Publicado 18 de janeiro de 2025Última atualização 22 de janeiro de 2025
Donald Trump está de volta como presidente dos Estados Unidos, mas os tempos mudaram e sua equipe também. Quais as implicações deste novo mandato para a região?
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Em 20 de janeiro de 2025, Donald Trump tomou posse como presidente dos Estados Unidos, fortalecido por um grande apoio popular e com ambas as câmaras do Congresso nas mãos dos republicanos pelos próximos dois anos.
Um Trump que sabe que este segundo mandato é o seu último e que pratica uma retórica de provocação antes mesmo de assumir o cargo, rendendo manchetes intermináveis à mídia.
Uma delas foi a declaração do recém-empossado presidente americano de que o Brasil e os demais países da América Latina são mais dependentes da economia americana do que o contrário. "Eles precisam de nós, muito mais do que nós precisamos deles. Não precisamos deles. Eles precisam de nós. Todo mundo precisa de nós", disse, em coletiva de imprensa em seu primeiro dia de governo.
"É ultrajante dizer neste momento que vai anexar o Canal do Panamá. Mas Trump diz e repete. Dizer coisas ultrajantes não é novidade, mas veremos um Trump ainda mais fortalecido, porque sua vitória é indiscutível", comenta Carolina Jiménez Sandoval, presidente do Escritório de Washington para a América Latina (WOLA).
Entre o punitivo e o transacional
Durante o primeiro mandato trumpista, a América Latina não era prioridade na agenda dos EUA, embora tenha havido ações pontuais, como na questão da Venezuela.
Um olhar para o pessoal com que ele agora se cercou sugere que as coisas poderão ser diferentes. É uma equipe diversa, que oscila entre o ideológico e o pragmático, entre o punitivismo contra autocratas e o transacionalismo em favor dos negócios.
"Acho que isso é uma coisa boa. Por um lado, há o secretário de Estado Marco Rubio, que é cubano de nascimento e muito a favor de sanções contra governos autocráticos de esquerda: Cuba, Nicarágua, Venezuela. Há também Mauricio Claver-Carone, arquiteto da estratégia de 'pressão máxima' em relação à Venezuela no primeiro mandato de Trump."
"Por outro lado, há Richard Grenell como enviado Especial para a Venezuela, que conduziu negociações diretas com Nicolás Maduro e está em contato com muitos investidores e empresários, uma pessoa que é contra sanções”, lista Chris Sabatini, pesquisador-chefe para América Latina do think tank Chatham House.
Ter um secretário de Estado hispânico com tantos vínculos com vários países da América Latina é algo inédito, mas as crises internacionais se multiplicam, e isso pode relegar novamente a região a um segundo plano.
"Reconheço que o coração de Marco Rubio está na América Latina, mas deve ter cuidado para não lhe prestar atenção demasiada, já que ele é o diplomata mais importante do país e terá que lidar com questões globais extremamente complexas", adverte Michael Shifter, professor do Centro de Estudos Latino-Americanos de Georgetown e ex-presidente do think tank Inter American Dialogue.
O mundo de 2025 certamente não é o mesmo de quatro anos atrás. "O próprio Trump acabou decepcionado com a política de 'pressão máxima', que não gerou mudanças. Agora temos a migração venezuelana querendo chegar à fronteira dos EUA e uma guerra russa na Ucrânia e outra no Oriente Médio, algo que gera preocupações no nível energético", analisa Carolina Jiménez Sandoval. Isso implica que, se Trump quiser deportar os venezuelanos por via aérea, terá que negociar com o país de origem. E se estiver interessado em continuar a exploração de concessões de petróleo na Venezuela, terá que relaxar as sanções.
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Migração, cartéis e fentanil
Um tema politicamente polêmico nos Estados Unidos é a crise de saúde causada pelo fentanil. O mesmo acontece com o crime organizado e os cartéis do México. "Trump vai pressionar muito o governo de Claudia Sheinbaum para agir", prevê Michael Shifter.
