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O que é o bitcoin, a moeda virtual que chegou a US$ 11 mil

Nils Zimmermann rfm
30 de novembro de 2017

No início do ano, unidade da moeda virtual valia mil dólares. No fim de novembro, passou da marca dos 11 mil. Entenda o que é, como surgiu e quais os riscos da mais popular das criptomoedas.

Imagem da moeda virtual bitcoin
Foto: Getty Images/D. Kitwood

Um antigo ditado em inglês diz: "Se se parece com um pato, se move como um pato e grasna como um pato, então provavelmente é um pato." De forma analógica, observando o gráfico de valorização do bitcoin – uma moeda virtual que usa a tecnologia ponto-a-ponto em sua rede de operações – vê-se todos os indícios de que ele se parece, se move e "grasna" como uma bolha especulativa.

No início de 2017, uma unidade custava em torno de mil dólares. Passados quase 11 meses, essa mesma unidade chegou a atingir a marca dos 11 mil dólares esta quarta-feira (29/11). Um dia depois, valia cerca de 9.800 dólares. Antes de entrar nesse frenesi, vale tentar entender o que exatamente é um bitcoin e por que seu valor é tão volátil.

As primeiras perguntas se referem à utilidade cotidiana: o bitcoin é útil para algo além da especulação financeira? Seus promotores o chamam de "moeda eletrônica", mas o bitcoin é adequado para gastos cotidianos, como compras no supermercado? É uma boa reserva de valor a longo prazo? É uma escolha sensata de investimento para quem deseja poupar para sua aposentadoria, por exemplo?

Nicholas Perrin é um estrategista e analista de sistemas da Holochain, uma empresa de especialistas em software que tenta desenvolver uma tecnologia rival à blockchain, que está por trás do bitcoin. Segundo ele, a resposta a todas essas perguntas é não. Por causa do seu design, o sistema bitcoin não é apropriado para nada além da especulação financeira.

Mineração de bitcoins

O bitcoin é a mais conhecida das dezenas de criptomoedas que surgiram como cogumelos depois da chuva nos últimos anos. Basicamente, bitcoins são moedas digitais criptografadas, criadas de forma gradual e descentralizada por milhares de computadores que rodam complicados programas de criptografia, os quais exigem uma enorme capacidade de processamento e muita eletricidade.  

O processo de criação de bitcoins, chamado de "mineração", foi deliberadamente desenvolvido para ser difícil, caro e lento, de forma que leve mais de um século para que o último bitcoin seja gerado, por volta do ano 2140. A fim de tornar os bitcoins escassos e, consequentemente, potencialmente valiosos, os criadores do software impuseram um limite fixo ao número total de unidades da moeda virtual que pode vir a ser criado: 21 milhões.

Conceitualmente, os bitcoins são, portanto, análogos às moedas de ouro. E como o ouro é um metal raro e extraído por meio de processos de mineração difíceis e onerosos, o processo computacional difícil e oneroso usado para criar bitcoins é chamado de mineração.

Por que os bitcoins são valiosos?

O "valor" dos bitcoins deriva inteiramente da narrativa que diz que essas moedas digitais de oferta limitada podem ser usadas como "dinheiro", já que elas podem ser comercializadas entre "carteiras" digitais, protegidas por senhas numéricas extremamente longas.

Mas como o valor do bitcoin é tão volátil, mudando a toda hora, Perrin argumenta que ele não é apropriado para transações comuns do dia a dia. Você compraria uma caixa de maçãs com uma moeda especial, adquirida na esperança de que seu valor dobre em breve? Ou investiria suas economias destinadas à aposentadoria numa moeda cujo valor está suscetível a mudanças bruscas, com base em sua popularidade e, consequentemente, em seu preço?

