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O que é o PL, partido de Bolsonaro e da maior bancada eleita

7 de outubro de 2022

Legenda foi criada em 1985 para abrigar ex-apoiadores da ditadura e ajudou a eleger evangélicos para o Congresso. Por pragmatismo, apoiou todos os presidentes, mas filiação de Bolsonaro a deixou mais "ideológica".

Valdemar Costa Neto sentado e gesticulando
Valdemar Costa Neto comanda o PL com mão de ferro desde 2000Foto: Antonio Molina/Fotoarena/IMAGO

O Partido Liberal (PL) será a partir de janeiro uma das legendas com mais poder na Praça dos Três Poderes, em Brasília: terá a maior bancada na Câmara, a maior bancada do Senado e, se Jair Bolsonaro for reeleito, o comando da Presidência da República. Um feito para um partido cujo presidente, Valdemar Costa Neto, havia sido condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e cumprido pena por corrupção poucos anos atrás.

A filiação de Bolsonaro à legenda, em novembro de 2021, contribuiu para o fenômeno, mas não o explica inteiramente. Ao contrário do Partido Social Liberal (PSL), que era nanico antes da filiação de Bolsonaro em 2018, o PL tem uma história consolidada de atuação no Congresso e de organização do Centrão.

A legenda foi fundada em 1985, durante a redemocratização, para abrigar políticos de direita que haviam dado sustentação ao regime militar. Mas, desde o início, mostrou flexibilidade e pragmatismo para apoiar diferentes governos: esteve na base por determinados períodos de todos os presidentes da Nova República e era a legenda de José Alencar, vice-presidente nos governos do petista Luiz Inácio Lula da Silva.

A liderança de Valdemar

O PL é comandado desde 2000 com mão de ferro por Valdemar, numa modalidade conhecida como partido de pasta: os diretórios estaduais e municipais da legenda são em sua grande maioria órgãos provisórios, o que permite que o diretório nacional os dissolva facilmente em caso de divergência.

Valdemar foi um dos artífices da filiação de José Alencar para a vice-presidência de Lula, que simbolizou a aliança entre capital e trabalho da candidatura vitoriosa do petista. No embalo daquela campanha, o PL mais que dobrou sua bancada na Câmara, para 26 deputados.

Em 2005, o PL e Valdemar foram alvo das acusações de Roberto Jefferson, presidente do PTB, de que o governo Lula estava pagando a deputados em troca de apoio ao governo, o escândalo do mensalão. Valdemar renunciou ao mandato de deputado naquele ano para evitar ser cassado.

Depois, foi denunciado e condenado em 2012 pelo STF a sete anos e dez meses de prisão, quando novamente renunciou ao mandato de deputado. Ele cumpriu pena de 11 meses em regime semiaberto e um ano e meio em regime aberto, e teve a punibilidade extinta em 2016.

Devido ao desgaste provocado pelo escândalo do mensalão, Valdemar mudou o nome da legenda em 2006, para Partido Republicano (PR), mas retomou a denominação original em 2019.

Apesar da condenação, o político seguiu forte no Congresso e nas negociações entre Executivo e Legislativo. "A influência de Valdemar vai além do PL, é uma figura que se tornou central para a coordenação do Centrão", diz o cientista político Henrique Curi, autor de estudos sobre partidos conservadores no Brasil e pesquisador visitante em Harvard.

Força na frente evangélica

O PL também foi protagonista, há duas décadas, de um dos aspectos decisivos da atual campanha eleitoral: o poder de evangélicos na política.

Ele foi a primeira legenda de líderes evangélicos importantes como Marcelo Crivella, sobrinho de Edir Macedo, o fundador da Igreja Universal do Reino de Deus. Em 2006, os membros da Igreja Universal que estavam no PL deixaram a legenda para fundar a sua própria, o Partido Republicano Brasileiro (PRB), hoje Republicanos.

Mas o PL seguiu sendo a casa de muitos políticos evangélicos, como os da Assembleia de Deus, e detém a presidência e a maioria dos membros da bancada evangélica na Câmara: 41 deputados, contra 26 dos Republicanos, segundo levantamento de maio do Observatório do Legislativo Brasileiro.

A chegada de Bolsonaro

O cientista político Bruno Bolognesi, professor da Universidade Federal do Paraná e autor de estudos sobre a direita brasileira, afirma que historicamente o PL se enquadra na categoria de partido "fisiológico e clientelista", cujo funcionamento se baseia na troca de favores e de atendimento de interesses particulares, em vez de na defesa de um programa ideológico. A ida de Bolsonaro para o PL, porém, tornou o partido "mais ideologizado" do que era, além de o ter empurrado mais à direita.

A filiação de Bolsonaro também contribuiu para relativizar entre os eleitores de direita a pecha de corrupção vinculada à legenda desde o mensalão. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente, afirmou em redes sociais que Valdemar "já pagou o que tinha que pagar" e estava "zerado".

Bolognesi avalia que a opção do presidente pelo PL foi "bastante estratégica", por ser uma legenda com uma estrutura mais profissional do que a do PSL, que o aproxima mais dos evangélicos, e que ao mesmo tempo é bastante flexível e não deve impor questionamentos ao presidente.

A aproximação de Bolsonaro com o PL havia sido iniciada em 2018, quando o então candidato ao Planalto tentou atrair a legenda para sua coligação, sem sucesso. Depois de eleito, o PL aderiu ao governo e nomeou uma ministra: Flávia Arruda, na Secretaria de Governo.

Cenários para o novo governo

A maior identificação com pautas ideológicas da nova bancada do PL torna menos provável que, num eventual novo governo Lula, o partido encarne suas raízes fisiológicas e cogite apoiar a gestão petista, avalia Bolognesi. Entre os novos deputados eleitos do PL, está Nikolas Ferreira, o mais votado do país neste pleito e na história de Minas Gerais.

Ele projeta como cenário mais provável o PL se consolidar como o principal legenda de oposição ao Palácio do Planalto, enquanto luta para manter as benesses criadas pelo Congresso na atual legislatura, como as emendas de relator anabolizadas e com menor transparência.

Por sua vez, o cientista político Curi avalia que a heterogeneidade da bancada eleita do PL será posta à prova caso Lula seja eleito, e não descarta uma cenário em que um novo governo do petista tente negociar apoios pontuais com alguns parlamentares da legenda para a aprovação de projetos de lei.

Caso Bolsonaro seja reeleito, Bolognesi avalia que se torna mais provável uma fusão do Partido Progressista (PP) com o União Brasil, que seria a maior bancada da Câmara, deixando ao PL a segunda maior bancada. O partido seguiria desfrutando das benesses criadas pelo Congresso e, ao mesmo tempo, contribuiria para o encaminhamento de propostas de interesse do governo. Nessa hipótese, a probabilidade de o PL manter sua "coesão" nos próximos quatro anos será muito maior, concorda Curi.

 

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