrontam com o velho conflito racial, após a violência na marcha supremacista branca de Charlottesville.
"Após o racismo e o ódio em Charlottesville, nosso país precisa se unir e se curar. Mas esse processo de cura não virá de um presidente que apenas explora divisões e medos”, afirmou senador democrata Patrick Leahy.
Segundo o jornal Washington Post, o caso tinha a atenção do presidente desde o início do mandato. Trump teria solicitado ao procurador-geral e secretário de Justiça, Jeff Sessions, que atuasse para reverter o processo. O jurista, porém, rejeitou fazê-lo.
Mensagem perigosa
As críticas vieram também das fileiras republicanas. O presidente da Câmara dos Representantes, Paul Ryan, disse que "não está de acordo com a decisão" de Trump, uma oposição compartilhada por outros políticos de seu partido, que expressaram rejeição ao perdão presidencial.
"Os funcionários da polícia têm a especial responsabilidade de respeitar os direitos de todos nos EUA. Não devemos deixar que ninguém acredite que essa responsabilidade vá diminuir com este perdão", afirmou o deputado, através de um comunicado.
Para os críticos, o perdão pode mandar a mensagem de que agentes do governo que ignoram determinações judiciais serão tolerados, mesmo tendo violado a Constituição, desde que suas ações estejam em consonância com as visões da Casa Branca.
O senador pelo Arizona Jeff Flake disse no Twitter que seria melhor "que o presidente respeitasse o processo judicial e deixasse que ele seguisse o seu curso", enquanto o senador pelo mesmo estado e também republicano John McCain considerou que o indulto "enfraquece" as alegações de Trump sobre o seu respeito ao Estado de Direito, pois "Arpaio não mostrou arrependimento por suas ações". Outro conhecido republicano, o ex-governador da Flórida Jeb Bush, citou no Twitter o argumento de McCain e considerou que o senador tinha "razão".
RPR/ots
Filmes sobre a fronteira entre EUA e México
Em seu mandato, o ex-presidente americano Donald Trump prometeu construir um muro entre EUA e México. Mas, muito antes disso, esta fronteira já havia sido foco de filmes espetaculares. Veja a lista.
Foto: picture-alliance/United Archives/TBM
John Wayne em guerra
Em meados do século 19, EUA e México entraram em guerra sobre o estado do Texas, que pertencia aos mexicanos, mas foi anexado pelos americanos. A longa disputa foi muitas vezes retratada por Hollywood nos faroestes que detalhavam os violentos conflitos entre colonos americanos e o Exército mexicano. Entre os mais espetaculares está "Álamo" (1960), estrelado por John Wayne e Richard Widmark.
Foto: picture-alliance/United Archives/TBM
Dietrich e a fronteira
Em 1958, Marlene Dietrich fez uma breve aparição no brilhante suspense "A marca da maldade". O diretor Orson Welles, que teve o papel principal no filme, fez da região fronteiriça entre México e EUA o cenário para falar sobre corrupção, tráfico de drogas e outros crimes.
Foto: picture-alliance/United Archives/IFTN
"Rio Bravo"
Quando John Wayne apareceu em "Álamo", a grande era do faroeste americano estava quase no fim. Mas, quando o gênero cresceu na década de 1950, muitos faroestes se passaram na fronteira entre Texas, Novo México e Arizona de um lado, e o México, do outro. Um marco simbólico era o rio Grande que, localizado nesta fronteira, rendeu o título do legendário filme do diretor John Ford, de 1950.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library
A fronteira em faroestes posteriores
No entanto, a fronteira entre os dois países conseguiu manter sua importância em numerosos faroestes lançados posteriormente. A região desempenhou um papel de destaque em "Meu ódio será tua herança" (1969), do diretor Sam Peckinpah, um épico do faroeste selvagem com muito sangue e que enfoca a ilegalidade em uma terra esquecida.
Foto: Imago/Entertainment Pictures
Variações modernas
O diretor americano Robert Anthony Rodriguez tem uma paixão pela região de fronteira, o que talvez se deva às suas raízes mexicanas. Muitos de seus filmes reproduzem o choque de culturas nesta região fronteiriça. Seu filme "Um drink no inferno", de 1996, viu Quentin Tarantino e George Clooney encenando irmãos que roubam bancos e que tentam fugir para o México.