Há vozes nos EUA exigindo medidas sobre o assunto. Alguns trumpistas chegaram a falar de intervenções militares no México para destruir laboratórios de fentanil e combater cartéis, o que implicaria uma violação da soberania daquele país.
"Isso criaria uma crise hemisférica, porque o México receberia solidariedade imediata e esmagadora de outros países latino-americanos, como Brasil ou Colômbia", alerta Jiménez Sandoval. "Seria um precedente muito perigoso e abalaria seriamente o relacionamento entre EUA e América Latina".
América Latina entre Estados Unidos e China
Desde sua vitória eleitoral, Donald Trump tem repetidamente ameaçado impor tarifas sobre produtos chineses. Sua guerra comercial com o gigante asiático pode determinar suas relações com os vários países latino-americanos que mantêm laços econômicos estreitos com a China.
"Trump sabe que isso não pode ser cortado da noite para o dia, mas pode haver mais pressão e ameaças de tarifas, para que esse relacionamento não continue a se aprofundar, para tentar reduzir a presença da China nas economias da região", diz Shifter.
É nessa direção que iriam as ameaças de Mauricio Claver-Carone de sobretaxas de 60% sobre qualquer produto que passe pelo porto chinês de Chancay, no Peru. "Ameaças e pressão são as ferramentas que podemos esperar na grande competição China-EUA. Elas são as favoritas de Trump, esse é o estilo dele, mas o tiro pode sair pela culatra e aproximar essas economias ainda mais da China", alerta o especialista em assuntos latino-americanos.
O mês de janeiro em imagens
Reveja alguns dos principais acontecimentos do mês
Foto: Kenny Holston/The New York Times/AP/picture alliance
Ataque a faca deixa dois mortos no sul da Alemanha
Um homem de 41 anos e um menino de dois anos foram mortos e duas outras pessoas ficaram feridas em um ataque a faca em um parque na cidade de Aschaffenburg, no estado da Baviera, no sul da Alemanha. Um afegão de 28 anos, requerente de asilo, foi detido ao tentar escapar por trilhos de trem. A indignação com o crime pode impactar a campanha eleitoral, a um mês das eleições antecipadas. (22/01)
Foto: Ralf Hettler/dpa/picture alliance
Incêndio mata dezenas em resort de esqui na Turquia
Mais de 70 pessoas morreram e ao menos 51 outras ficaram feridas no incêndio num hotel localizado em uma popular área de esqui nas montanhas de Bolu, no noroeste na Turquia. O incêndio começou durante a madrugada no Grand Kartal, um hotel de 12 andares construído de madeira na estação de esqui de Kartalkaya, a uma altitude de 2.200 metros. (21/01)
Foto: IHA/AP/picture alliance
Trump de volta à Casa Branca
O republicano Donald Trump tomou posse em seu segundo mandato como presidente dos EUA. Em seu primeiro dia de governo, o republicano anunciou um pacote de medidas conservadoras, reverteu dezenas de decisões de seu antecessor, Joe Biden, concedeu perdão a 1.500 condenados pelo 6 de janeiro de 2021 e prometeu dar início a uma nova "era de ouro" no país. (20/01)
Foto: Julia Demaree Nikhinson/AP/dpa/picture alliance
Alívio e emoção dos primeiros reféns liberados
Doron Steinbrecher, uma das três reféns israelenses libertadas no primeiro dia de cessar-fogo entre Israel e o grupo extremista Hamas, reencontra sua mãe após 15 meses de cativeiro. Hamas também libertou Romi Gonen e Emily Damaria, dando início ao processo previsto no acordo. Em troca, cerca de 95 prisioneiros palestinos deverão ser libertados, a maioria mulheres e adolescentes. (19/01)
Foto: Israeli Army/AP/picture alliance
Milhares vão às ruas de Washington contra Trump
Dois dias antes da volta de Donald Trump à Casa Branca, milhares protestaram contra políticas anunciadas pela próxima gestão. Chamada "Marcha do Povo", a manifestação foi organizada por movimentos de defesa dos direitos civis em defesa de pautas como o acesso ao aborto, proteção climática e direitos dos imigrantes. Mais de 350 marchas semelhantes aconteceram em todo o país. (18/01)