"O bitcoin sempre será vulnerável a esquemas do tipo pump and dump [fraude financeira que consiste em elevar artificialmente o valor de ações ou commodities, previamente compradas a preços reduzidos, por meio de notícias positivas para, logo em seguida, vendê-las a preços elevados], o que faz com que ela seja inútil como moeda cotidiana para pessoas comuns. O valor do bitcoin é arbitrário, basicamente determinado pelo temor de 'ficar de fora'", diz o especialista.

Blockchain: o registro de transações

As transações em bitcoin são armazenadas num enorme banco de dados eletrônico, constantemente atualizado, chamado de blockchain. Ele registra todas as transações já feitas e jamais exclui alguma delas do histórico de transações do sistema. Milhares de cópias idênticas do blockchain existem simultaneamente em inúmeros computadores, interligados em rede. O software do bitcoin garante que todas as cópias do blockchain permaneçam idênticas.

Uma característica central do blockchain é que as transações registradas por ele são ponto-a-ponto [peer-to-peer, uma arquitetura de redes de computadores em que cada um dos computadores é tanto servidor como cliente, abdicando de um servidor central]. Elas não são, portanto, mediadas por uma autoridade central regulatória, como um banco, por exemplo. A possibilidade de obter carteiras de bitcoin de forma anônima eleva a privacidade das transações – mas também o potencial para transações ilegais.

Quem desenvolveu e criou o blockchain? Ninguém sabe. O projeto parece haver sido motivado por uma ideologia libertária. Desenvolvedores anônimos lançaram o bitcoin e o sistema blockchain como um software de código aberto em 2009.

O que é uma criptomoeda?

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Não inclusivo

Um dos maiores problemas do sistema financeiro atual é falta de "inclusão financeira", ou seja, sua incapacidade de fazer com que as pessoas mais pobres tenham acesso a dinheiro, crédito, contas correntes, seguros e outros produtos financeiros. De acordo com um estudo de 2016 do Banco Mundial, cerca de 39% da população mundial, o que significa cerca de 2 bilhões de adultos, não têm conta em banco.

O bitcoin não é feito para os pobres, observa Perrin, porque os dois caminhos para se obter essa moeda virtual são inacessíveis às pessoas de baixa renda. Um deles é comprá-la através do mercado virtual, usando dinheiro de verdade. O outro é a mineração de bitcoins, que envolve uma grande quantidade de computadores especializados.

Os riscos de uma moeda virtual

O bitcoin vai ficar ainda mais caro? Vai custar cada vez mais dinheiro de verdade para comprar uma única unidade dessa criptomoeda?

Não há como prever variações de curto prazo no preço do bitcoin. Mas há motivos para suspeitar que, em longo prazo, essa moeda virtual vai perder boa parte do seu valor ou, até mesmo, não valer mais nada. Um dos motivos é a concorrência. Há um grande número de criptomoedas rivais, e algumas delas parecem ser melhor desenvolvidas do que o bitcoin. Se um outro sistema de criptomoeda chamar a atenção do público, ele poderá rapidamente tirar mercado do bitcoin, reduzindo a sua demanda e fazendo com que o valor dele caia.

Outro risco para o bitcoin é a regulação por governos. Alguns países estão tentado acabar com as criptomoedas. A China, por exemplo, baniu recentemente as ICOs, como são conhecidas as ofertas iniciais dessas moedas digitais.

Já o Japão estabeleceu regras para o comércio de bitcoins, incluindo licenças para operar. As novas normas reconhecem o bitcoin como um sistema de pagamento, mas não como uma moeda de curso forçado – ou seja, ninguém é obrigado a aceitar bitcoins e, além disso, eles não podem ser usados para o pagamento de impostos.

Ainda assim, a aura de legalidade gerada pela decisão do Japão parece ter levado muitas pessoas, especialmente nesse país, a perceber o bitcoin como um instrumento financeiro legítimo e, assim, a investir nele. Essa situação certamente foi um fator fundamental para sua rápida valorização. Mas mudanças regulatórias futuras podem, da mesma maneira, causar uma rápida queda no valor.

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