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O que ainda resta a um presidente fraco?

Retrato de Magna Inácio, cientista política e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Magna Inácio
9 de setembro de 2022

O Bolsonaro que chegou ao palanque no 7 de Setembro é um presidente que se construiu fraco ao longo do mandato. A rejeição de metade dos eleitores ao candidato à reeleição dá a estatura de sua fragilidade.

"Bolsonaro fechou porta atrás de porta desde 2019 e desperdiçou a lua-de-mel com o Congresso"Foto: Andre Penner/AP/dpa/picture alliance

Duzentos anos da Independência do Brasil: momento singular e excepcional para qualquer estadista à frente da festa pretensamente cívica.

Mas, longe disso, o que se viu foi o presidente converter a celebração em atos eleitorais, aos sons e gritos do que lhe restou de apoiadores. Obviamente, o presidente-candidato cruzou várias linhas nas comemorações do 7 de Setembro. Recorreu, abusivamente, a recursos públicos para fazer campanha e demonstrar força política na sua cruzada pela reeleição.

Não surpreende. O presidente nunca compreendeu o sentido da posição que ocupa e o decoro que ela exige. Vê o seu lugar na política sob uma lógica expropriatória, como foi ao longo da sua carreira parlamentar e desde o seu primeiro dia na Presidência. "Passar a boiada", "não sou coveiro", "comprem suas armas! Isso também está na Bíblia...", "não vou cumprir (decisão do STF)" foram manifestações emblemáticas dessa lógica desapropriadora da coalizão no governo desde 2019.

Bolsonaro, um presidente fraco

Logo, o 7 de Setembro e os abusos do chefe do Executivo não são obra de um candidato débil, mas de um presidente fraco. Mas esse não é um lugar que o presidencialismo, em geral, reserva aos seus líderes. Com todos os poderes institucionais que conta, o presidente no Brasil é capaz de forjar escolhas que o tornem ator pivotal no governo e na sucessão presidencial.

Não foi o que vimos ao longo dos últimos três anos e meio. Bolsonaro fechou porta atrás de porta desde 2019. Desperdiçou a lua-de-mel com o Congresso, só viu na pandemia a oportunidade de radicalizar sua retórica contra instituições e atores políticos e, presidente minoritário, preferiu uma espiral de mudanças ministeriais que, longe de ampliar a sua coalizão política, o fez retornar às suas origens, a "velha política".

O Bolsonaro que chegou ao palanque em 7 de setembro deste ano é o presidente que se construiu fraco ao longo do mandato. Não é, certamente, um pato manco, expressão reservada aos presidentes que se mostram irrelevantes nas disputas, a despeito da posição institucional e dos poderes do cargo. A resiliente segunda posição de Bolsonaro ao longo dessa campanha, com 31% das intenções a um mês do pleito, segundo pesquisa do Ipec, sinaliza competitividade eleitoral. Mas a rejeição do candidato Bolsonaro entre quase metade dos eleitores (49%), mesmo após a ostensiva política distributiva para fins eleitorais,viabilizada pela Emenda Constitucional 123, dá a estatura da fragilidade do presidente.

Fragilidade explica dinâmica da disputa presidencial

Uma fragilidade que nos ajuda a entender não só o que foram os palanques do 7 de Setembro, mas também a dinâmica da disputa presidencial em curso. A estabilidade das intenções de voto já é a marca destaeleição. É inegável que esse resultado tem o mérito de Bolsonaro.

A estabilidade do quadro eleitoral cristaliza uma coalizão de veto ao presidente e ao seu governo que, democraticamente, espera as urnas para mostrar a sua força. Esse tipo de coalizão tem se tornado mais frequente em contextos de crises em camada, como a que marca o Brasil nos últimos anos. Talvez seja este o desafio desses tempos: entender como essas coalizões que se formam não em favor de algo, mas contra o que se entende por indesejável, realizam o potencial da democracia.

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Planaltices é uma coluna semanal sobre política brasileira. Os textos são escritos por colaboradores do grupo de pesquisa PEX (Executives, presidents and cabinet politics), vinculado ao Centro de Estudos Legislativos (CEL) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Coordenada pela cientista política e professora da UFMG Magna Inácio, a coluna é publicada simultaneamente pela DW Brasil e repercutida no blog do PEX

O texto reflete a opinião da autora, não necessariamente a da DW.

Magna Inácio Cientista política e professora da UFMG e coordenadora da coluna Planaltices.
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Esta coluna é uma parceria da DW Brasil com o PEX, núcleo de estudos sobre presidencialismo institucional da UFMG e capitaneado por Magna Inácio.

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