Foto: Amanda Perobelli/REUTERS
Gabinete israelense aprova cessar-fogo em Gaza
O governo israelense aprovou o acordo de cessar-fogo e libertação de reféns em Gaza, após horas de consultas que se estenderam até a madrugada de sábado (18/01)."O governo aprovou o plano de devolução dos reféns", disse o gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em comunicado. As armas deverão ser silenciadas inicialmente por seis semanas a partir do próximo domingo. (17/01)
Foto: Koby Gideon/AFP
David Lynch, diretor de "Cidade dos sonhos", morre aos 78 anos
Conhecido por produções como "Cidade dos Sonhos", "Twin Peaks" e obras surrealistas, o renomado diretor americano acumulou quatro indicações ao Oscar durante sua carreira. Causa da morte não foi divulgada. Em 2024, ele afirmou que foi diagnosticado com enfisema pulmonar. (16/01)
Hamas e Israel chegam a acordo para encerrar conflito em Gaza
Israel e Hamas chegaram a um acordo de cessar-fogo para encerrar o conflito na Faixa de Gaza após 15 meses de combates, segundo informaram mediadores nesta quarta-feira. O texto prevê troca de reféns por prisioneiros e a retirada de militares israelenses. População foi às ruas em Gaza e em Israel para comemorar a decisão. (15/01)
Foto: Abdel Kareem Hana/AP/picture alliance
Procurador diz que havia evidências para condenar Trump
Em relatório tornado público, o procurador especial Jack Smith afirma que havia evidências suficientes para condenação do presidente eleito dos EUA por tentar anular o resultado da eleição de 2020. Parte do documento foi enviado ao Congresso pelo Departamento de Justiça – não sem que antes Trump tentasse impedir que isso acontecesse. Republicano reagiu tachando Smith de "perturbado". (14/01)
Foto: Jacquelyn Martin/AP Photo/picture alliance
Lula sanciona lei que proíbe uso de celular nas escolas
Lei restringe uso de aparelhos eletrônicos portáteis, sobretudo telefones celulares, nas salas de aula de escolas públicas e privadas em todo o país. Há exceções para uso pedagógico, sob supervisão dos professores, ou em casos excepcionais de acessibilidade ou necessidade de saúde. Medida ainda será regulamentada por decreto a tempo de entrar em vigor no início do ano letivo, em fevereiro. (13/01)
Sobe para 16 número de mortos em incêndios em Los Angeles
O número de mortos nos incêndios florestais que atingem a região de Los Angeles aumentou para 16, enquanto as equipes lutam para conter as chamas antes da chegada prevista de novas rajadas de ventos fortes capazes, potencialmente, de empurrar o fogo em direção a outras regiões da cidade. (12/01)
Foto: Jae C. Hong/AP Photo/picture alliance
Milhares protestam contra convenção da ultradireita na Alemanha
Mais de 10 mil pessoas participam de uma manifestação em uma pequena cidade do leste alemão contra a convenção nacional do partido ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD). A convenção é parte da campanha do partido para as eleições federais de 23 de fevereiro, convocada após o colapso do governo de coalizão do chanceler federal, Olaf Scholz. (11/01)
Foto: EHL Media/IMAGO
Trump é sentenciado e será 1º presidente condenado dos EUA
O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, foi sentenciado por sua condenação criminal decorrente do pagamento em dinheiro para silenciar uma atriz pornô. A penalidade, porém, não inclui multa, prisão ou liberdade condicional. O juiz aplicou ao republicano uma sentença de "dispensa incondicional", que reconhece a culpa do réu, mas não impõe uma pena específica. (10/01)
Foto: Brendan McDermid-Pool/Getty Images
"Sinceramente, estou morrendo", diz ex-presidente do Uruguai José Mujica