Foto: picture-alliance/United Archives
Não há lugar para envelhecer
Ganhador de vários Oscars em 2008, entre eles o de melhor filme e direção, "Onde os fracos não têm vez" foi dirigido pelos irmãos Joel e Ethan Coen. A produção aborda as drogas, máfia, assassinatos e fraudes. O filme se passa na fronteira entre EUA e México – um lugar perigoso, onde a morte é comum e poucos envelhecem.
Foto: picture-alliance/dpa/Paramount Pictures
Ao sul de Albuquerque
Albuquerque, no Novo México, é o cenário da extremamente popular série de televisão "Breaking Bad", que foi produzida entre 2008 e 2013. Ela enfoca histórias na região envolvendo drogas. Ao sul de Albuquerque, fica a lendária fronteira entre Estados Unidos e México.
Foto: Frank Ockenfels 3/Sony Pitures
O lado obscuro do comércio
No filme "Desaparecidos" (2007), o diretor alemão Marco Kreuzpaintner escolheu contar a história de crianças mexicanas que atravessam a fronteira para os Estados Unidos como parte do tráfico de escravos sexuais. A estrela de Hollywood Kevin Kline desempenhou o papel principal.
Foto: picture-alliance/kpa
Guerra de drogas na fronteira
"Sicario: terra de ninguém" examina o impacto das guerras do narcotráfico na área de fronteira entre Arizona e México. O cineasta canadense Denis Villeneuve fez o agitado suspense em 2015, tendo Benicio del Toro no papel principal. A obra foi filmada no sul do Arizona.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Lionsgate/Richard Foreman Jr.
Filmes sobre drogas
A questão do narcotráfico parece atrair diretores de forma mágica. Em 2013, o cineasta britânico Ridley Scott filmou um suspense também nesta região fronteiriça. "O conselheiro do crime", estrelado por Brad Pitt e Michael Fassbender, foi filmado em El Paso, no Texas, e na Espanha.
Foto: picture-alliance/dpa
Crime e política
Há 17 anos, o diretor Steven Soderbergh lançou o renascimento dos filmes sobre a guerra das drogas. Em "Traffic", ele retrata a complexa relação entre polícia, traficantes e políticos – cujos laços uns com os outros estão indissociavelmente interligados para além das fronteiras geográficas.
Foto: picture-alliance/United Archives
Histórias de detetive
Além de faroestes e suspenses sobre drogas, inúmeras histórias de detetives e assassinatos misteriosos decorrem na fronteira entre EUA e México. Um clássico do gênero é o filme "O perigoso adeus" (1973), de Robert Altman, baseado em um romance de Raymond Chandler. O filme foi gravado na Califórnia, mas também em Tepoztlán, no México.
Foto: picture-alliance/United Archives/Impress
A fronteira em tempos de globalização
Em 2006, o diretor mexicano Alejandro González Iñárritu filmou o drama narrativo múltiplo "Babel". A obra traça os destinos entrelaçados de várias pessoas de diferentes regiões do mundo, e é uma parábola cinematográfica sobre a questão do significado da fronteira para as pessoas em tempos de globalização.
Foto: picture alliance/kpa
Comédia de fronteira
Não há muito o que rir quando se trata de uma fronteira. A maior parte dos filmes que lida com os laços entre EUA e México tendem à seriedade. Mas, em 2004, James L. Brooks fez a comédia "Espanglês" sobre um encontro com muito clichê entre um americano rico (Adam Sandler) e uma faxineira mexicana (Paz Vega).
Foto: picture-alliance/United Archives
Drama sobre imigração
Nos últimos anos, mais e mais filmes foram produzidos sobre imigração e pobreza na região. No ano passado, a coprodução Alemanha-França-México "Soy Nero" estreou na Berlinale. O diretor Rafi Pitts, com raízes iranianas, conta a história de um jovem mexicano que atravessa a fronteira para os EUA em busca de uma vida melhor.
Foto: picture-alliance/dpa/Neue Visionen
Um clássico moderno
Talvez o filme mais impressionante sobre a imigração do Sul para o Norte tenha sido feito por Cary Fukunaga, em 2009. "Sem identidade" retrata o destino de vários jovens do México que estão tentando chegar aos EUA. Enquanto alguns estão tentando escapar de bandos criminosos de suas cidades, outros procuram o paraíso na Terra.