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Life!

Simone de Mello25 de maio de 2007

Segunda revista da "documenta" enfoca a complexa interface entre sujeito estético e mundo, delineando possíveis esferas de atuação do artista.

Revista reúne contribuições internacionais

A segunda revista da documenta 12, recém-lançada em Berlim, compila abordagens internacionais sobre o tema "O que é a vida nua?". Enquanto a primeira das três publicações anunciadas se propôs a investigar as concepções descentralizadas de modernidade em diversas regiões, esta se ocupa de uma questão bem menos tangível: como o sujeito se situa e se inscreve no mundo.

Ao contrário do que possa parecer, o conceito de "vida nua", derivado do filósofo italiano Giorgio Agamben, não se refere a um hipotético âmbito original, possivelmente ainda intocado por codificações sócio-políticas, mas – muito pelo contrário – ao espaço altamente artificial que as estruturas de poder geram ao excluir da proteção jurídica as formas de vida que não se submetam à sua ordem.

"Vida nua" refere-se à experiência de desproteção e ao estado de ilegalidade de quem é acuado em um terreno vago, submetido a viver em estado de exceção – algo inerente ao Ocidente, como argumenta o filósofo, desde o homo sacer condenado à banição pelo direito romano até o presídio norte-americano de Guantánamo, em Cuba, passando pelos campos de concentração nazistas.

Terreno vago

A revista, uma amostra das contribuições publicadas sobre este tema numa rede de 90 publicações internacionais ligadas à documenta 12, aborda-o de forma associativa, intercalando textos teóricos com breves apreciações da obra de artistas internacionais.

Marcar alteridade delimitando bolsões dentro de determinadas ordens político-culturais é algo que encontra um contraponto lúdico, por exemplo, na incorporação da tradição visual e iconográfica ocidental em interiores domésticos orientais, como registram em suas fotografias – por exemplo – o artista chinês Hu Yang (1959) e Song Chao (1950), natural de Hong-Kong.

Corpo a corpo

O fio condutor da nudez permeia associativamente diversas obras citadas na revista, contrapondo o despido ao vestido – tanto em sentido literal como figurado. Stills de vídeos da artista belga Lili Dujouri (1941) figuram o corpo feminino em coreografias solitárias em torno da nudez. Já os auto-retratos da fotógrafa britânica Jo Spence (1934–1992) mostram o corpo afetado pela doença e longe de qualquer estetização.

O curta-metragem Da Janela do Meu Quarto (2004), do brasileiro Cao Guimarães, mostra dois corpos em combate ou em jogo, numa coreografia sensual e agressiva – conforme analisa um texto da crítica paulista Esther Hamburger. Já o artista moscovita Dmitri Gutov (1960) mostra um casal de idade disputando a bola caricaturalmente, na série de fotos Mamãe, Papai e a Liga dos Campeões.

"Nada que toque ou mude o mundo"

As contribuições reunidas na revista também esboçam os âmbitos de atuação do sujeito estético, difíceis de serem delimitados. Até que ponto a criação artística veda a realidade imediata com uma subjetividade impermeável ou deixa transpirar o mundo em suas manifestações? Obras politicamente engajadas revelam mais sobre o mundo do que a cifração solipsista de uma arte aparentemente sem outro objeto além da pura subjetividade?

Numa reflexão publicada nesta segunda revista da documenta, o teórico Leo Bersani afirma que a fantasia é "mais função de um posicionamento contingente no mundo do que função de profundidade psíquica". "Além do mais, se a fantasia for o principal âmbito da nossa conexão com o mundo, não se trata de um ato que toque ou mude o mundo. Ela representa os termos nos quais o mundo é inerente ao sujeito que fantasia, termos que podem mudar conforme muda a nossa posição no mundo."

Mais do que oferecer uma lente teórica para analisar a função do artista no mundo contemporâneo, a revista demarca territórios de investigação a serem explorados pelo visitante da exposição de Kassel, a partir de meados de junho. Mais o traçado de um enigma do que uma receita de como apreciar arte.

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