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O que a Rússia quer com sua primeira missão lunar em décadas

Roman Goncharenko
11 de agosto de 2023

Em meio à guerra de agressão contra a Ucrânia, o país lançou a sonda Luna-25. Com projeto, Moscou busca retomar prestígio espacial perdido, após pausa de 47 anos.

Desenho de dois cosmonautas diante de estação lunar
Ilustração lunar soviética de 1966: após o sucesso das sondas da URSS, a Luna-25 quer resgatar programa espacial russoFoto: picture-alliance/dpa/Sputnik/P. Balabanov

A Rússia lançou nesta sexta-feira (11/08) sua primeira missão à Lua em quase 50 anos, visando dar um novo impulso a seu programa espacial. O lançamento do módulo Luna-25 é a primeira missão russa à Lua desde 1976, quando a União Soviética estava na vanguarda da conquista do espaço.

O foguete Soyuz, que transporta a sonda de quase 800 quilos, decolou da base espacial Vostochny, no extremo leste do país, às 02h10 (20h10 da quinta-feira em Brasília), segundo imagens transmitidas ao vivo pela agência espacial Roscosmos.

Tempo perdido

No que diz respeito às viagens espaciais, a Rússia tem ainda muito o que fazer para recuperar o tempo perdido. A última sonda espacial lançada à Lua foi a Luna-24, em 9 de agosto de 1976, ainda no período soviético. Quase 47 anos depois, a organização espacial Roskosmos envia a sonda Luna-25 ao satélite terrestre. O nome aparentemente visa demonstrar continuidade.

O que aos ouvidos russos pode soar como um regresso às glórias do passado é, na verdade, uma tentativa, várias vezes adiada, de não ficar atrás não só dos Estados Unidos, mas também de China, Índia e outros países, na nova corrida à Lua.

Em abril de 2022, cerca de dois meses após a invasão da Ucrânia, o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou que o programa lunar seria "reiniciado": a Rússia deve enfrentar com sucesso os "desafios" no espaço para que também possa se beneficiar deles na Terra, disse.

Com isso, o chefe do Kremlin se referia ao projeto Luna-25. Um programa lunar de grande escala como nos tempos soviéticos, só existia até agora como uma declaração de intenções.

Sonda soviética Luna-17, que pousou na Lua em 1970Foto: Straube/akg-images/picture alliance

A União Soviética teve um sucesso moderado na Lua: ela enviou 24 sondas à Lua desde 1959 para coletar amostras de solo, mas perdeu na corrida contra o arquirrival EUA para colocar humanos primeiro na órbita lunar e, depois, na superfície. Falhas na construção de um foguete lunar acarretaram a suspensão do programa na década de 1970.

Objetivo da missão Luna-25

Sob Putin, os trabalhos para uma nova sonda lunar foram retomados em meados dos anos 2000. Inicialmente denominado Luna-Glob, p projeto foi rebatizado Luna-25 em 2013.

A Agência Espacial Europeia (ESA) era parceira, mas desistiu após a invasão da Ucrânia. O desenvolvimento da sonda espacial foi significativamente mais lento do que o planejado, problemas técnicos exigiram revisões e vários atrasos no lançamento.

O plano é que a viagem da sonda do local de lançamento no cosmódromo Vostochny, no extremo leste da Rússia, até a superfície da Lua leve menos de uma semana. Diferentemente das sondas espaciais soviéticas, a Luna-25 não pousará no equador lunar, mas no menos explorado polo sul.

Suspeita-se que haja gelo no solo naquela região, que poderia ser usado em futuras missões tripuladas – por exemplo, como fonte de água potável e combustível. A missão da Luna-25 deve durar cerca de um ano. As amostras de solo serão coletadas com ajuda de um braço de pinça, analisadas, e os resultados, transmitidos à Terra,  de acordo com o plano da Roskosmos.

Mais tarde, a Rússia pretende enviar várias outras sondas para a Lua,  primeiro para a órbita, depois à superfície do satélite, com brocas a bordo. No entanto, os lançamentos dessas missões foram adiados. A Luna-26 não deve ser lançada em 2024, mas apenas três anos depois.

Estação espacial própria, cooperação com China

A Rússia é uma das três principais potências em voos espaciais tripulados, junto com os EUA e a China, mas se beneficia principalmente da herança soviética. Quase não há novidades. Em termos de satélites, exploração de outros planetas e do universo como um todo, o país foi superado, sobretudo pelos Estados Unidos.

Base espacial Vostochny, no extremo oriente da RússiaFoto: picture-alliance/dpa/S. Mamontov

Como os EUA e a China, a Rússia planeja enviar tripulantes à Lua. No entanto, a data de lançamento tem sido seguidamente adiada. Atualmente menciona-se o ano de 2030, mas parece improvável que a data seja mantida.

A Rússia atualmente não dispõe de um foguete lunar nem de uma espaçonave para esse fim, os projetos só existem no papel. A guerra na Ucrânia provavelmente tornará a implementação ainda mais difícil.

Já os EUA planejam retomar os voos tripulados à Lua, provavelmente em 2024-2025. O programa Artemis está em fase final. Poucos anos depois, a China também quer lançar voos tripulados ao satélite terrestre.

Está claro que a Rússia quer construir sua própria estação espacial, após o fim das operações da Estação Espacial Internacional (ISS). O trabalho preliminar para isso tem começo programado para 2024. É possível que a Rússia continue a operar a ISS junto com outras nações ao mesmo tempo que projeta sua própria estação espacial. O setor espacial é um dos poucos em que Moscou ainda coopera com o Ocidente.

Sonda Luna-25 durante os preparativos para o lançamentoFoto: Roscosmos/REUTERS

Mas mesmo antes do ataque à Ucrânia, havia sinais de distanciamento entre a Rússia e o Ocidente sobre a cooperação no espaço. Em 2021, os russos anunciaram sua saída do projeto Deep Space Gateway, liderado pelos EUA, que prevê a construção de uma estação espacial em órbita lunar.

Em vez de trabalhar com o Ocidente, o país está cooperando cada vez mais de perto com a China, inclusive nas viagens espaciais. Entre outras coisas, está planejado até 2035 um assentamento sino-russo na Lua.