Mujica, de 89 anos, revelou que o câncer em seu esôfago se espalhou para o fígado e que a progressão da doença não pode mais ser interrompida. "Não posso fazer nem um tratamento bioquímico nem uma cirurgia porque meu corpo não aguenta", disse. "O que eu peço é que me deixem em paz. O guerreiro tem direito ao descanso." (09/01)
Foto: Santiago Mazzarovich/AFP
Incêndios deixam rastro de destruição na Califórnia
Incêndios florestais de enormes proporções atingiram a Califórnia e deixaram ao menos cinco mortos e dezenas de feridos. No condado de Los Angeles, cerca de 180 mil pessoas tiveram que deixar suas casas por ordem das autoridades, com as chamas consumindo uma área de 117 quilômetros quadrados. (08/01)
Foto: Ringo Chiu/REUTERS
Morre o extremista francês Jean-Marie Le Pen
Líder histórico da extrema direita francesa e pai da ultradireitista Marine Le Pen morreu aos 96 anos. Ele foi um dos fundadores do partido Frente Nacional, renomeado em 2018 para Reunião Nacional. Figura polarizadora na política francesa, Le Pen era conhecido por sua retórica inflamada contra a imigração e o multiculturalismo. (07/01)
Congresso dos EUA certifica vitória eleitoral de Trump
O Congresso dos EUA certificou Donald Trump como vencedor da eleição de 2024. A cerimônia aconteceu sem interrupções – em contraste à violência de 6 de janeiro de 2021, quando, com pelo menos aquiescência de Trump, uma multidão invadiu o Capitólio para impedir certificação de Joe Biden. Os legisladores se reuniram sob forte segurança para cumprir a data exigida pela lei eleitoral. (06/01)
Foto: Chip Somodevilla/Getty Images/AFP
Neve traz caos à Europa e aos Estados Unidos
Após um fim de ano com temperaturas relativamente amenas, nevou no Reino Unido e em outras partes da Europa. Pistas congeladas geraram transtorno nas estradas e levaram ao cancelamento de voos e fechamento de aeroportos, inclusive na Alemanha. Nos Estados Unidos, algumas áreas devem ter a pior nevasca da década. (05/01)
Foto: Danny Lawson/PA Wire/dpa/picture alliance
Trens de longa distância operados pela alemã Deutsche Bahn batem recorde de atraso
Em 2024, 37,5% dos trens de longa distância registraram atraso superior a seis minutos – a maior taxa em 21 anos. Empresa atribuiu piora no desempenho à "infraestrutura ultrapassada e sobrecarregada", obras na rede ferroviária, aumento do tráfego, falta de mão de obra e eventos climáticos extremos, mas disse trabalhar em um plano de ação para melhorar sua pontualidade. (04/01)
Foto: Sebastian Gollnow/dpa/picture alliance
Milhares de alemães assinam petição contra uso de fogos de artifício
Mais de 270 mil alemães assinaram uma petição online pedindo a proibição de fogos de artifício particulares em todo o país, após um Ano Novo marcado por cinco mortes e dezenas de feridos pelo uso incorreto dos fogos. Em várias cidades, equipes de emergência foram atingidas pelos explosivos. Em Berlim, um policial ficou gravemente ferido e precisou ser operado. (03/01)
Foto: Christian Mang/REUTERS
Multidão protesta contra prisão de presidente afastado da Coreia do Sul
Uma centena de pessoas se reuniram em Seul para protestar contra o mandado de prisão imposto ao presidente deposto da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, acusado de insurreição. Apoiadores se posicionaram em frente à residência de Yoon, que se propôs a "lutar até o fim". Agentes já se posicionam no local para cumprir a ordem judicial. (02/01)
Foto: Philip Fong/AFP
Homem atropela multidão em Nova Orleans e deixa 10 mortos
Ataque ocorreu na Bourbon Street, uma rua turística com bares e clubes noturnos. Condutor do veículo morreu em confronto com policiais e FBI investiga "ato de terrorismo". Suspeito, um cidadão americano do Texas, carregava bandeira do Estado Islâmico. (01/01)