O que afinal é biodiversidade e por que ela é tão importante
Publicado 8 de dezembro de 2022Última atualização 22 de maio de 2024Biodiversidade define a diversidade biológica e genética de todos os seres vivos e ecossistemas do nosso planeta. Os seres vivos incluem mamíferos e plantas, bem como fungos e microrganismos no solo. Os ecossistemas são tão diferenciados quanto a Antártica, a floresta tropical, o Saara, os manguezais, a selva de faias vermelhas da Europa Central ou as várias regiões marítimas e costeiras do mundo.
Esses habitats abastecem o ser humano com um sem-número de coisas essenciais para viver, como água, comida, ar puro ou medicamentos. Ou seja, os ecossistemas prestam os chamados serviços ecossistêmicos − e estes também dependem da interação da biodiversidade. Se elementos individuais forem perdidos, por exemplo, porque espécies estão morrendo, no pior dos casos, também perderemos esse préstimo da natureza.
Como nossa vida depende do meio ambiente
Em outras palavras: sem algas ou árvores, não há oxigênio. Sem insetos para polinizar as plantas, dificilmente conseguiríamos colher alguma coisa, pois mais de dois terços de todas as culturas, incluindo muitos tipos de frutas e legumes, café e cacau, dependem de polinizadores naturais, como insetos. Mas um terço das espécies de insetos em todo o mundo já está ameaçado de extinção.
Embora não possamos sobreviver sem esses serviços da natureza, na maioria das vezes os consideramos óbvios, diz Dave Hole. O especialista em genética ecológica é coautor de um novo estudo para a organização ambiental Conservation International, que lida com serviços ecossistêmicos.
Segundo ele, até 70% das colheitas globais dependem direta ou indiretamente de pôlderes e manguezais intactos, em parte porque eles protegem as áreas cultivadas contra inundações. "Em geral, quando comemos uma tigela de cereais pela manhã, não pensamos muito sobre o que a natureza fez para que pudéssemos comer esses cereais", disse Hole à DW.
Biodiversidade global extremamente ameaçada
O Conselho Mundial de Biodiversidade da ONU (IPBES) estima que existam pelo menos 8 milhões de espécies. Mas, até 2030, até um milhão poderá se extinguir para sempre. A perda de biodiversidade já atingiu proporções extremas – uma espécie morre a cada dez minutos. Segundo a ciência, estamos no meio da sexta extinção global em massa de espécies.
Somente na Alemanha, o número de insetos voadores diminuiu 75% entre 2008 e 2017. Segundo o IPBES, a população de mamíferos selvagens caiu 82% em todo o mundo. Segundo um estudo da organização ambiental WWF, o número de espécies animais e vegetais que vivem em água doce diminuiu 83% em todo o mundo nos últimos 50 anos, chegando a 94% nas Américas Central e do Sul.
E, de acordo com Hole, a perda de diversidade biológica está acontecendo em uma velocidade vertiginosa – e essa velocidade está até acelerando.
Em torno de 30% das espécies de plantas e animais catalogadas pelos biólogos estão ameaçadas de extinção por riscos como a falta de alimentos causada pela destruição de seus habitats pelos humanos, envenenamento com pesticidas ou pela caça por lucro ou diversão.
A última vez que a Terra enfrentou uma extinção em massa da flora e da fauna tão rápida foi há 66 milhões de anos, quando um meteoro enorme atingiu o planeta. O impacto pôs fim à era dos dinossauros e eliminou 75% de todas as espécies da Terra.
Na época geológica chamada por alguns de Antropoceno, os humanos são o asteroide. A taxa anual de extinção natural é de dez a 100 espécies por ano. A atividade humana eleva esse número para cerca de 27 mil por ano. Só o desmatamento da Amazônia, reserva de biodiversidade que abriga entre 15% e 20% da flora e fauna de todo o planeta, poderia resultar no desaparecimento de 10 mil espécies no Brasil.
A responsabilidade do ser humano
É consenso entre cientistas que, devido à agricultura, impermeabilização de solos, desmatamento, pesca excessiva, introdução de toxinas na natureza e disseminação de espécies invasoras por humanos, a taxa de extinção é agora até 100 vezes maior do que seria sem influência humana.
Elizabeth Maruma Mrema, secretária executiva da Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica (CDB), deixou bem claro na entrevista à DW: "As ações humanas levaram à degradação de 97% da biodiversidade global".
Os números listados pela chefe da CBD são assustadores. Assim, 75% da área terrestre e 66% dos oceanos estão danificados, 58% das charnecas estão ameaçadas ou já desapareceram e metade de todos os recifes de coral já morreu. Sendo que estes números nem consideram o lixo plástico acumulado no planeta, enfatiza Mrema.
Perda da biodiversidade ameaça a humanidade
"A perda progressiva de nosso capital natural representa o maior perigo para toda a humanidade", adverte Klement Tockner, diretor-geral da sociedade científica alemã Senckenberg e professor de ciências do ecossistema. "O que se perdeu uma vez, está perdido para sempre", assinala.
Se uma espécie desaparece de um ecossistema, ele não entra imediatamente em colapso completo, mas muda. "Quanto mais as espécies forem reduzidas, mais suscetível o sistema se torna a interferências", explica Andrea Perino, do Centro Alemão de Pesquisa em Biodiversidade Integrativa (iDiv) da Universidade de Halle-Jena-Leipzig.
Da mesma forma como acontece com o clima, há os chamados pontos de inflexão nos ecossistemas, onde podem ocorrer eventos que resultam em desenvolvimentos imparáveis, de acordo com Dave Hole. Um exemplo disso é a floresta tropical na região amazônica. Depois que a floresta foi extremamente desmatada, a parte restante está se recuperando cada vez menos. E isso, por sua vez, aumenta o risco de que toda a floresta tropical morra.
Florestas tropicais como a da Amazônia abrigam cerca de dois terços de todas as espécies conhecidas no mundo e são extremamente importantes para o clima global.
A proteção é do nosso interesse
Sem medidas firmes para impedir a perda da diversidade biológica, a base natural da vida humana será perdida em um ritmo sem precedentes − com consequências de longo prazo para quase todas as áreas da vida no planeta.
Cinquenta por cento da produção econômica global dependem diretamente da natureza, diz Mrema. "Destruímos a natureza, embora nossa renda, nossa alimentação, nossa saúde e o ar que respiramos dependam dela."