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O que é o Antropoceno?

Alistair Walsh
7 de março de 2024

Alguns cientistas afirmam que mudanças profundas impulsionadas pela atividade humana em nosso planeta abriram caminho para uma nova época geológica: o Antropoceno. Mas há quem considere isso prematuro.

Fumaça sobe das chaminés dos telhados de Praga durante o nascer do sol
Independentemente do nome da época em que nos encontramos, os seres humanos deixaram uma pegada significativa no planeta.Foto: MICHAL CIZEK/AFP/Getty Images

Cerca de 12 mil anos atrás, o término da era glacial deu início a um período geológico chamado Holoceno. Com um clima mais quente e estável, esse período criou condições favoráveis para o desenvolvimento das sociedades humanas.

O Holoceno favoreceu o surgimento da agricultura, o crescimento e declínio de grandes civilizações, além de avanços culturais e tecnológicos. Ao mesmo tempo, à medida que os seres humanos avançavam por meio de atividades como a agricultura, eles alteravam seu ambiente de uma maneira única em relação a outras espécies.

Muitos cientistas apontam que a virada deste século marcou os últimos momentos do Holoceno. Eles afirmam que, desde o final da Segunda Guerra Mundial, os seres humanos transformaram de maneira tão intensa e rápida a geologia, a paisagem, os oceanos e os ecossistemas da Terra, que isso resultou no surgimento de uma nova época geológica: o Antropoceno.

Antropoceno ou não?

Outros especialistas questionam essa conclusão. Cientistas agrupados no Grupo de Trabalho do Antropoceno tentaram, por mais de uma década, formalizar a nova época por meio de um comitê independente de especialistas da União Internacional de Ciências Geológicas.

No entanto, segundo informações do The New York Times em 5 de março, uma "grande maioria" dos aproximadamente 24 membros do comitê rejeitou uma proposta de confirmar que o Antropoceno teve início por volta de 1950. A proposta não poderá ser reconsiderada por uma década.

Aqueles que apoiam a ideia de assinalar uma nova época sugerem que o início do Antropoceno ocorreu durante a revolução industrial, quando os seres humanos começaram a queimar combustíveis fósseis e a emitir gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono.

Os períodos passados podem ser identificados pelos depósitos nesta amostra de sedimento recolhida no fundo do Lago Crawford, no Canadá.Foto: Peter Power/AFP/Getty Images

Alguns defendem que o início ocorreu nos anos 1950, quando o impacto da humanidade no planeta começou a se intensificar. Testes nucleares atmosféricos nas décadas de 1950 e 1960, por exemplo, espalharam uma camada de isótopos de plutônio, resultando em um aumento nos sedimentos - um marcador radiológico distintivo deixado pela atividade humana.

O que é uma época geológica?

A história da Terra é dividida em segmentos conhecidos como escala de tempo geológico, a qual está registrada na crosta do planeta.

Épocas geológicas, como o Cretáceo Superior, o Jurássico Médio e o Holoceno, geralmente têm uma duração de vários milhões de anos. Cada uma delas deixa marcadores significativas em camadas de rochas, incluindo composição mineral e fósseis, que refletem importantes mudanças climáticas.

Os apoiadores da designação de uma nova época afirmam que as alterações climáticas induzidas pelo homem, a poluição, os testes nucleares e a agricultura industrial estão deixando marcas geológicas que terão uma durabilidade de milhões de anos.

A palavra "Antropoceno" deriva das expressões gregas para humano (anthropo) e recente (cene). Essa terminologia ganhou destaque em 2000, quando o químico atmosférico holandês Paul J. Crutzen e o biólogo norte-americano Eugene Stoermer a popularizaram ao escreverem um breve artigo sobre o conceito

Que marcas os humanos deixaram?

A última vez que uma quantidade tão significativa de CO2 esteve na atmosfera foi há 3 milhões de anos. Altas concentrações de CO2 estão causando o aquecimento do planeta e a acidificação dos oceanos, algo que não ocorria há milhões de anos. A agricultura industrial e a urbanização transformaram paisagens, e o uso de fertilizantes aumentou os níveis de nitrogênio no solo e na água.

A emissão de CO2 na atmosfera proveniente da queima de combustíveis fósseis está alterando as condições na Terra.Foto: Ina Fassbender/AFP

A disseminação de plásticos e outros novos materiais, como o concreto, resultou na formação de uma nova camada chamada pelos cientistas de "tecnofósseis". Até mesmo os ossos de frangos de corte, cuja produção para alimentação aumentou significativamente por volta do período da Segunda Guerra Mundial, são uma possível evidência do Antropoceno.

Enquanto isso, o planeta está possivelmente passando pela sexta extinção em massa, em parte devido às mudanças no uso do solo e às alterações climáticas. A última extinção em massa ocorreu cerca de 65 milhões de anos atrás no final do período Cretáceo.

Por que isso é importante?

Épocas anteriores foram desencadeadas por eventos como impactos de meteoros, movimentos continentais e atividade vulcânica que liberou grandes quantidades de CO2 na atmosfera, cada uma deixando marcadores únicos e alterando o curso da vida no planeta. No entanto, esta seria a primeira a ser desencadeada por uma única espécie.

Embora a proposta para formalizar o Antropoceno tenha sido rejeitada, o termo já é utilizado por cientistas que o consideram um conceito útil para explicar as ameaças ambientais induzidas pela humanidade.

Além de uma designação geológica, agora tornou-se uma palavra que mostra a profunda influência que os humanos exercem sobre a Terra, seus ecossistemas e outras espécies que habitam o planeta - e que a humanidade tem o poder de tornar esse impacto mais positivo.

Desde o século 16, a ciência abandonou a ideia de colocar a humanidade no centro do universo. As descobertas de Copérnico, que mostrou que a Terra orbita o sol, e a teoria da evolução de Charles Darwin evidenciaram que os humanos não ocupam um lugar especial. Essa nova concepção recoloca a humanidade em uma posição de autodeterminação, mas, ao mesmo tempo, impõe uma nova responsabilidade à espécie humana, conforme argumentam filósofos.

 

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